O vento forte adejava as
bandeiras, azul, dourada e branca, designando as qualificações da praia. Deitado,
de costas para o sol, numa duna próxima da rebentação do mar, esparramava-se na
toalha colocada sobre areia e se esmaecia com o calor do sol. Ali, só uma leve
brisa corria. O ruído do mar, que à duna chegava, trazia como música de fundo o
piar agitado das gaivotas e o vozear das pessoas da praia, embalando-o no berço
macio da inconsciência. Sentia o calor adentrando, no seu corpo, num prazer indecifrável,
que o deixava incapaz de se mexer. Subitamente uma gargalhada cristalina,
rompeu o ar envolvente, indo até ao mais fundo de si e o fez levantar a cabeça,
curioso de saber, a origem. Uma jovem mulher, rosto de linhas suaves, cabelo
preto e curto, corpo esbelto e moreno, precariamente tapado, por um biquíni preto,
destacava-se na orla do mar, onde fazia corridas curtas, recuando, ou
avançando, em volteios, brincando com ondas que se desfaziam no areal. Parecia
uma criança, chegada do interior, vendo pela primeira vez o mar. Além dos
atributos físicos, que despertavam a sua atenção, havia toda aquela alegria
surpreendente. A sua gargalhada, foi um canto de sereia que o tirara da
letargia. Foi uma resposta a uma pergunta que não fora formulada, e precisava
ser encontrada. Há quanto tempo, não sentia tal jovialidade, que o fizesse
capaz de fazer coisas inesperadas, como tocar às campainhas das portas e fugir,
ou andar de baloiço. Um gesto infantil, como aquele que vira, que lhe
retirasse do rosto a sisudez, quebrasse as rotinas e desse fluidez à
criatividade, para bem da sanidade mental. Talvez se isso acontecesse, a sua
timidez deixaria de ser um travão, ao relacionamento com as pessoas e
facilitasse o caminho para uma ética de convivência, e, gazua para conversas
frutuosas, prontas para libertar os sentimentos engaiolados. Quem sabe..
dc
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