Não coloco aqui o teu retrato encabeçando o texto, sim a flor que te dá o nome e que talvez melhor te explique. Tem o branco da paz que transmitias; tem o amarelo sol, calor do teu aconchego; tem as múltiplas pétalas da tua partilha.
Partiste Margarida, e como mulher terra à terra que sempre foste, não acreditas que irás para o paraíso, nem que farás uma viagem para o desconhecido, mas a nós que cá ficamos sem a tua presença e, com mágoa da tua partida, é-nos conveniente acreditar que assim seja. Até porque achamos que merecias pelo teu exemplo de ser humano.
Durante todo a tua existência foste um exemplo como trabalhadora, como esposa, mãe, avó e sogra. Foste uma revolucionária, como a maioria dos alentejanos, activa e militante comunista trabalhando e participando enquanto as forças, e a tua atenção para com o teu filho, com deficiência, tu permitiu.
Quando te conheci e foi amor à “primeira vista”. Dizer isto de uma sogra, para alguns, é quase blasfémia, no entanto é a verdade. Quase quarenta anos passados desde que falamos a primeira vez, sempre existiu sintonia entre nós, como se duas almas nascidas do mesmo berço. Foste sempre de uma simpatia extrema, disponível e sempre acolhedora nas mais diversas circunstâncias.
Tenho para todo o sempre na memória as muitas horas passadas a conversar, quando vinha da caminhada matinal e saboreávamos o pequeno almoço, tu com um pedaço de peixe frito da véspera e eu com um tira de pão alentejano cheio de manteiga e café acabado de fazer, ou à noite, com a casa em silêncio, degustando a nossa “ceia”, sentados com a uma caneca de café e queijo de cabra. Conversas intermináveis, que iam dos problemas familiares, políticos até aos mais vulgares e comuns do dia à dia. Era o nosso momento preferido, onde todos os desabafos eram possíveis.
A todos sempre dizia que “eras como uma mãe para mim”, e sempre te vi assim, mesmo quando nos últimos anos, deixamos de nos ver. Não porque não quiséssemos, mas por razões circunstanciais assim foi acontecendo. Nunca por esquecimento, ou falta de vontade, como sempre sabias.
Por isso, mesmo agora que partes, a memória de ti será sempre grata e permanente.
O teu genro.