quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Pensamentos traiçoeiros




Os pensamentos, abstracções que subtraímos da realidade, isolados numa gaiola, a nossa cabeça... Às vezes se manifestam para o exterior, num sorriso, num olhar com o brilho das  emoções, num gesto... Para quem, de fora, nos observa pensando, torna-se difícil descobrir de facto o que neles se cogita, o que os alimenta, qual a prioridade das suas escolhas... Somente estão lá, isolados, sem tempo limite, com escala de gradação própria, sem palavras visíveis, perdidos nas inter-relações que se geram, nos sentimentos, nos factos, nas preocupações. Eles ocorrem... Saltitam, esvoaçam pelo mais recôndito de nós... Quantas vezes a nossa introspecção é tão profunda, que os pensamentos se fazem presentes, levando-nos a cometer actos irreflectidos, gestos não pensados...E quando nos apercebemos, já está feito... Uma  letra... Um número... Uma frase... Um gesto e acontece, só quando ouvimos o eco que nos chega, como resposta... Quando a voz que entra no ar nos faz acordar de espanto, ao fazer-se presente é que tomamos consciência de que transformamos um pensamento em realidade, e aí descobrimos que muitas coisas, que julgávamos resolvidas, afloram novamente vivas e dolorosas.
Há dias que não devíamos pensar, ou então devíamos fechar a gaiola a sete chaves...
dc

É tão cinzento..



É tão cinzento, tão escasso o prazer, que me deixo secar no vento, despida de mim, sou como sou, só, visão fantástica de um mundo onde não sou parte interessada... Para ele sim, na minha nudez ele me compara com as outras e me introduz no meio de estruturas secas de linhas e formas... e eu, procuro a diferença, escasseia-me a linguagem, sobra-me a coragem para sobreviver...Renascendo. 
dc

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A(o)MAR




Nós sabemos que ele existe, está lá parado no tempo de propósito para nos receber, para nos orientar... e mesmo assim erramos, derrapamos no chão húmido das incertezas, escolhemos a dor no lugar do porto seguro... porque a beleza também é um desafio... porque o gostar é insuficiente se não existir aquele íman que nos prende, aquele outro mar que nos entra pelos olhos e nos faz navegar os sonhos...fugimos da acalmia, procuramos a agitação das ondas desafiando os corpos...sentindo o salgado nos lugares mais profundos. Queremos a tempestade... mesmo quando sabemos para onde nos pode arrastar na sua força e envolvimento... é a inconsciência da força... da paixão que nos arrasta até ao a’mar... ir contra a corrente de todos... porque não somos todos...somente dois. 
dc

domingo, 13 de dezembro de 2015

AGORA




Agora
que já não tenho a curva sinuosa
do teu pescoço para me perder
nem o riso contagiante dos teus lábios
que me desafiavam

Agora
que já não sinto a tua respiração
na minha nuca
nem invades a minha cama

Agora
que a noite se perde em sombras
quase que obscuras e deformadas
na parede do meu quarto

Agora
que o teu retrato
jaz frio na cabeceira
sem a vida e o calor de nós

Agora
sinto que o ar que respiro
é só alimento de um corpo
e não mais alento de viver.
(É só isto que faz o meu, Agora)




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Foice da vida




Ceifeira cortando pela raiz
Humanas criaturas
Adulto ou petiz
Bestas ou almas puras

Sabemo-la inevitável
Presença na nossa vida
Leva-nos doentes ou saudáveis
Sem sinal de partida

Nos leva sem escolha
Tantas vezes desprevenidos
Leva-nos de vez e nem olha
O quanto ficamos aturdidos

Resta aos que ficam
A memória da sua essência
Nas frases que os glorificam
Lembrando a sua ausência.

dc

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Ai sou tão pouco





Onde estás
Sou tão pouco


Onde teu riso
Para todos soa


Onde não é Porto
Ou Lisboa


Onde ficas tu sonhando
E eu com os meus sonhos
Aguardando


Nesse lugar distante
Onde não fiquei
Vivendo o instante


Hoje ficaria feliz
De te ter um só dia
Amor na alegria 


Contigo não haveria
Nem noite nem dia
Só tempo no presente


Estaria mais perto
De avaliar e saber
O que tínhamos de certo


dc

Vieste...





..... na brisa de fim de tarde
trouxeste contigo o verde do teu olhar,
uma boca para voar, todo um corpo
se sentindo como peixe no mar.

O tempo que durou foi um eterno sentir,
te esperava verão e inverno, sem saber como te fugir.

Um dia chegou a dor da incerteza
do tempo da viagem, do tempo do teu partir,
sem saber se afinal, toda aquela beleza
fora só mais um corpo a descobrir

E um dia foste e deixaste o frio, a saudade,
o casco desfeito de um barco
já sem forças para se fazer ao mar
e sem vontade de recomeçar.

Ficou teu, nosso, silêncio, o vazio,
ficou uma mapa de rotas sem escala
num corpo sem alma nem pavio
e uma voz que perdeu do amor a sua fala.


dc