Os dias passam vertiginosos, dez anos é o
tempo de um sorriso, ou duma das tuas gargalhadas. Ainda ontem, davas o
primeiro grito dizendo-te vivo e garatujavas uma língua de trapos, cada vez que
tentava fazer-te sorrir. Hoje, um homenzinho, que emite opiniões, brinca, dança,
agarras as pessoas com a sua malandrice, a sua traquinice, a sua ternura.
Como parecem já tão distantes, aqueles
tempos de compromisso, em que eu e tu - ainda de pernas periclitantes, com a tua
mão dentro da minha – visitávamos Museu de Serralves, ou caminhávamos pelos diferentes
lugares da cidade, como o Parque da Cidade, o Palácio de Cristal, os jardins
infantis que pululam por cá. Sem esquecer os pequenos almoços a dois, no Centro
Comercial, para irmos de seguida à zona infantil e à Fnac escolher livros e música,
ou as nossas caminhadas na Foz e na Ribeira.
Este ano lectivo, vou-te
buscar à escola, sendo a tua companhia de fim de tarde. É o nosso momento In. Chegas
à porta de saída, caminhando e cumprimentando: Olá avô! Com o pacote de sumo na
mão, esperando que te dê as bolachas, a que te habituei, para ires comendo no
caminho até casa; por vezes, digo que me esqueci, mas não acreditas, "vá lá avô,
tu nunca te esqueces". Depois, depois conversamos e divergimos, rimo-nos e
amuamos. A diferença de idade é mais do que muita. A idade dá-me a presunção da
sabedoria, a ti dá-te a coragem de recusar os estereótipos, que te querem
impôr. Assim vamos fazendo o percurso da vivência em comum, registando momentos
das diferentes etapas de crescimento, solidificando os laços afectivos e
criando memórias futuras. Como te lembras: “Eu não sou perfeito, mas sou edição
limitada” , serve para os
dois.
06FEV18
dc