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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

No meu barco e no meu mar



              No meu barco e no meu mar
              a oportunidade do nosso navegar 
              Com a confiança num lugre
              resistente a navegar no mar bravio 
              Viajar em pleno nesse outros mares
              onde se geram diferentes falares 
              Sinto-te de longe, nesse espaço sideral
              das paixões adormecidas 
              Morrendo-te, companheira das agonias alheias,
              no correr dos dias na incerteza das ideias. 
              dc

terça-feira, 3 de novembro de 2015

MeMóRiAs InSaNas




                        estás lá permanentemente, no sonho, na vida, na memória, nada se desfez na neblina.
          está lá, e fica, nos olhos verdes, na coxa grossa e curta, no peito magro e pequeno, na boca gorda e saborosa, na saia que te aperta, nas calças que te desenham, na camisa que te desnuda, no sorriso malandro, no grito intempestivo, no beijo com sabor a Porto, no calor do colo, nos passeios junto ao mar.
          está lá, até na vontade de me esqueceres, do mesmo modo que eu evito, tudo fazes para viveres, para não ouvires o meu grito, não te queres abeirar de mim, queres a intensa solidão, chorando por te perderes sem encontrares o chão.
          estás lá, no dizer do povo, em marés que se repetem os marinheiros são insuficientes, e eu espero porque sou maré, que cumpro meus ciclos, sucessivamente, chova, ou faça sol, no mar ou em terra, no ar ou no chão, longe ou perto. um dia, reconhecerás, que se perdeu tempo demasiado nas inutilidades, por medo se perder o que na realidade é menos do que nada, e nesse balanço sentir o tanto que se poderia ter mais cedo e sem espera. 
                         as cabanas não trazem o amor, são construídas e recheadas dele.   
                         dc

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

DesESCUTEI



Desde que desescutei tua voz, ela vive no meu silêncio, agarra-me a este lugar, parado, com o olhar nesse lugar infinito que limita a terra, deixando que os sonhos borboleteiem nos pensamentos presos por uma realidade que se evaporou. 
Estranho o modo, como repentinamente, nos desligamos desse fio condutor que nos mantém, largo tempo, julgando sermos. Faz-se um click estranho no cérebro, que depois percorre toda a nossa estrutura corporal, como uma campainha de alarme, acabando nesse músculo que nos simula a vida, dando ordem para manter um corpo tecnicamente vivo, não emocionalmente vivo, É como estar nu porque despido e não nu por estar limpo de preconceitos, de alma aberta, mostrando-se de “cara lavada”. 
Ensurdeci, para os de fora e escuto-te dentro de mim, visto-me para os de fora e estou nu para ti. Minha vida está fechada nesse emocional, que não técnico, onde as aparências não tem lugar, preso nesse infinito onde só a imaginação vive. 

dc

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

PARA SEMPRE



E se eu me declarasse que era para sempre, mesmo sabendo que para sempre é uma eternidade difícil de conseguir.
E se eu dissesse, que queria que fosse para sempre, que procuraria suavizar os terrenos difíceis que surgem na caminhada, Que eu preciso que seja para sempre, como sempre quis que fosse.
Se dissesse, que gostaria dos anos surgindo sucessivamente, mantendo para sempre o mesmo fulgor, o nosso gostar evoluindo para que se mantivesse para sempre, esse sempre que é uma eternidade, mas seria tão bom ser para sempre.
Sempre penso, que para sempre é a delicia da conversa, das discussões normais com bonanças mais longas ou mais curtas, Que as delicias do leito são diferentes todos os dias e tudo isto para sempre.
No teatro dos dias, sempre juntos na solução das coisas que sempre perturbam, mas que temos a capacidade de mudar e evoluir para que não aconteçam sempre, Eu quero que sejamos, diferentes, caminhando em paralelo com as mesmas intenções, mas desiguais quanto baste, para que não sejamos a monotonia para sempre, Continuar a sentir sempre esse amor eternizado nessa palavra tão pesada de intenções que seria com todo o prazer PARA SEMPRE.
dc

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

IRONIA...talvez



Acre, doce e nem por isso,
tem os pensares da vida
e nos sorrisos, ou rebuliços,
encontram sua guarida.

Enquanto tudo dei,
por amor e prazer,
somente eu é que sei
o fiz por tanto querer.

A falta de esperança,
somente tem o tolo,
porque já diz o povo:
“quem espera sempre alcança”.

“Não há bela sem senão”
e dai o meu partir
não pode um coração
passar o tempo a carpir.

Fico-me por aqui
senhora que bens já tem,
agora que para si
sou um citado, Alguém.
dc

 

domingo, 16 de agosto de 2015

PÓ de um dó maior



Levanto-me
Agora
Da poeira dos lençóis.

O tempo
inexorável
Marca assim
A distância
Dos “nossos tempos"


dc

sábado, 1 de agosto de 2015

CADA UM SEU RACIOCÍNIO



GG- Sei que me olhas, como eu te olho, fixamente, eu querendo saber o que fazes, o que procuras ao fazeres essas coisas, todo agitado. Que queres tu, tirar-me a alma? Alguma vidas, das sete que dizem eu tenho? Estás a pensar se gosto de flores? Afinal, o queres tu de mim homem, que apontas essa coisa brilhante encaixada numa caixa escura? O tipo é ridículo, ajoelha, levanta, mexe na caixa, puf aquele ruído, Se aquela gatinha do quinto esquerdo, me visse aqui a ser admirado pelo homem, se calhar saía comigo para ver o luar...hummm como seria bom. Bem pelo menos alguém me admira para além da minha dona”

> O raio do gato é bonito, tem aquele olhar fixo...como se estivesse a interrogar-me sobre o meu papel aqui, perante ele. Tem um olhar intimidante, sério, talvez um pouco curioso, mas felino, sem medo. Regulo, disparo e ele fica registado. Um “retrato”, de cinzas e branco, que se realçam no meio das flores desfocadas e a relva. Talvez um dia adopte um destes, é uma gato com aspecto respeitável...ah ah ah.. lá estou eu a divagar enquanto fotografo, Às vezes canto, agora falo sozinho, raio de gato está pôr-me maluco.”

GG- O tipo tem bom aspecto deveria tratar-me bem, se eu não tivesse um dona poderia ser uma boa opção, experimentar viver com um dono, pelo menos parece interessado em mim...bem acho que vou embora antes que ele se entusiasme.

> Bom, parece que fiz um “boneco” interessante, vou deixar o gato em paz, estes bichos têm uma aspecto, de independência e personalidade que faz com que os admiremos e respeitemos, faz-me lembrar aquele texto do “Atentamente Gato”.
Vou parar por aqui, antes de começar a miar , ou a ronronar...kkkk

dc

sexta-feira, 24 de julho de 2015

DESENCONTROS




Olhamos sem ver, o chão que pisamos,
envolvemos de esperança a incerteza
e nela a prisão onde nos acorrentamos.

Tão simples este acontecer, que me perdi
nesses demónios que me atormentam,
cada vez que a indecisão se toma de mim.


E na escuridão silenciosa, fico-me pelo pensar,
não nos sonhos que na mente me povoam,
e sim na violência dos desencontros.

dc

quinta-feira, 16 de julho de 2015

duas Rosas de seu Nome



Tímida espreito a rua
Temo que minha beleza
Se perca na tua

Refresco-me na noite
Namorando a lua
De manhã me revelo
Ao homem da rua
Vestida de vermelho
Revelando-me sua

Desperdício de tempo
Ele nem em mim repara
Quando contigo depara
Alta elegante e bela
Como um modelo
se exibindo em passarela

E eu fico esquecida
Servindo uma lapela
Ou na mão do homem
que me oferece a ela

Até meu jardineiro
Que com desvelo me trata
Quando passas em requebros
Arredondando a anca
Com as mãos me maltrata
E por ti todo se encanta

Eu, eu só existo entre grades
Onde a liberdade me situa
Como sempre meu perfume
Esconde meu queixume
de me sentir perdida e nua

dc

domingo, 5 de julho de 2015

TÃO VAZIO


Amanheci
tão vazio
por dentro
que escrevi
para saber
que não morri.

dc

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Escolhemos o Silêncio....




Olhava o céu onde as nuvens, faziam e desfaziam formas, como imagens sucessivas de um filme. Procurava encontrar a resposta adequada a esse silêncio, que escolhemos como cama das nossa incertezas. As respostas não chegavam, entretanto as pausas sem nuvens e as gaivotas voando em acrobacias deliciosas, faziam-no planar sem rede, perdendo-se, de forma abstracta, dos raciocínios. Sem se aperceber ia baixando lentamente os olhos, até encontrar a linha do horizonte, como que a sugerir que era a hora de aterrar, agarrando-se novamente à terra firme. A serenidade se apossara dele, o silêncio tinha agora um outro efeito, menos vazio, como se aquele tempo, ali passado, sentado no banco da marginal face ao mar, tivesse funcionado como uma espécie de Prozac, medicado pela natureza. Agora, sentia dentro de si a energia, necessária, para não se deixar corromper, pela modernidade bacoca, A natureza o acordara mais uma vez, para o que mais imprescindível existe no humano, a liberdade de decidir, contra ventos e marés.
O silêncio e o isolamento são uma opção, nada de mau existe nisso, fazem-lhe acreditar cada vez mais naquela frase que diz: importante não é quantos os bens materiais que possuímos, mas termos os bens que necessitamos. Ele não prescindia da sua vida, para assumir uma outra, castrada por uma vontade estranha, importante, importante é ter a mente livre e deixá-la voar.

dc

sábado, 6 de junho de 2015

...sim falta tempo



O seu vocabulário está, cada vez mais, reduzido a palavras como, horas, caminhar, ver, silêncio, vazio, tristeza, saudade, beijos, corpo, mãos, carícias, namorar, paixão, amor, mar, imensidão, navegar, vogar, voar...tempo, tempo, tempo..
...sim falta tempo para ter tempo, deixar que a vida corra, sem pressas, e que lhe sobre tempo para correr o mundo, nem que seja às avessas. E goza com a rima.
Sim, precisa de tempo para conhecer o mundo de outro ângulo, e de um qualquer outro lugar. Não é justo, que o mundo seja imenso e não possa usufruir um bocadinho mais do mundo, do que a zona onde mora, ou do país onde nasceu e viveu.
Quer ver outros países, outros lugares. Um iceberg aqui, uns Himalaias acolá. As pampas na Argentina seu tango e suas gentes, ou o deserto do Saara com as suas areias quentes. Um América Latina cada vez mais livre, fervilhante de cor e emoções, efectuando as suas revoluções, e, no continente asiático, gentes de perfis diferentes com os seus mosteiros e meditações. Passear na muralha da China, e visitar um país para além da “cortina”, que já foi de “ferro”, e numa Europa tecnicamente perfeita, em plástico original, do século XX. Ver o país dos “cowboys”, das diferentes federações e jogos de latrina, de drones nas populações.
Quer tudo a que tem direito. Ele é um ser humano que quer, um mundo mais perfeito.
Quer aprender outro vocabulário, outras línguas outras gentes, e lugares bem diferentes, fazer que a vida seja vivida antes de perder a perspectiva de que o mundo é de toda a gente.


dc

domingo, 31 de maio de 2015

Um lugar com história



Fiquei olhando os pedaços de tela, que se agitavam, com o vento, contra o céu azul. Pedaços de tela tecidos com o fio dos dias e rasgados pelo cansaço da intempérie. Agora, a outrora, função publicitária e de esconde esconde aos olhares dos passantes, resultavam como esculturas móveis, abstractas, que dançavam perante os meus olhos, mostrando de modo intermitente os espaços em volta. Como que suspensas, interagiam com a velha chaminé, que de vez em quando surgia, entre elas, assim como a torre da igreja próxima.
Os pensamentos ocorriam até aquele espaço, enrolados pelo vento. Pedaços de arqueologia industrial, avivavam memórias do passado distante, onde a vida dos operários, também eles desgastados pelo cansaço dos dias, funcionavam como pequenas peças da engrenagem da exploração empresarial. Tempo de fatos macacos remendados e de cores escuras, de aventais, de cabelos enrolados na cabeça das mulheres.
Bruscamente, o hoje acordava, com a buzina do carro que passava, trazendo-me à realidade da modernidade que aqueles pedaços escondiam.
Reencontrei-me, começando a roubar aqueles pedaços para dentro da minha câmara digital, tentando captar a sua fala.


dc

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sons que Não Chegam




Dos sons que não chegam,
ficam as palavras escritas,
deixam à imaginação todas as coisas
que podiam ser ditas,
         sem carregar o sobrolho
nem trejeito nos lábios
         ou diferente entoação,
não são mais do que coisas escritas
não ouvidas
         sujeitas a interpretação.


Escrevo-te assim muitas vezes
         deixando-te a pensar livremente
na sua sonoridade e conteúdo
         mesmo que na verdade
         não seja a minha realidade
que satisfaz a tua mente
         nem aquilo que lês te diz tudo.

dc

domingo, 3 de maio de 2015

Inventaram um Dia da Mãe...

Inventaram um Dia da Mãe, como se ela não fosse, mais do que um dia. Quase se torna ofensivo atribuir-lhe um dia, como se ela fosse uma pessoa a quem se deve o favor da maternidade, alguém que neste dia se esquece como possível má mãe, ou como o mau filho que não lhe atribui grandeza, e lhe dá a prenda artificiosa da hipocrisia.

Há mães que abandonam, ou maltratam os filhos, há filhos que maltratam, abandonam as mães nos lares, ou lugares parecidos e vão às suas vidinhas, e neste Dia da Mãe, levam um ramo de flores, atiram-nas para uma jarra e de seguida saem marcando quando virão para o jantar. Talvez razão encontrada, muitas vezes, nas maleitas com que crescemos e das circunstâncias em que vivemos.

Não gosto do Dia da Mãe, como outros que assim funcionam como comercialização, na mira do lucro capitalista, explorando os sentimentos. Aproveito, por isso mesmo, este dia - e sempre - para desancar nesse oportunismo e defender que uma vivência tão importante dos seres vivos, não pode ser vulgarizada, desta forma. Perceber ser mãe e ser filho, é parte fundamental da educação, de uma sociedade que privilegia o ser humano acima da materialidade. Somos sim, durante trezentos e sessenta e cinco dias, as mães e os filhos que somos, e cada um deve saber o papel que nos cabe nessa relação e vivência e valorizá-lo.

Lembro-me de dois irmãos que começaram a trabalhar bastante novos, que quando lhes davam uma gorjeta por algum serviço prestado, iam de imediato a uma pastelaria comprar o “pastel chila” que a mãe mais gostava e que praticamente só nessas alturas degustava.
Eram dois prazeres num só acto. O prazer da surpresa e a alegria da mãe com os olhos marejados de lágrimas. Aquele dia não tinha data marcada, mas acontecia com a periodicidade que a vida permitia.

dc

terça-feira, 21 de abril de 2015

QUEREM-NOS FORMATADOS


Morreu Eduardo Galeano, e como sempre acontece, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”,  daí resolvi dar uma passeio pelas livrarias, de maior dimensão no mercado livreiro, para ver se encontrava um dos seus livros mais recentes, “Os Filhos dos dias. Ed. 2012”. Espanto, ou nem por isso, não havia nenhum livro recente nem antigo, pelos vistos o autor trabalhava com pequenas editoras e como tal “não existia”.

Fico-me a pensar, se os editores e os responsáveis das livrarias, se preocupam somente com o lucro, ou se existe algum plano maquiavélico exterior à sua gestão, para que determinados livros - que despertam consciências, que defendem princípios e valores sociais e culturais, exigíveis numa sociedade - pela sua “perigosidade”, sejam excluídos dos escaparates das livrarias? Será, que escrever, como fazia Eduardo Galeano, sobre o
Direito a um trabalho digno; o Direito de respirar; o Direito à vida; o fim da Violência de homens contra mulheres; a Igualdade perante a lei, que até constam na legislação constituinte de inúmeros países ( direitos nem sempre respeitados), é um “pecado mortal” e não convém aos altos interesses do capital financeiro, que as pessoas tomem consciência disso?

É bom que atentemos neste assunto e procuremos ver, como já acontece na internet através das redes sociais - e não só, que todos os dias e em todos os lugares, através de marketing, publicidade, cinema, livros, nos meios de comunicação como jornais, revistas e Tv, somos encaminhados e influenciados, para uma formatação mental de acordo com os interesses dos políticos, que nos governam e mal, e do grande capital financeiro. Existe toda uma estratégia pensada e planeada, para sermos transformados em marionetas - com apoio de alguns fazedores de opinião, que leem as badanas dos livros - de interesses alheios aos nossos, como cidadãos e seres humanos, até alguns fazedores de opinião  cabe a todos nós impedir que a levem a bom porto.

dc

Algumas citações para meditar...

"Em política, nada ocorre por acaso. Cada vez que um acontecimento surge, pode-se estar seguro que foi previsto para levar-se a cabo dessa maneira."
      
Franklin D . Roosevelt - Presidente dos Estados Unidos (1933 a1945)

"O mundo divide-se em três categorias de gentes : Um muito pequeno número que produz acontecimentos, um grupo um pouco maior que assegura a execução e mira como acontecem, e por fim uma ampla maioria de não sabe nunca o que ocorreu em realidade "

      Nicholas Murray Butler
- Présidente da Pilgrim Society, membro da Carnegie, membro do CFR (Conselho para as Relações Externas, Council on Foreign Relations)



segunda-feira, 20 de abril de 2015

FIM DE TARDE acontecendo


A mar calmo, ali ao lado, uma brisa leve correndo, e os dois ali sentados observando como que parados no tempo. É o final do dia chegando, o ruído de fundo da cidade se esbatendo no crescer do silêncio. O calor do dia se atenua, deixa os corpos descansar, a pele respira sem a húmidade permanente e pegajosa das temperaturas elevadas. Acontecem as carícias suaves e as palavras doces que se soltam devagar, com sentido quase filosófico, acompanhando o amornar do ambiente que os envolve. Era o verão com a vida acontecendo.

dc

quarta-feira, 8 de abril de 2015

"a culpa é minha por gostar de ti"


Entrei no jardim para fazer parte da minha caminhada, Quatro voltas da praxe e saía. Como sempre passava por aquele banco, estava integrado no percurso estabelecido. Na primeira vez que passei, ia tão concentrado no exercício, que não me apercebi que estava ali gente sentada. Ao passar, à segunda volta, reparei num casal já na casa dos quarenta, com ar de gente simples, que estava sentado se namorando. Foi um olhar de relance, sem espanto, A tarde estava propícia ao namoro, O sol entreolhava pelo meios das árvores iluminando o caminho com uma luz fantástica e embora eles estivessem na sombra formavam um quadro que funcionava em contraponto com toda aquela vegetação e cor. Digo namorando pelo modo como se envolviam, ele com um ar meio tímido quase com receio de a abraçar e ela falando e segurando no rosto com uma das mãos procurando a sua boca para o beijar e se chegando mais perto dele. Na volta seguinte, ela quase sentada no colo dele e de rosto encostado, meio se escondia de quem passava, mas não me parecia de vergonha e sim de ternura. Agora, olhei mais atentamente, observando pormenores, que me teriam levado a deduzir, serem gente simples do interior, A roupa que vestiam, a linguagem usada na conversa, o rosto dela sem maquilhagem... Ela mais envolvida, ele parecia ter medo que ela avançasse mais. Na quarta volta ela beijava-o sofregamente e tentando segurar-lhe o rosto com as duas mãos, num gesto amoroso, tudo emoção.
Este interlúdio na caminhada transportava-me para pensamentos diferentes dos habituais e para raciocínios vários para o que me era dado observar, conjecturando uma autêntica estória de amor, daquelas rocambolescas. Que faziam dois quarentões namorando ali no jardim? Não que estivesse errado, mas era pouco normal, seriam casados, amantes...eu ouvia-os falar, no entanto percebia mal as palavras. A emoção e a curiosidade aumentavam, e mais uma volta e lá estava eu em cima do acontecimento, e desta vez ele estava com o telemóvel na mão e ligeiramente afastado, como se estivesse a ver algum número ou mensagem. Eu continuei coscuvilhando, de mim para mim, debulhando tudo, para tentar encontrar respostas à minha curiosidade. Quando já estava de saída aconteceu o inesperado, que me deixou confuso e se arrastou, na minha mente, até quase chegar a casa, Foi vê-la a chorar e dizendo “ se calhar a culpa é minha por gostar tanto de ti”, ele compungido parecia encolher-se.
Fui pensando, na frase, e no seu significado. Será que ela gostava, ou estava convencida de que gostava? Porque razão se pode ser culpado de gostar de alguém? Pela indiferença do outro, sua ambiguidade, ser casado, ter medo de mostrar os sentimentos? Qual a verdade, ou mentira, que magoara? Como se mede o gostar? O que é gostar, ou amar? Sem querer estabelecia pararelos com outras estórias, sempre pensando na efemeridade dos momentos que nos acolhem. Começa-se sorrindo, abraçando, amando, fazem-se juras, promessas, e de repente tudo se altera, o momento de encanto se perde e já nada é como dantes. Na maioria das vezes, não muda para melhor, é sim o prelúdio de um afastamento maior, com recados à memória que se tornam inesquecíveis.

dc

sábado, 21 de março de 2015

Uma estória com " Tronco e Membros"



Errática, desgarrada como alma sem horizonte, implantou-se no meu céu. Com amor me dediquei a fazer dela mais do que um ser sem rumo.

Sem deixar que o temporal a devorasse, acompanhei-a nas estações sempre que a elas chegava, e mesmo quando parecia perdida, um pouco de água lhe abeirava para que se recompusesse.


Sei que ela não me reconhece tão forte dedicação. No entanto, mesmo sabendo-a distante, não deixei de a ter presente nas imagens que me proporcionou.


Os pássaros precisam de seus galhos e o ar da sua respiração, e eu, sirvo-me dela, para encontrar a paz de espírito e dar azo à emoção.

DC

domingo, 1 de março de 2015

MUDança dos Meses


Antes que o dormir chegue, chego-me eu às palavras, quase como um compromisso entre elas, o computador e eu.
O mês de Fevereiro findou e o Março entrou, entre o fim de um e o começo do outro, as diferenças não existiram, somente se cumpriu o calendário do tempo. Como seria bom que se tivesse rasgado o mapa dos dias e não tivesse ficado tudo de igual, repetitivo, chato como sempre, como se os dias, os meses, os anos, as horas entrassem dentro de nós e não a vida. Queria antes, muito mais, que fosse mudança a noite sem calendário, sós, nós dois sem sabermos do tempo, sós com os nossas carícias, os nossos beijos, com cheiros na ponta dos dedos, os braços misturados, sem principio nem fim, em apertado aconchego como uma colher feita de corpos, que se aquecem, mesmo que o frio não aconteça. Assim o mês mudaria e saberíamos que a vida acontecera.

DC