domingo, 18 de março de 2018

Junto ao lago





As lágrimas se desenrolavam do novelo da alma, percorrendo como um rio o leito de seu rosto. Sentada, em frente do lago, sentia-se acompanhada no seu desabafo com a natureza, vendo os cisnes e os patos no seu nadar silencioso, com o grasnar esporádico deles, ou pelo grito de uma gaivota rompendo o ar. Os olhos embaciados pelo véu da tristeza, eram o espelho do seu cogitar. Ali tudo era mais sereno, podia reflectir sem embaraço, deixando o fluir das perguntas e respostas, sem pressas, numa ponderação suficiente para encontrar as soluções. Pensava nos acontecimentos, imaginava, lugares, espaços, e vivências, na ocorrência da possivel descoberta de uma nova pessoa dentro de si.
A natureza trazia-lhe a calma, lentamente tudo se tornava mais simples. Sem se aperceber, reparando em si própria, sentia na boca um sorriso e que o seu pensamento acompanhava o voar dos pássaros e a sua agitação. Tudo lhe parecia mais simples. Ninguém seria suficiente importante para lhe atazanar a vida. Para quê sofrer por um amor não correspondido, só porque que tinha medo da solidão, ou do silêncio?
A vida pregara-lhe uma partida encurtando o tempo para se refazer, porque não aproveitar o agora com toda a força, sorrir e voar como os passarinhos que vivem na alegria o dia a dia?
Domingo é um dia, como qualquer outro, para se retomar o curso do nosso destino.

dc

quinta-feira, 15 de março de 2018

Bater a Porta e Voar



Será que devemos viver em função do mundo que nos rodeia, ou em função de nós próprios, para com esse mundo?
O tempo é limitado, e tantas vezes não temos a coragem de viver o que está à nossa frente. Isto acontece em várias áreas da nossa vida. Medo de mudar de emprego, de dizer do seu desagrado de más atitudes, ou as injustiças, que nos fazem. Medo do que pensam, ou como agem os outros, medo de perder o pouco, ou nada, que se tem. E no amor? Trocamos o amor que encontramos em alguém, por aquilo que entendemos ser o melhor para viver com os outros, para os outros e dos outros. Não arriscamos, mesmo sabendo do prazer de estarmos com quem amamos. Se arriscamos pelos outros, porque não, pelo que é nosso e queremos? Não sei a que se deve esta cobardia que vamos sentindo instalar-se dentro de nós, que nos impede de dar o salto, de dizermos o que pensamos, de viver verdadeiramente o que sentimos, passarmos à acção e realização do nosso conforto interior, perante o que nos rodeia.
Admiro quem parte, bate com a porta e, sem olhar para trás, vai ao encontro do futuro, sem medo do que ele representa, encarando a vida como ela é, um dia atrás do outro, e assim sucessivamente. Pessoas que actuam de acordo com as suas próprias ideias e perspectivas, sem esperar demasiado do que pode obter dos outros, nem dar de mais de si próprio anulando-se.

dc

terça-feira, 13 de março de 2018

Dá mais um passo



Se me amas
neste estar difícil
Se me amas
tens de o dizer
Não há mais espaço
para esperar
A oportunidade finda.

A chuva falta,
o sol esquenta
O amor cultiva-se
de forma lenta.

Se queres recomeçar
dá mais um passo
Podemos nos encontrar
afinal só estamos separados
Por assinatura e um traço



dc

sábado, 10 de março de 2018

SOmos quem Somos



Diz-me, sim diz-me, porque não hei-de ser quem sou, porque modificar-me ao teu gosto, para que tu te sintas bem? Eu sei que devemos partilhar, afinar consensos, sermos sérios, um com o outro, mas não temos de ser iguais, talvez o mais próximo será... nos completarmos. Não somos nem sósias nem gémeos, somos dois seres humanos que se amam, e isso é o melhor que nos acontece, se avançarmos para o controlo, por cada um, do que somos, o que resta daquilo que nos uniu à partida.

dc

quarta-feira, 7 de março de 2018

Se ela falasse





Deixaste-me suspensa, gozando do meu ambiente, Eu sabendo-me presa, mesmo assim gozava a liberdade de ser quem sou. Não tinha tudo o que ansiava, mas continuava a ser atracção de muitos olhares, a manter o meu cheiro, que me fazia ser admirada. Acompanhada com quem gostava de estar e com o gosto nas cores do vestir. Os requebros da forma, mantinham-se vivos e procurava respirar intensamente para que me mantivesse viva o mais tempo possível. Quando pela primeira vez me observaste, senti-me um pouco inibida e não fui capaz de chegar mais perto, embora reparasse no teu interesse. O Vento ajudou a chamar a atenção sobre mim, possivelmente terá sido ele que te levou a que me descobrisses, por isso estou-lhe grata. Foste alguém que preferiu a manutenção da minha liberdade e vida, a ser colocada na água fria de uma relação de duração duvidosa. Apreciei, e embora sejamos só nós dois a viver o momento, no silêncio que sempre me rodeia, sei que todos acabarão por ficar gratos por não me ter afastado.  

dc.