quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Folhas como pássaros



Cada folha, um pequeno pássaro pousado aguardando seu voo, cada galho, um braço, a seiva o sangue que alimenta, e um tronco um corpo vivo agarrado à terra.
Fico-me pelo olhar, absorvendo a espectacularidade deste fenómeno da natureza. A imaginação é tão fértil como a terra que o suporta. As árvores são um amor à primeira vista, que seja qual for o momento que se me deparam encantam. Tem vezes, que só por timidez, não as abraço procurando vivê-las, como uma namorada que tanto se ama e deseja. Pena é, que nem sempre as escolham de forma adequada a cada lugar e não façam delas a presença protegida e obrigatória no respirar dos seres humanos, tal qual o parceiro da nossa vida.

dc

domingo, 2 de dezembro de 2018

Hoje é domingo



Hoje domingo de dezembro
de dois mil e dezoito,
já nem sequer me lembro
quando fui tão afoito.

Acordar mais tarde,
sem o tempo contar,
e matar a saudade
a dois no verbo amar.

Depois a paz se instala
no calor dos lençóis,
cada um se cala,
sentem-se dois girassóis.

A preguiça saudável
que não traz o passado,
torna mais amável
o companheiro do lado.

O dia assim começa,
saindo de casa para a rua,
num viver sem pressa,
sem sentir a realidade crua.

Hoje o dia é de descanso
convivência e nada fazer,
a não ser o amor que não canso,
que me dá tanto prazer.

dc


sábado, 1 de dezembro de 2018

Príncipe e a Princesa



O príncipe à princesa de outro reino longínquo, se confessou, dizendo não ser Rudolph Tarantino, tinha nome mais curto de romana procedência. Ela se encantou pelo toque latino, mas gostava mais do outro que no seio das cortes era ladino. E ao príncipe deu uma certeza, e assim falou, que desse esperança à natureza, pois, foi assim que Eva a maçã trincou.
Triste o príncipe, para o palácio se foi, montado num cavalo que mais parecia um boi. Com a esperança perdida, de sonhos desfeitos. Fechou-se no pequeno palácio com as gentes do reino, sem encontrar a paz, nem engenho para tal princesa loquaz.
Cem dias passaram e o príncipe virou rei e uma camponesa o enlevou, não era da realeza, mas era bela e delicada a mulher, que com a sua inteligência e beleza logo o conquistou. Marcado o casamento e em todo o reino comunicado, da coragem de tal rei, que trocava mais riqueza, pela mulher de saberes mesmo oriunda da pobreza. Soube a tal princesa do acontecimento e logo ao palácio do príncipe ocorreu montada num jumento, tentando impedir ao agora rei, que outrora rejeitou, no seu acto desabrido, daquele agora rei era pelo seu povo muito querido. A princesa nem no castelo entrou o rei quando soube logo tomou medidas para que tal princesa não tivesse guarida. Assim se foi a princesa de cabeça caída
sem rei, nem Tarantino, para resolver o seu destino.
O príncipe, agora rei, não se arrependeu, a sua decisão para sempre prevaleceu e o seu povo agradeceu.

dc

“Quem se envaidece, pelo reino de qualquer Rudolph, sofre de desatino, por isso não poderá ser rainha de um rei ladino”
.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Quando olho seu rosto



Sem saber bem como aconteceu, ou explicar, os sentimentos e percepções foram surgindo. Daí, quando olho o seu rosto, não vejo a comissura dos lábios, a sua espessura, nem o formato da boca. Espero o sorriso, o sabor dos seus beijos, o som da sua voz para saber a sua tonalidade, da serenidade no expressar do seu dizer. Não vejo a sua idade, antes o brilho dos seus olhos e o seu formato. Ao observar o seu rosto, não vejo o seu corpo, sim a ternura, ou a suavidade da pele. Na verdade, a sua beleza fascina-me pelos sinais, tão mais importantes, que expressam os seus sentimentos.
No abraço, sinto o transpirar da sua alma, o bater do seu coração, o cheiro do seu cabelo que me seduz, só depois as minhas mãos se atrevem a percorrer o seu corpo.
Nem sei dizer, qual a dimensão do prazer, nesta aventura de liberdade e emoções desfazendo a libido contida pelas normas. Sei que é muito importante vivê-lo!


dc

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A videira




Como garras, estendidas em direção ao céu, absorvendo o ar e todos os aromas que a rodeiam, eis os braços da videira despida de folhas. Cepa agarrada à terra há longos anos, enquistando-se e apurando com a sua antiguidade e nas podas sucessivas a sua qualidade. Dela irão surgir os seus melhores frutos, que enriquecerão a produção desse néctar delicioso, que acalenta bocas curiosas de sabores infindáveis, abrilhantando momentos de êxito e amor. Quase só, entre nós observadores e a natureza, se fica na espera do novo ressurgir, dando sinal da sua “raça” e vontade de dizer presente desafiando o nosso olhar. Tal qual um ser humano, a quem a idade não retira a sua beleza, nem sabedoria e que se adequa ao sabor dos tempos de mente aberta e lúdica num “carpe diem”.

dc