sexta-feira, 2 de setembro de 2016

No a'mar me encontro




Olhava o mar no seu imenso azul, seu pensamento voava sobre as águas. Ali estava no limite sobranceiro entre o a’mar e a cidade. O mar, esse sempre a esperava, e ela sempre o encontrava, não igual, todos os dias com as marés se alterava, mas tinha aquela cor, aquele cheiro, aquela presença que sempre a acalmava e a deixava conversar, sem nunca interromper seu falar. O mar, aquele seu mar que sempre a ouvia sem a limitar, que as suas lágrimas colhia, o seu sorriso, a sua angustia, a sua alegria, ele era companheiro do dia à dia que quando ela precisava dele nunca se escondia, fiel na esperança que alimentava e quanta força lhe dava.
Olhou as flores, que naquele lugar habitavam, e pensou que também elas do seu mar gostavam, estavam ali presentes preenchendo aquele espaço, como se quisessem abrilhantar quem dali o observasse.
Retirou-se decidida, pronta a escrever um destino e a encontrar de novo o caminho, Força e vontade não lhe faltavam, agora, só tinha de esperar a melhor altura para viajar, não no mundo dos sonhos, mas e sim, para uma nova realidade.



dc

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Barba & Cabelo




Mãos ágeis se mexem, escova cabelo, cabelo escova, tesoura cabelo, cabelo tesoura. Das sua mãos rápidas certeiras, se vai moldando o cabelo, desenhando-lhe a forma. Já fora lavado escorrido, agora está pronto a ser invólucro do rosto, do que sentado na cadeira espera como milagre o resultado do seu trabalho. Cabelo espigado, gorduroso, fino, grosso, branco, loiro, castanho, preto...ruivo, não importa, das suas mãos, assim queira o cliente, nascerá e acrescentará, algo novo, à expressão do rosto, onde o cabelo habita, mesmo quando se reduz à simples nudez, de quem quer retirar qualquer vestígio da sua existência de pilosidade.
Horas a fio num repetir constante de gestos, de tesoura e cabelo, de escova e cabelo, e a criatividade, sem cansaço moldando cabeças, rompendo rotinas e amorfismo visual. Lava, dá-lhe cor, enrola, corta, apara, acerta, escova-o, acaricia-o, todo um realizar dos dias na profissão, que se alicerça no prazer e que todos os dias se reconstrói. Rostos que se querem escanhoados, barbas desenhadas, aparadas. Cabeças de pessoas diferentes, na escala social, na cultura, na profissão, todas tábua rasa nas suas mãos, todas florescem no seu trabalho.
Trabalho enriquecido pela escuta atenta, sem preferência de onde vem. Como que ruídos de fundo, na razão das palavras frases se soltam, fazendo cuidar seus ouvidos, perante politiquices, desmandos, enganações, traições, e muitas outras estórias cabeludas, entremeadas pelas piadas carregadas de humor, de um ou outro atirar de boca. Ali soube de acontecimentos antecipados, vidas sofridas, políticas descomandadas, amantes desconfiadas, cornudos empertigados, calotes imensuráveis, etc ..etc; tudo arrecadado na memória, com o cuidado das coisas frágeis. Tudo se faz dentro do “caldo”, em que se desenvolve o seu trabalho, e o confessionário, que alguns assumidamente procuram, para catarse, das suas preocupações.
Alindar a cabeça, aqui não se resume ao cabelo e barba, mas também à lavagem que por dentro se vai fazendo, com largas melhores no estado de espírito de quem procura a barbearia; uma autêntico anti-stress, um saco fundo em que se despeja tudo o que vai na alma. Ganha o barbeiro enriquecendo seu trabalho, ganha o cliente saindo aperaltado e evitando a consulta ao psicólogo..

dc



sábado, 27 de agosto de 2016

O TrEM da VIDA




Ficamos sentados à espera que aconteça, demoramos a perder as dúvidas e a encontrar certezas, quando damos por isso, o comboio já passou, Aí, só nos resta pegar na mala, regressar ao ponto de partida, e esperar que um dia, possamos voltar a uma outra estação, de mala cheia de esperança e, que desta vez, a escolha tenha sido feita no momento certo, que o horário se cumpra e que a viagem tão ambicionada se faça.

dc

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

A tristeza nunca vem só..




"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria."
"A tristeza é um muro entre dois jardins."
Gibran , Khalil

A tristeza nunca vem só, vem acompanhada de horas irrecuperáveis, de sentimentos que magoam, de saudades, de incertezas, de insatisfação, de perda, de ausências, de benevolências, de pena, de tolerância, de desilusão e acima tudo, dela se fica sabendo, que o coração não dói, mesmo quando se sente como uma lâmina afiada, cortando de fininho, tentando mostrar o contrário.
A tristeza é uma emoção única do nosso viver, trás em si, o que nos torna mais fortes, mais capazes, mais competentes e resistentes para o presente, levando-nos a entender que se vivermos um dia de cada vez, a sua permanência se torna mais leve, suportável e menos repetitiva.


dc