segunda-feira, 22 de julho de 2013

AS BOTAS

 

Olhei-as atentamente, enquanto pensava nos milhares de quilómetros percorridos com elas, Não somente calçadas para enfeitarem os pés, ou para dizer que não estava descalço, mas calcorreando estradas, caminhos de terra, vielas, subindo e descendo montes e escadas, ou frequentando lugares diversos, de gentes diferentes, sem que alguma vez sentisse desconforto, ou as achasse menos adequadas ao momento.

Feitas de calfe, a famosa pele de vitela, Suaves ao tacto, quando calçadas funcionam como uma luva para os pés, e são perfeitamente adequadas às exigências de quem com elas caminha as sete partidas do mundo.

Estas minhas amigas teriam muitas estórias para contar, caso falassem, por cada vinco ou esmurradela que têm, por cada vez que foram engraxadas, por cada vez que atravessaram ribeiros, poças de água, ou lameiros, por cada vez que a lama se incrustou nos interstícios dos pontos que cosem a sola à sua pele, Todas elas múltiplas razões da sua existência na minha vida, onde o seu papel foi preponderante para não desistir das missões de que muitas vezes fora incumbido.

Sempre as adorei, Tinha um prazer enorme quando me sentava na beira da cama e as tirava, sem que sentisse o tal cheiro incomodativo, que por norma os pés exalam, depois de muitas horas ali enfiados em espaço tão exíguo e apertado, O acto de as descalçar e as colocar aos pés da cama funcionava como um ritual, no qual os meus pensamentos iam percorrendo, como se escrevessem um diário, todos os espaços percorridos e a forma agradável como que elas me protegiam e quão grato lhes estava.


Nunca pensei ter tanto a dizer sobre as minhas queridas botas, mas isto é somente a forma de glorificar a sua existência, a sua qualidade e o meu agradecimento aos homens que ainda as vão produzindo com o mesmo amor com que as a calço.

DC

PS.Não eram propriamente estas botas que a imagem revela, mas umas outras compradas no meio de uma longa viagem, onde atravessei vários países, e que só as deixei quando estavam de tal forma intratáveis que já não se podiam usar


segunda-feira, 15 de julho de 2013

os LÁBIOS e as CEREJAS



Um dia beijei teus lábios
vermelhos e doces como cerejas
E senti o prazer da polpa carnuda
que os desenhava
como as cerejas
e senti a humidade da tua boca
como suco das cerejas
deixando-me de faces vermelhas
como as cerejas
pela timidez do amor que em ti vivia
e fazia de nós um par, um brinco
como as cerejas
que decorava o nosso amor
e os nosso rostos como a frescura
das cerejas acabadas de colher.
Fomos nós e as cerejas
naquele fim de tarde
elas as cerejas
numa taça de água com gelo
enquanto nós, nos saboreávamos
com desvelo com o mesmo prazer
com que devorávamos as cerejas.

DC


domingo, 14 de julho de 2013

É O FIM DA MACACADA





É possível que sorriam se disser que andei a procurar macaquinhos no sótão, mas têm de acreditar que seria pior, dizer que andei a procurar crocodilos, estes precisam de água e no sótão não sobreviveriam, É verdade, procurei os bichinhos durante horas para ver se encontrava a razão de eles me encherem o sótão com as suas macacadas. Tenho certeza que são eles que fazem os filmes que me aparecem no sótão, Suspeito quem seja o realizador de tal aventura, quais os figurantes, e as várias estrelas principais. Algumas delas com muita sabedoria, outras com figuras a condizer, com o melhor que há as estrelas de cinema, Cinema de Macacos. Como por exemplo o Macaco Selva e O Macaco Poelho.

Os primatas são os antepassados desta nova geração, por sinal, bem menos peluda, e muito mais actualizada. Os “novos macacos” governam os macacos da raça humanóide que se afiguram seres pensantes, com sensibilidade e inteligência evoluída, quando ouço isto, ou leio, até costumo dizer “é o fim da macacada”. Sim “é o fim da macacada”, porque afinal tem-se verificado não terem sensibilidade nenhuma, são egoístas, e a inteligência deles é permanentemente usada para se lixarem uns aos outros, o que de facto não abona a seu favor como seres superiores.

Procurava encontrar no sótão, as razões das macacadas, que nos dias de hoje se desenrolam nas diferentes sociedades, e como os diferentes macacos vivem no meio desta macacada toda. Algumas razões encontrei, Hoje em dia é difícil falar e conversar, ou sequer espetar o dedo e dizer o nome dos macacos responsáveis sobre a macacada que gere a sociedade da Macacada Humana pois corre-se o risco de ir preso, ou ir para o Jardim Zoológico pentear macacos, com a agravante de os macacos residentes, que já lá estão há uns bons anos, se sintam incomodados pela presença de macacos humanos que foram à depilação e aparecem com cheiros estranhos. Alguns até, chamados de metrosexuais, que são um tipo de macacos, ainda menos peludos que os outros, a cheirar a água de rosas.

Os macacos que gerem a sociedade dos macacos humanos, não permitem que nós os acusemos de serem uns Macacos, quando abusam do paradigma, para nos fazerem repetir as mesmas asneiras que se fazem ao longo de centenas de anos, obedecendo a um qualquer macaco.

Havia toda razão em procurar macacos no sótão, pois custa acreditar que alguns macacos considerados fiéis à maioria da macacada, quando se encontram senhores da árvore ou da plantação das bananas, fazem de um país à beira mar plantado a República das Bananas, o que para mim, que procurei horas a fio macacos no sótão volte repetir que “Isto é o fim da macacada” e pensar que temos de inverter as coisas mandando os chefes da macacada, para o Tarrafal, isto é se os Tarrafelenses os aceitarem, pois lembrando-se das suas macacadas colonizadoras talvez não gostem muito.

O sótão continua com algumas macacadas a incomodar, mas começa a aparecer um ruído de fundo que talvez ponha em sentido os Macacos que mandam, Até lá, para me não distrair com o que aí vem, fechei o sotão para obras. Ainda pensei em alugá-lo, mas não quero prejudicar ninguém.


DC

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Sala de Visitas da CIdade



Aqui, caminhando por entre a frescura das árvores, fui elaborando sonhos, sentindo o perfume das plantas e a alegria do sol brincando com as sombras. 

Jardins de Serralves, para além da riqueza do seu Museu de Arte Moderna, é um lugar de memórias e conforto sereno dos sentidos.




terça-feira, 9 de julho de 2013

ENIGMA


Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma
Anónimo

Momentos de felicidade, são como as pausas na tortura feitas pelo torturador, Cada intervalo é um momento único.
DC

sábado, 6 de julho de 2013

Ao FRANCISCO




O teu pai colocou-te um diminutivo que eu não ligo, para mim és o Francisco nome de homem, os nomes abreviados são mimalhice que eu não aprecio. O mimo está na forma como nós gostamos e intensidade que colocamos nesse gostar.

Sabes uma coisa pequenote, não encontro as palavras certas para te falar, mas vou tentar deixar um registo do que eu penso.
Hoje depois de observar o teu rosto e a forma afincada com que rabiscavas no papel, achei que tinha chegado a altura de escrever, e te dizer que embora não convivendo tão perto contigo, como seria meu desejo, GOSTO mesmo de ti, Não por seres criança, eu adoro crianças, mas por seres quem és e como és.

Levei-te em ombros passeando na beirada do rio Douro, enquanto conversava com teu pai, passeamos uma outra vez no jardim, brincando e sorrindo, Uma ou outra vez em momentos de família onde todos te querem prodigalizar com o seu gostar.
De algum modo, quando te vejo, relembro, como tu hoje és mimado pelo teu pai, também ele sobrinho, que foi muito mimado por tios e avós.

Olho para ti miúdo e sinto a ternura a encher-me o peito, nesse calor da tua inocência, com esses teus cabelitos encaracolados, a serenidade que emanas e que espero nunca percas, porque não são marca da tua família de origem, mas que a ti fica tão bem.

Vejo-te meu sobrinho neto, não na partilha física assídua, mas como um fã que te segue nas mensagens do “Dário de um Pai em Construção” e rouba as fotografias para sua colecção privada.

Sabes puto adoro-te, és de facto um “neto”, a quem apetece dizer presente aconchegando, abraçando, agarrando o teu sorriso, No encorrilhar da testa de estranheza, e na forma calma, repito calma com que encaras tudo o que à tua volta se desenrola, como se a vida, que do exterior chega à tua mente, estivesse registada no teu ADN, e acima de tudo porque o teu sorriso tem a dimensão do mundo.

DC