Deixou que ficasse no silencio, onde a solidão esmaga, arrastando os pensamentos, agarrados a eles trás à superfície a avaliação e a ponderação de tudo o que origina esse silêncio e a solidão.
Como não entender essa necessidade? No correr dos tempos difíceis, que por uma razão ou outra cada um de nós atravessa, talvez só essa forma de estar connosco próprios, permita pôr a nu, sem outros observadores, os nossos medos, os nossos problemas, afastar as nossas dúvidas e encontrar alguma espécie de solução para os enfrentarmos....
E quanto de egoísmo existe nesse silêncio e solidão? Quanta ausência de partilhar? Quanta necessidade de ficar na escuridão? Quantas vezes, porque as falas podem magoar, pela verdade dura que elas encerram e próprio medo de as escutar?
O silêncio são as falas salgadas, as palavras com arestas, uma conversa prolongada que se arrasta o mais longe possível. O medo faz parte da existência dos silêncios.
DC
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
A existência dos silêncios.
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Foto. Diamantino Carvalho
domingo, 9 de novembro de 2014
UMA "IMAGEM" DE SÁBADO
Sentado observava-os. Naquela momento um misto de inveja e tristeza se apodera de si. O amor que se sente entre eles, ultrapassa os seus corpos cria uma espécie de áurea que os desenha no espaço. Sentia-se no brilho dos olhos, nos lábios trémulos, no trejeito do corpo, O ar está carregado de uma atmosfera especial que chega até ele por simples pormenores. Oh, como é bom ver tal acontecimento e acreditar na sua existência, porquê esta nostalgia e tristeza, que o assolava...
Tão doce a carícia dos seus olhos sobre o seu rosto harmonioso. Ela presa ao seu abraço, e a sua cabeça inclinada numa atitude de atenção e ternura. Como que se o amor tivesse sido delineado existir neles como exemplo. Surge o beijo. O prazer quase êxtase do beijo, das bocas que se tocam, um beijo tão leve, e se pressente profundo, adivinha-se o acelerar do ritmo do coração, como se fios invisíveis o ligassem aos seus lábios. Um momento em que se não pensa, age-se. Os seus lábios sobre os dela, como se fosse o caminho para uma osmose perfeita. Não era um beijo sôfrego, esfregado, de línguas cruzadas, mas só um beijo, aquele beijo para além do universo, que fica a sós, que trás nós ao estômago e faz fechar os olhos, como se o beijo fosse uma leitura de Braille dos sentimentos de cada um. Não era necessário colocar balões com legendas sobre as suas cabeças, ou com o desenho, a seta do velho cupido atravessando seus corações. A leitura é fácil, o amor acontece.
O Inverno impôs-se sobre o Outono, mas entre eles só existia uma Primavera, aproximando-os do calor do Verão.
Há sábados assim em que algo inesperado acontece e nos deixa enlevados, mesmo quando os sentimentos vivem nos outros.
DC
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Foto: Internet
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
ESCREVER À MÃO
Tem-me faltado escrever ao correr da pena sobre o papel, sentir aquele roçar/deslizar permanente do “riscador” que aumenta ou diminui conforma a intensidade do discurso, reflectindo a pressa de nada perder do que atravessa a mente.
A escrita manual é feita do entrelaçar de caracteres, tal como as nossa ideias no seu fluir. O papel é acariciado pela ponta do riscador*, que faz surgir os caracteres num ritmo continuo só intervalado pela indecisão. Os riscadores tem cheiro, e as espessuras das linhas que desenham variam de acordo com a pressão ou a qualidade do material de que são feitos, enriquecendo o carácteres de expressividade.
No café, no comboio, à secretária, vendo tv, ou na espera em um qualquer lugar, surgem ideias e escritos curtos que são de enorme importância, para o desenvolvimento de futuros actos criativos da escrita. Surgem como pequenas notas, misturadas com desenhos, que serão embrião de textos de maior dimensão, ou somente um registo de ideias.
Escrever à mão, quando os textos são extensos, implica motivo, ambiente, prazer de escrever.
Houve um tempo, que só escrevia, com canetas de tinta permanente, outros períodos com esferográficas, e em determinada altura, nem uma coisa nem outra, usava simplesmente a lapiseira, escrevendo com grafite, pedindo desculpa por isso. Quando se escreve à mão até a correcção é um acto de prazer, ao riscar com força, na folha do papel quando queremos emendar.
Quando escrevo numa máquina de escrever, ou no teclado de um computador, as teclas são individuais, não existe um continuo quando se “tecla”, existem uns dedos que se levantam e descem com rapidez, as teclas falam com o seu ruído, por isso se diz matraqueando as teclas, num cantarolar repetitivo, que para alguns interfere quebrando o raciocínio e o silêncio. Teclar é um meio frio de comunicação.
Por tudo isto, periodicamente tenho de escrever à mão, mesmo que depois tenha de passar para o computador, escrevendo com as tais teclas, mas nessa altura já passou o problema da criação e portanto torna-se acto mecânico.
Escrever à mão, em si, é um acto lúdico que dá imenso gozo. As tecnologias são importantes, mas não devem predominar sobre os prazeres da vida, penso eu.
DC
*Riscador: É um instrumento pena, lápis, caneta, esferográfica, pincel, buril, etc. que tem características próprias, de apor em cima de uma superfície especifica, formas expressivas sejam elas letras, desenhos, pinturas, ou gravuras.
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Foto. internet
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Uma a Uma
Uma a uma
de forma certeira
sobrepondo-se
como em equilíbrio
precário
como fases da vida
relatando seu fadário
ou pedra bulideira
em terras transmontanas
desenhando paisagens
serranas.
A natureza
o artista e sua arte
dois amoresque não se perdem
no correr dos tempos
diria pens’arte
natureza
viva
presente.
DC
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foto: Escul. Michael Grab Rely
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Tão simples como isso
Ficamos nós,
parqueados no tempo
olhando
beleza infinita
natureza inocente
e de repente
somos um corpo único
saindo do nada
valendo tudo.
DC
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Foto: link Hello Vietenam
sábado, 25 de outubro de 2014
O "Raio" do Tempo..
As nossas vidas são um deambular pelo tempo(de relógio). Tempo que, em alguns momentos, gostaríamos que recuasse, em outros, que andasse mais depressa e ainda outros em que a lentidão seria o ideal, Há situações, onde até gostaríamos de parar no tempo. Nada nos satisfaz, nem muito, nem pouco, tempo é o tempo e é incorrigível, não à volta atrás, daí que se fale muito em “em viver o dia-a-dia”, “viver um dia de cada vez”, “viver o momento”, e “ a água do rio não passa duas vezes pela mesma ponte”, etc., etc., mesmo assim continuo a dizer, não andará mais depressa ou mais de vagar de acordo com os nossos desejos.
A que propósito esta lengalenga? Eu desejaria, neste momento que o tempo recuasse bastante, ou que acelerasse muito rapidamente, saltando por cima deste momento de agora, que fizesse um intervalo, e eu pudesse escolher os melhores momentos para viver.
Todos sabemos que o mau, faz parte da percepção do bom, mas preferia não ter o mau em tantos momentos do tempo sobrepondo-se ao que é bom. Se dizem que temos o livre arbítrio, então eu quero trocar e gozar muitos e bons momentos e um mauzito de vez em quando. Será que se pode fazer isso?... Se não se pode, então é mesmo mau, porque neste momento a todos os níveis, pessoais e sociais os maus momentos vêm em catadupa e isso não é bom para a sanidade mental, de qualquer cidadão.
Estou a pensar seriamente, se tenho de partir todos os relógios que me apareçam pela frente, ou rasgar os calendários, deixando essa estória dos “timings certos” para o raio que os parta. Apetece-me deixar correr o tempo sem pensar, ficar eternamente absorto e deixar que a natureza se encarregue de resolver o meu problema com o tempo. Até por que sei que um dia, inevitavelmente, acontecerá de já não ter tempo, de viver o tempo.
Há dias assim, talvez porque hoje é sábado, dá-me para pensar nestas coisas de tempo e perda de tempo.Se calhar devia hibernar, como os ursos. Se calhar, até dará para ajuizarem e dizerem: "este tipo é mesmo um urso". Corro esse risco.
Tenham um bom dia.
DC
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Foto:interne; imagem design DC
terça-feira, 21 de outubro de 2014
TENHO TANTO PARA DIZER
Tenho tanto para dizer
E nada sai da garganta
Sei que diga o que disser
Se a tristeza é tanta
Nada vai resolver.
É o riso que não se repete
O abraço que desaparece
A ternura que não acontece
Toda uma perda que surgia
Da noite para o dia.
Como marca do tempo
Ficam as suas imagens
Contando toda a sua história
De laços que não se apagam
No registo da nossa memória.
DC
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Foto. Diamantino Carvalho - Viana do Castelo
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