Aparecem, em pequenas gotas, na base dos olhos, é uma
reacção, de extrema sensibilidade, aos estímulos exteriores que vão chegando, elas
são o reflexo do peso que a idade começa a ter, cada dia que passa. Daí, se vai
fechando, fugindo do conflito, da dor que dilacera a carne por dentro, para que
a fraqueza não se assuma, mesmo quando decorre em causa alheia. Foge da
embriaguez do jogo envolvente. Isola-se. Não permite o contágio dos outros
sobre si próprio, acumulando mais dores e sofrimento, ao que já é o seu. A sua
face, é um registo bem marcado dos anos, que nem sempre tiveram os melhores
dias. Puseram-lhe, um rótulo, baseado na idade, esqueceram-se dos seus desejos
e vontades. Procura, manter-se à parte dos outros, sejam amigos, ou filhos, que
tentam comandar seu destino, julgando-o, pela data do calendário, não pela sua
capacidade física e mental, muito menos pela sua independência, alegria de
viver, e resistir ao fim anunciado. Eles nem imaginam quanta capacidade, física
e mental; o quanto procura, mais saber, mais conhecimento, e disponibilidade de
amar, desde que seja a causa certa, a pessoa certa, no momento certo, em que as
dúvidas não existam e que o passado, que não acrescenta, seja só experiência reduzida
a uma marca ténue, sem afectar o presente. Deixem-me viver, é o grito
silencioso, sem rótulos de calendário, ou frases feitas, perante aqueles que se
sentem actualizados e jovens, porque dominam as novas tecnologias, e vivem
amarrados a um objecto de comunicação, em online permanente, que os isola e
deixa à margem do mundo dos humanos.
dc
Gracinda Ferreira
ResponderEliminarÉ verdade, chega um momento, nesta sociedade de rótulos na qual vivemos, que somos preteridos por já termos percorrido muito tempo nos calendários. Nesse julgamento infundado, se esquecem de que, para além dos dias vividos, dentro de cada pessoa que envelhece, permanece uma juventude interior que jamais morre e é ela que nos permite tantas coisas, como se apaixonar, amar, se aventurar, procurar conhecimento, desfrutar de uma manhã ou anoitecer... todos, que não partem cedo, vão experimentar um dia o sabor do envelhecimento... Carpe diem!!!! Sempre!!! 🙂