Surgiu, quase do nada, exigindo atenção. Adentrou na sua vida como se dono e senhor do espaço, como se tivesse direitos conquistados, estabelecendo-se prioridade dentro do seu mundo. Para quê medir consequências? Mergulhou a fundo, quando ele veio ao seu encontro, mostrando-lhe o sorriso, a doçura da boca, manifestando o desejo sem calar a voz, marcando o ritmo das coisas, oferecendo-se, ao seu corpo há muito parado de emoções. Há muito se perdia nos seus escritos, nos rascunhos que nunca voltava a ler, nas pinturas que acabavam guardadas perdidas de outros olhares. Com ele fugia da cidade. Convidava-o a passear num dos seus lugares preferidos, onde existia um espelho de água, onde poderia ver o reflexo, do rosto que não o seu, como se um sonho os juntasse. Arriscava descobrir naqueles momentos, algo mais do que um corpo, mais do que a luz do sol, mais além da quietude das águas e dos barcos ancorados. Na esplanada da Ria, vogando no seu olhar, levava longe a imaginação, perspectivando para além do agora, enquanto o café quente e o pastel de nata não chegavam, para a celebração dum ritual, muito próprio. Rapidamente afastava as perguntas que chegavam à sua mente, temendo as respostas que poderiam afasta-la dele. Uma coisa sabia. Ele dera um safanão na sua rotina, na sua estrutura, e queria aproveitar o quanto possível, deixando-se ir, no enlevo e nas emoções, tão soterradas nos confins da memória. Avançou firme com a irracionalidade que as coisas do coração por vezes alimentam e que desde o primeiro dia dos seus encontros foram donas de si. Para quê avaliar o risco se lhe sabia tão bem? Era preferível viver intensamente um pequeno romance de que viver na paz podre à espera das certezas. Tudo o que começa, tem um fim, importante é viver e prolongar a jornada, para que o fim aconteça como um novo recomeço.
dc
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