quarta-feira, 6 de junho de 2018

Tu sabes...



Sabes....
faça o tempo que fizer
chuva ou sol
horas minutos ou segundos
vento ou tempestade
o mais que possa acontecer
eu estarei deste lado
para o que der e vier  

tenho
capacidade  para ouvir
paciência infinda
amizade para durar
um ombro para rir
um outro para chorar
ternura que não finda
e todo eu para te abraçar


dc

terça-feira, 5 de junho de 2018

Da estória à história




Muito tempo passou e a estória, talvez tenha passado à história, ou se calhar não. Muito ficou por dizer, ou esclarecer, sem correr o risco de errar. Como todas as estórias, com princípio, meio e “en”fim, sem ponto final. Na verdade ficou sem saber como contar as razões de tudo o que aconteceu, quando de modo tão inesperado a estória se interrompeu.  Tornou-se um conto inacabado, nas águas turvas da indefinição, esperando novos episódios que nunca se escreveram. Um dia se ao acordares, te lembrares, de como finalizar a estória, escreve-me para saber se, por acaso, o fim da estória é um capítulo só meu.

dc

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Divagando




Quando tudo o que existe ao nosso redor, a cada momento, nos traz à lembrança acontecimentos, lugares, emoções, pessoas e comportamentos, é difícil partir para qualquer lado do esquecimento. As emoções são o que mais atrapalha o discernimento, e mais difíceis de superar. É necessário espírito forte, capaz, para trabalhar e aceitar as memórias, sem que afectem o evoluir da sua estadia por estes lugares de existência.

dc



quinta-feira, 31 de maio de 2018

Na contraluz da razão




Foram unha e carne, mais carne do que unha, mais força que doçura, mais desejo que ternura. Foi no fio da navalha que caminharam, sofreram cortes e sangraram pelo caminho sem tempo para curar. Havia que aproveitar o tempo ao segundo, não pensar nas coisas do mundo e, deixar a lava correr alimentada pelo vulcão. Assim se foi formatando o caminho na montanha de emoções. Num qualquer momento se perderam no fumo da incompreensão e ambos se esbateram na contraluz da razão.

dc


sábado, 26 de maio de 2018

Somente o silêncio da última partida




Os minutos corriam lentamente no relógio electrónico da estação. Quando se espera, o tempo parece eternizar-se, os minutos parecem horas. Tinha sido avisado da tua hora de chegada. Temias que, por qualquer razão, fosse impedido de te ir buscar. A cidade não te era de todo estranha, mas tinham passado muitos anos desde que saíras para viver no sul. Nunca falhei. Ia mais cedo por prevenção contra o inesperado. No entanto, em algumas das tuas chegadas, intencionalmente, procurava esconder-me, por uns segundos, atrás de um qualquer pilar, para não me veres da janela da carruagem. Fazia-o numa espécie de prazer, gostava de ver o brilho do teu olhar marcado pela ansiedade e a surpresa. Quantas vezes, na tua chegada, muito a custo me controlava para não te abraçar e rodopiar contigo nos meus braços. Percorríamos a distância até ao carro num ápice, e aí, trocarmos um beijo prolongado, carregado de saudade, antes de decidirmos o que fazer a seguir..
A história repetia-se, em todas as tuas vindas, mas nunca foi rotina, ampliávamos esse tal querer, essa vontade de estar, e viver as horas, esgotando a saudade. Depois, na partida, gerava-se uma espécie de mutismo, entre o querer partir, porque necessário e o meu querer que ficasses. 
Hoje, que já não vens, a tua ausência é dolorosa. Como alguém disse, hoje vou à “estação ver os comboios”, porque não chegarás, trazendo a alegria, a intensidade da permanência. Somente permanece o silêncio da última partida.


dc