Ela falava adivinhando
pensamentos. Um dia conhecera-o, mais de perto e com alguma intimidade, mas
assustou-se com o que descobriu e fugiu. Prendeu o olhar debaixo dos óculos
escuros que dominavam o rosto. Os lábios tinham perdido o sorriso e ficaram
presos a uma linha inexpressiva. Ele ficou retido na paragem que a viu partir,
sem ter a inteligência e sabedoria para desvendar a origem do acontecido.
Talvez ela pensasse que ele seria o príncipe encantado, surgido do beijo, mas
na realidade a magia não aconteceu, continuou sapo fora da história. Anos mais
tarde, se confessou, sorrindo na serenidade dos dias, só, vivendo no seu
timing, amando o mar, e o sol que não traía as suas expectativas, trazendo-lhe
vida e alegria, mesmo quando as nuvens o mascaravam. Ela adorava acordar com o
sol e o seu adormecer vermelho, quente, enchendo o céu repousando sobre o mar,
abrindo a porta à lua que chegava. Adorava adormecer com a lua beijando-lhe o
corpo e a brisa fresca que o sossegava. O outro não era o príncipe, mas não
ficou sapo para sempre, era agora uma referência amiga com o qual as falas e a
liberdade se expressavam, mantendo aberta a porta às histórias dos dias. Longa
era distância, perto a apreciação do mar e o sol que a ambos fazia feliz.
dc
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