segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A(o)MAR




Nós sabemos que ele existe, está lá parado no tempo de propósito para nos receber, para nos orientar... e mesmo assim erramos, derrapamos no chão húmido das incertezas, escolhemos a dor no lugar do porto seguro... porque a beleza também é um desafio... porque o gostar é insuficiente se não existir aquele íman que nos prende, aquele outro mar que nos entra pelos olhos e nos faz navegar os sonhos...fugimos da acalmia, procuramos a agitação das ondas desafiando os corpos...sentindo o salgado nos lugares mais profundos. Queremos a tempestade... mesmo quando sabemos para onde nos pode arrastar na sua força e envolvimento... é a inconsciência da força... da paixão que nos arrasta até ao a’mar... ir contra a corrente de todos... porque não somos todos...somente dois. 
dc

domingo, 13 de dezembro de 2015

AGORA




Agora
que já não tenho a curva sinuosa
do teu pescoço para me perder
nem o riso contagiante dos teus lábios
que me desafiavam

Agora
que já não sinto a tua respiração
na minha nuca
nem invades a minha cama

Agora
que a noite se perde em sombras
quase que obscuras e deformadas
na parede do meu quarto

Agora
que o teu retrato
jaz frio na cabeceira
sem a vida e o calor de nós

Agora
sinto que o ar que respiro
é só alimento de um corpo
e não mais alento de viver.
(É só isto que faz o meu, Agora)




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Foice da vida




Ceifeira cortando pela raiz
Humanas criaturas
Adulto ou petiz
Bestas ou almas puras

Sabemo-la inevitável
Presença na nossa vida
Leva-nos doentes ou saudáveis
Sem sinal de partida

Nos leva sem escolha
Tantas vezes desprevenidos
Leva-nos de vez e nem olha
O quanto ficamos aturdidos

Resta aos que ficam
A memória da sua essência
Nas frases que os glorificam
Lembrando a sua ausência.

dc

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Ai sou tão pouco





Onde estás
Sou tão pouco


Onde teu riso
Para todos soa


Onde não é Porto
Ou Lisboa


Onde ficas tu sonhando
E eu com os meus sonhos
Aguardando


Nesse lugar distante
Onde não fiquei
Vivendo o instante


Hoje ficaria feliz
De te ter um só dia
Amor na alegria 


Contigo não haveria
Nem noite nem dia
Só tempo no presente


Estaria mais perto
De avaliar e saber
O que tínhamos de certo


dc

Vieste...





..... na brisa de fim de tarde
trouxeste contigo o verde do teu olhar,
uma boca para voar, todo um corpo
se sentindo como peixe no mar.

O tempo que durou foi um eterno sentir,
te esperava verão e inverno, sem saber como te fugir.

Um dia chegou a dor da incerteza
do tempo da viagem, do tempo do teu partir,
sem saber se afinal, toda aquela beleza
fora só mais um corpo a descobrir

E um dia foste e deixaste o frio, a saudade,
o casco desfeito de um barco
já sem forças para se fazer ao mar
e sem vontade de recomeçar.

Ficou teu, nosso, silêncio, o vazio,
ficou uma mapa de rotas sem escala
num corpo sem alma nem pavio
e uma voz que perdeu do amor a sua fala.


dc


domingo, 6 de dezembro de 2015

Os dedos..



Olha as mãos como se nunca as tivesse visto,
vê-lhe os dedos compridos, grossos, firmes,
as veias salientes, as cicatrizes, os calos, as rugas...

Dedos que pela força deixam ferida,
puxam gatilhos tiram a vida.

Dedos firmes precisos, abrindo sulcos
como o lavrador rasgando a terra.

Dedos que deixam marcas onde tocam,
digitais que os Homens descobrem.

Dedos quando apertam outras mãos,
deixam os sentimentos chãos.

Dedos moldando o barro da vida,
afagos do oleiro na peça erigida.


Dedos que fizeram mapas no seu corpo, 
registos na pele em tatuagem,

Dedos dum amor em longa viagem,
sem paragem até chegar a bom porto.

dc

sábado, 5 de dezembro de 2015

Só Silêncio





Ao silêncio me reservo
no silêncio me observo.

Silêncio espaço em branco
para pensamento sem ruído
num eu e eu muito franco
para encontrar o sentido
 
Silêncio avaliando preceitos
ajuizando conceitos
na razão do meu calar
e o porquê de nele ficar

Silêncio contraponto de ruído
assim se estrutura o mundo
um sem outro não faz sentido
só que um cala mais fundo

dc