Antes que me vá, escrevo-te
mais uma vez, mesmo temendo que rasgarás da consciência as minhas palavras. Não
importa, quando se gosta corre-se o risco de sermos patetas, de não entendermos
bem o mundo dos outros, que se consideram normais. Pateta o suficiente, para te
levar comigo, mesmo que ausente, mesmo sabendo-te longe e indiferente. Quero no
entanto esclarecer-te. É possível que sintas o ar carregado de um pronuncio
qualquer; tão perto me farei sentir. Dizem que é possível comunicar sem fios,
sem imagens, que existe telepatia. Será? Na certa irás confundir o teu olhar,
ou teu pensamento, naqueles que cruzam contigo, estabelecerás semelhanças,
confundirás vozes, procurarás insistentemente à tua volta, como se te sentisses
observada. Na realidade, eu estarei tão perto, que sentirás o pulsar do meu
coração, a minha respiração, a expressão do meu olhar, a vibração do meu corpo como
quando estava perto de ti. Não me perguntes a razão de tudo isso, sei apenas
que a força do meu amar é suficiente para que fiques na proximidade do meu
querer. Sem obrigação, sem imposição, tudo acontecerá nas linhas que alinhavam
os teus panos emocionais, os teus dias de vivências e as horas dos teus
silêncios. Nesse coser das horas, umas nas outras, perceberás do corte erróneo,
da cor e da falta de adequação entre o sonho do que querias e o modelo real. Só
nessa altura me sentirás mais perto do que desejas. Escrevo-te com a seiva das
flores, com os seus cheiros diversos, com o colorido com que enriquecem os
nossos jardins e sobre o pano verde, onde deitado, olhando o céu, te verei mais
perto desse caminho do reencontro.
dc