sábado, 6 de junho de 2015

...sim falta tempo



O seu vocabulário está, cada vez mais, reduzido a palavras como, horas, caminhar, ver, silêncio, vazio, tristeza, saudade, beijos, corpo, mãos, carícias, namorar, paixão, amor, mar, imensidão, navegar, vogar, voar...tempo, tempo, tempo..
...sim falta tempo para ter tempo, deixar que a vida corra, sem pressas, e que lhe sobre tempo para correr o mundo, nem que seja às avessas. E goza com a rima.
Sim, precisa de tempo para conhecer o mundo de outro ângulo, e de um qualquer outro lugar. Não é justo, que o mundo seja imenso e não possa usufruir um bocadinho mais do mundo, do que a zona onde mora, ou do país onde nasceu e viveu.
Quer ver outros países, outros lugares. Um iceberg aqui, uns Himalaias acolá. As pampas na Argentina seu tango e suas gentes, ou o deserto do Saara com as suas areias quentes. Um América Latina cada vez mais livre, fervilhante de cor e emoções, efectuando as suas revoluções, e, no continente asiático, gentes de perfis diferentes com os seus mosteiros e meditações. Passear na muralha da China, e visitar um país para além da “cortina”, que já foi de “ferro”, e numa Europa tecnicamente perfeita, em plástico original, do século XX. Ver o país dos “cowboys”, das diferentes federações e jogos de latrina, de drones nas populações.
Quer tudo a que tem direito. Ele é um ser humano que quer, um mundo mais perfeito.
Quer aprender outro vocabulário, outras línguas outras gentes, e lugares bem diferentes, fazer que a vida seja vivida antes de perder a perspectiva de que o mundo é de toda a gente.


dc

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A cidade onde eu moro




Na cidade onde eu moro os muros são cinzentos, as ruas alcatroadas são cinzentas, o céu morre de chuva cinzenta, No entanto os guarda-chuvas são vermelhos, os corações das suas gentes são vermelhos, os amores são vermelhos, as rosas são vermelhas, Por isso dou como conselho a quem nos visita, o sinal de perigo nas ruas da cidade dão alerta a vermelho, porque se alguém entra de alma cinzenta, sai de certeza com ela toda de vermelho.

dc


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Importante é a liberdade



importante
é
a liberdade
de sentir
dizer e pensar,
sem aos outros
tirar
a palavra
o prazer
o desejo
de expressar,
numa atitude
num abraço
num beijo
ou outra forma
que se queira
manifestar.
por isso
não gosto
de calar
o que se tem
para falar
mesmo
que possa
errar.
importante
importante
é a liberdade
de pensar
sem ao outro
impedir
o seu falar.

dc

terça-feira, 2 de junho de 2015

VIAGEM



Por vezes esticamos o tempo
Por vezes o fazemos minguar
Depende do momento
E do que queremos alcançar.

Sem esquecer nessa viagem

Que em todos os passos dados
Para atingir um objectivo
Tão importante é o feito conseguido
Como os momentos que passamos
No percurso acontecido
.

dc

domingo, 31 de maio de 2015

Um lugar com história



Fiquei olhando os pedaços de tela, que se agitavam, com o vento, contra o céu azul. Pedaços de tela tecidos com o fio dos dias e rasgados pelo cansaço da intempérie. Agora, a outrora, função publicitária e de esconde esconde aos olhares dos passantes, resultavam como esculturas móveis, abstractas, que dançavam perante os meus olhos, mostrando de modo intermitente os espaços em volta. Como que suspensas, interagiam com a velha chaminé, que de vez em quando surgia, entre elas, assim como a torre da igreja próxima.
Os pensamentos ocorriam até aquele espaço, enrolados pelo vento. Pedaços de arqueologia industrial, avivavam memórias do passado distante, onde a vida dos operários, também eles desgastados pelo cansaço dos dias, funcionavam como pequenas peças da engrenagem da exploração empresarial. Tempo de fatos macacos remendados e de cores escuras, de aventais, de cabelos enrolados na cabeça das mulheres.
Bruscamente, o hoje acordava, com a buzina do carro que passava, trazendo-me à realidade da modernidade que aqueles pedaços escondiam.
Reencontrei-me, começando a roubar aqueles pedaços para dentro da minha câmara digital, tentando captar a sua fala.


dc

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sons que Não Chegam




Dos sons que não chegam,
ficam as palavras escritas,
deixam à imaginação todas as coisas
que podiam ser ditas,
         sem carregar o sobrolho
nem trejeito nos lábios
         ou diferente entoação,
não são mais do que coisas escritas
não ouvidas
         sujeitas a interpretação.


Escrevo-te assim muitas vezes
         deixando-te a pensar livremente
na sua sonoridade e conteúdo
         mesmo que na verdade
         não seja a minha realidade
que satisfaz a tua mente
         nem aquilo que lês te diz tudo.

dc

terça-feira, 26 de maio de 2015

No tecido dos dias




Tacteando no tecido dos dias, procuro reencontra-te nessa alvura dos sonhos, em que amantes vivemos. E fico-me, com as mãos bailando no vácuo, roçando esporadicamente meus lábios, no perfume que de ti, ainda sinto.
Levo-te comigo para o correr da noite, com a imagem que me deixaste e, no silêncio da noite, reencontro-te, tão próxima, como se fosses pele do meu corpo...

dc