segunda-feira, 2 de setembro de 2013

ARRANHO SEmpre..



...... umas frases e fico estarrecido porque elas levaram parte de mim, Tento que elas falem de outros escondendo-me em adjectivos, substantivos e questões gramaticais, para ficarem pela neutralidade dos meus sentimentos, No entanto, depois de escritas, ao lê-las não consigo que elas sejam dos outros, Agarram-se me na pele, penetram-me os ossos e fico mirrando por dentro com medo de voltar a arranhar uma ou duas palavras, que eu gostaria dos outros falassem, Será universalidade das emoções, da linguagem, ou em mim o defeito de não conseguir simplesmente a neutralidade das frases fáceis em português absolutamente correcto?

Como diz Jorge de Sena, abusarei do analfabetismo?

DC
A diferença que há

Jorge de Sena

A diferença que há entre os estudiosos e os poetas
é que aqueles passam a vida inteira com o nariz num assunto
a ver se conseguem decifrá-lo, e estes
abrem um livro, lêem três páginas, farejam as restantes
[nem sequer todas] e sabem logo do assunto
o que os outros não conseguiram saber. Por isso é que
os estudiosos têm raiva dos poetas,
capazes de ler tudo sem ter lido nada
[e eles não leram nada tendo lido tudo].
O mal está em haver poetas que abusam do analfabetismo,
e desacreditam a gaya scienza.


domingo, 1 de setembro de 2013

ELOS DE UMA CORRENTE




Elos
Desgaste
Vida
Ferro
Ferrugem
Tempo
Intempérie
Mar
Corrente
Gente
Força
Tracção

Pedaço
Estaleiro
Barco
Aço
Marinheiro
Espaço
Convés
Água
Marés
Ondas

Coragem
Medo
Ancoragem
Navegar
Sextante
Navegante
Descobertas
Memória
Glória
Pátria
Povo

Tudo sugere uma corrente
Surgida à minha frente

DC

sábado, 31 de agosto de 2013

Um ABRAÇO....




...... de amor
Um abraço de amizade
Um abraço de calor
Um abraço de saudade
Um abraço de chamego..

Nem sempre abraços
Envolvendo um corpo
Por vezes só palavras
Por vezes um expressão de fim de texto
São abraços de qualquer jeito
Usados como pretexto
Que nos enchem o peito

Direi querido abraço
Que aproximas o meu amigo
Afastas o meu inimigo
Que dás cor aos meus braços
Não deixes que o cansaço
Te impeça de a todos dar
O aconchego e o calor
Dum abraço no seu apertar

DC


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MÚSICA e UM CORPO


Correndo as notas da música, encontrei nas teclas do teu corpo as respostas ao meu amor. Cada nota surgida era um beijo, e no andamento o ritmo da vida que possuímos, A cada pauta preenchida na pele de teu corpo, uma nova música nos envolvia e encantava, De cada um dos diferentes sons fizemos a linguagem das noites e do dia fizemos instrumento das melodias que íamos construindo.

Fizemos amor entre colcheias e semi-colcheias, dó menor ..dó maior, e um fá sustenido sempre que necessário.

Se fizéssemos o conservatório de um Kama Sutra, ou de Uma filosofia de Alcova, não seria tão perfeito o concerto das nossas vidas.



DC

terça-feira, 27 de agosto de 2013

ADENTRANDO A NOITE


Fiquei pela noite dentro olhando o escuro, de olhos abertos, procurando ver mais do que o visível. Ouvi a voz, lá longe lançando as palavras repetidas da rotina, já não falam de nós, entram na vulgar comunicação, dos dias sem brilho que nos apoquentam, Não é insónia o que me domina, É mais o que se não diz, o que fica suspenso, o medo de dizer, “eu penso”, “eu quero”, “eu desejo”, “eu te amo”, ou não, É saber da eternidade das horas que se duplicam no peso dos minutos e segundos que decorrem. Será que um dia teremos a coragem de dizer, as frases que respondem às nossa inquietações, sem medos ou precauções?

Esperamo-nos, caminhando na proximidade das vontades, e de repente, uma sombra nos atingiu, se espalhou e escureceu como esta noite, que não é de insónia, Perdemos o rumo e nos encaminhamos para o absurdo de encontrar a resposta no sonho.

Sonharemos muito e perder-nos-emos do que fomos e do que somos. Possivelmente.

DC

domingo, 25 de agosto de 2013

SILHUETA




Perdi
a
silhueta
desenhada
vazia
noite
escura


Fiquei
rasgada
dentro
perdida
buscando
fim

Encontrei
paz
enfim
a
noite
sumiu
pra
mim

dc

sábado, 24 de agosto de 2013

HÁ MUITO TEMPO....





............. que não te abraço
Há muito tempo que não sinto as tuas carícias
Há muito que te penso e não te tenho

Vivemos neste tempo ao minuto
Vivemos sempre como num reduto
Vivendo limitados ao que podemos
Sem pensar se é isso que queremos

Há quanto tempo não trocamos um beijo
Há quanto tempo não matamos o desejo
Há quanto tempo não te tenho

Há muito tempo que cansei da falta do teu abraço
de não sentir o teu beijo e o teu corpo no meu regaço
Há muito cansei de viver o que podemos
Tendo a certeza que não é isso que queremos

Vivemos há muito com o que repudiamos
Há muito tempo que nos queixamos
Há muito tempo que evitamos pensar
Vegetamos esquecendo que é tempo de lutar.

DC