sexta-feira, 24 de junho de 2016

Beijo de chuva




Beijo sôfrego
Boca na boca
Língua na língua
Oh, vontade louca.

O corpo endurece
Trôpego
Espesso.

Será  da ausência
Da chuva
Da vida que se tece
Da memória
Que persiste
Ou de um alguém
Que não desiste?

Na sua estória
Tudo o que importa
É que acabou a revolta
Se amam e desejam
E por isso...celebrando
À chuva.. se beijam.

dc



domingo, 19 de junho de 2016

Quando nada se tem..




Sentas-te  pensativa
Olhando sem ver
Sem conseguir descobrir
A razão do coração doer.
Não penses meu bem
Nada se perde
Quando nada se tem.
Para quê tanta tristeza
Se não querias de verdade
Que esse outro alguém
Te deixasse saudade.

dc




sábado, 11 de junho de 2016

Peregrinação




Foge-se, tornam-se curvas as rectas, escrevem-se palavras e frases compridas, algumas bem vazias de emoção, bate-se com os pés, No entanto, o inevitável é que os dias são intermináveis e continua por explicar as razões da fuga, Qual a razão, de perante o precipício, dar um passo em frente? Se amar exige paciência, independência, não ter medo de dizer não, de criticar e assumir que se não gosta de tudo do mesmo modo, amar não implica a existência de almas gémeas...
Para quê usar frases de grande dimensão inócuas, ou ficar no silêncio por falta de coragem para assumir o risco, se não acreditas no que sentes desilude-te, fecha a porta, parte sem destino, mas não te enganes para disfarçar as tuas próprias fraquezas. Quem te disse que amar é fácil? Amar é um caminho de peregrinação, cujo o objectivo final se encontra no próprio caminho. Se não te preparares de armas e bagagens para a viagem e todas as suas vicissitudes, os caminhos tornar-se-ão tortuosos e a viagem será feita, dolorosamente, sem objectivo. Se queres ter um amor, se o queres alimentar, “talvez” seja necessário, ter como premissa; como fazer o caminho; esperar que a viagem tenha alguns percalços; e paciência para com o tempo que é necessário para o levar a bom porto.


dc

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Deixa-me dizer: “gosto de ti”




É difícil compreender por que não entendes a palavra, gostar, se ela entre nós tem a mesma força de lei, da palavra “amor” e que ao contrário desta se enrola menos na boca. Deixa-me antes dizer: “gosto de ti”, porque amar será talvez um pouco para mais tarde, quando o romance tomar conta de nós, efectivamente sem volta, entendes-me? Quando já soubermos manter firme a razão de ser, de estarmos. Não desgastemos rapidamente a palavra “amor”, sendo ela já de si tão pequena, melhor será não apequena-la tirando a riqueza do que expressa, sem termos tempo de lhe dar o seu valor, aquele tal valor que incorpora a frase: Para toda a vida!


dc

terça-feira, 31 de maio de 2016

NOITE, última




Nem sempre a noite tem o breu das emoções, nem sempre é a alegria de alguns.. Usamos a noite como lugar de choro, pela privacidade que nos confere, ou como noctívagos que se arrastam pelas ruas entre cigarros e bebida, num eternizar de perguntas e respostas que não temos, ou ainda, colados às sombras, passando despercebidos, agarrando o seu silêncio e cantarolamos as nossas mensagens subliminares, na procura da audição algures em outro lugar. Na noite damos lugar ao Fado, às emoções, às realidades da vida feitas na claridade dos dias.
Há coisas que são acontecimento na noite, que superam a agressividade do lobisomem, em noite de lua cheia, O foguetório e seu estrelejar em celebração, ou festa de alegria e sucesso, baile de rua, A noite refúgio dos amantes que se possuem na semiobscuridade rente às paredes, das vielas difusas da toponímia da cidade. Para alguns a noite só tem uma voz que fecha o dia, como um ponto e vírgula da sua existência, lembrança de que não são prioridade, deixando-os no abrigo da soleira da porta, ou lugar ermo consumidos  pela solidão.

Enquanto isso o gato, amigo do sol e da noite, indiferente à mundanice, no correr dos telhados procura resposta aos seus miados, Quando não, arranha suavemente a porta entreaberta do quarto de seu dono, esperando não ser censurado, no seu entrar, indo ao encontro da caricia e prazer de ronronar na cama.
dc

domingo, 29 de maio de 2016

NOITE, terceira




A noite
um ponto e vírgula (;)
entre os dias
que acontecem

Nos entretantos
permanecem

O Entardecer
como vírgula (,)
no dia a fenecer

A madrugada
e suas reticências (...)
na noite que acaba


E depois...

O dia
com seu ponto de interrogação (?)

A vida, a vida
com um grande ponto final (.)

O mundo todo, afinal
um ponto de exclamação (!)

dc

sexta-feira, 27 de maio de 2016

NOITE, segunda





A noite chegava
O luar se instalava

Eu dormia
O quanto podia

Um gato miou
Algures no telhado

Acordei atarantado
Sorte minha
O pesadelo acabou

Da janela me abeirei
No telhado observei
Dois se enroscando
Gata e gato se amando

E logo pensei
Até quando..

dc