quarta-feira, 26 de junho de 2019

Não há como disfarçar


Tentei por várias vezes, alisar a folha de papel amassado. Procurando encontrar nele as frases que escreveras, afinal não fazia mais que tentar apagar as rugas que marcam a exposição da pele ao tempo de vida. As palavras falam como passado, podem ficar escondidas nos vincos do papel caído no caixote do lixo. Aqueles vincos que tenho em cima de mim, podem ser amenizadas, mas não desaparecem e o botox não será solução. Seria um desperdício, os vincos seriam disfarçados, no entanto, continuaria um inchaço mais velho que a pele enrugada, seria algo como um bêbado colocando pó de arroz no nariz vermelho, que não conseguiria matar o tempo e as suas marcas.
Desde sempre pensei e penso, que a melhor forma de enfrentar a idade é trabalhando o corpo e a memória. Para o corpo fazendo exercício físico, para a memória fazendo exercício de leitura e raciocínio permanentes, mesmo sabendo que, neste último, se pode correr o risco de disfarçar a doença de Alzheimer, pois perante as dificuldades, que entendemos como cansaço da idade, vamos escamoteando aos olhares comuns a doença galopante. Assim pensando, deixei de querer disfarçar as rugas, ou de desfazer os vincos no papel para ler as palavras que escreveste em outro tempo, umas e outras não trariam solução ao problema, a seguir ao sessenta e nove, existe o setenta e não há como fugir. Carpe diem.


dc

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