segunda-feira, 29 de abril de 2024

Faço-o porque gosto..


Perguntam-me porque escrevo, pois nem sempre a razão do que está escrito é explicita, nem o motivo da sua publicação. Se alguém entende, tudo bem. Faço-o porque gosto, e acima de tudo, faço-o porque que sei ser esta a única maneira de chegar até ti, e para que não seja um anúncio vulgar, nos perdidos e achados de um qualquer pasquim. Há os que questionam, ou procuram adivinhar, a todos, deixo-lhes a liberdade de pensarem e especularem, da qualidade. A ti, não preciso dizer que escrevo para ti. As minhas falas escritas podem ser entendidas, analisadas e até apreciadas por outros, mas só tu, sabes ler nas entrelinhas e deduzes, onde quero chegar, e o que pretendo que sintas. Eu próprio, quando escrevo, faço-o apelando ao teu sexto sentido, para me poderes entender, reconhecer, ou avaliar. Nas minhas palavras, reside a esperança, que o seu conteúdo, mesmo que a gramática seja menos correcta, sensibilize as tuas emoções, e adentre em ti. Sei, que não terão o calor da voz, nem verás o tremor dos lábios quando pronunciadas, muito menos o olhar da emoção, mas sentirás de certeza a vibração nelas contida. São tuas, mesmo que públicas, são tuas, mesmo que lidas por outros, são tuas e tenho orgulho de que revelem a dimensão do quanto eu gosto de ti. Não preciso de explicar a tempestade, se tudo o que ela realiza é suficiente para ser sentida. Muitas vezes, nem a palavra amor está presente, mas tudo aquilo que ele significa, tem a razão naquilo que eu sinto por ti.

 

dc

 

 

 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

A natureza que motiva

Sempre vivi escondido da própria sombra. Nunca quis esta sociedade plástica, esta bolha onde vivemos, da qual somos parte, onde o individual se sobrepõe ao colectivo. Sei que perdi a oportunidade de ser eu, em algum lugar do tempo. Quando criança, adorava o contacto com os campos e as árvores que me fascinavam pelo seu porte e beleza. Gostava de olhar as fragas da montanha, naquela majestosa imponência, duma pintura abstracta, seduzido pelas linhas e contornos definindo diferentes volumes, pelo equilíbrio, a sua estética e força que emanavam e a sua integração no cenário da natureza. Sempre imaginei um calcorrear pela floresta, escutando o marulhar da água ao longe, nas ribeiras e quedas de água, como uma banda sonora, especialmente talhada pela natureza, com o coro dos pássaros e outras espécies da fauna que servem como sustento da diversidade. Imaginar-me, sentado no topo da montanha, com o silêncio ensurdecedor da magnitude da natureza, dominando a minha insignificância, e os meus olhos se movendo abarcando todo espaço até ao horizonte. Sentir a proliferação de cores, o fumo das casas que se desenha no espaço, concorrendo com as nuvens, evoluindo no céu com as suas diferentes formas, sugerindo animais, ou anunciando tempestades. Agora sou um não realizado, que vagueia nos dias, procurando encontrar o equilíbrio, para entender o que a sociedade me proporcionou e aquilo que perdi. Tentar perceber a minha dificuldade em entender as vozes dos homens e mulheres, que objectivam a vida, na materialidade do supérfluo. Perdi a oportunidade de me deixar esculpir por essa natureza, que sempre presente, se foi tornando distante, absorvido por uma ansiedade de comunicar, a outras instâncias do viver colectivo o quão, mais importantes do que o progresso assustadoramente dominado por gente perversa, afastada da humanidade e presa papel ouro, e viver de acordo com a marcha natural do mundo. Como alguém disse:

 

“Quando o mundo descobrirá que somos todos a mesma família”

dc

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Envolvidos..


….a mão estava ali, avançava na direcção da sua boca, os dedos tocaram nos seus lábios, como se cego fosse, querendo conhecer o caminho para dentro dela…o seu corpo tremia de emoção e ansiedade… o mundo era pequeno demais para o que sentia, seus lábios, por certo, queimariam a ponta dos seus dedos, seria melhor que ele a afogasse com os seus lábios e a possuísse definitivamente, arrefecendo as vontades, saciando o corpo. No seu coração e na sua mente o seu amor já era dele.
….ele tocava-lhe os lábios, e sentia-se dominado pela força que dentro dela lhe chegava, ela já era dona do seu corpo, seu pensamento, seu coração, só isso fazia sentido, naquele calor que parecia queimar-lhe a pele da ponta dos dedos, sentia-se possuído pelo voo irrepetível da paixão que se desfaz em amor que adentrava no seu ser, O prazer de permanecer, definitivamente a seu lado, naquele abraço que não se desfaz, na morna serenidade, da realização dos afectos.
     domingo à tarde, por vezes, para alguns, a vida acontece, que eles mereciam, mereciam…se o fizeram...  

 

dc

 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Na noite que chega..

Na noite que chega, eu abraço-a, está segura nos meus braços, como se eles fossem seu abrigo. O seu corpo treme quando sente os meus lábios nos seus. Aproximo a minha boca do seu pescoço, que beijo enquanto acaricio o seu cabelo. Eu sinto-lhe a pele como se as minhas mãos estivessem sempre nela. Num registo quente da urgência de nos possuirmos, antes que a noite nos leve para os sonhos. Não hesitamos em procurar um pelo outro, um sobre o outro, no beijo molhado, nas línguas ousadas e nos olhares. Sem pressa, ousamos explorar, todos os lugares onde a boca anseia e a onda de prazer nos leva. Vamos nos desfrutando, até que a explosão dos sentidos chegue, uma espécie de vulcão em erupção, inunda as terras do corpo, marcando os lugares. O sono vem e prolonga nos sonhos o que foi vivido. Adormecemos a contar beijos.

dc


domingo, 31 de março de 2024

Quando nos olhamos ao espelho

Olhava o espelho, como a Rainha Má da Fábula da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais “velho” do que eu?”. A frase vem-nos à mente, quando nos observamos a envelhecer. Olhamos o espelho e não vemos as rugas, nem as pregas da carne espalhadas no corpo. Ou, porque a luz é insuficiente, ou os nossos olhos só enxergam o que sentimos por dentro. A idade é uma marca de calendário, que o corpo assume, mas dentro de nós, está muito aquém da outra realidade, que é a forma como vivemos os dias. Quando alguém nos pretende fotografar, fugimos da objectiva recorrendo a diversos estratagemas. Pensamos: não vai captar o nosso melhor lado; não usa uma luz adequada, vai evidenciar as marcas no rosto; apanhou-me perto de mais, não trazia a melhor roupa, hoje não era o meu dia, e por aí vai, de modo indeterminado. É-nos difícil aceitar, que o nosso corpo, normalmente, não obedece a quem o sustenta, vai acontecendo de adaptação, em adaptação, à natureza da vida. Ao andar nas ruas, não nos apercebemos do tamanho e da rapidez das nossas passadas, só quando nos cruzamos com alguém, verificamos que são mais lentas e mais curtas, de que a nossa mente nos sugere. Ficamos com a ideia de que essas pessoas andam, num corre, corre, exaustivo. Se, por acaso, paramos junto de uma montra, ou janela, vemos reflectida uma imagem estranha, quase como se víssemos um Extraterrestre. Quem é aquele pessoa, ali reflectida? É um drama inconsciente, que nos faz olhar para além das nossas possibilidades e tropeçar na estória de engodo e engano, quando nos oferecem, o que nem em sonhos imaginaríamos.

 

 

dc


 


domingo, 17 de março de 2024

E tudo ficou por aí

 

Sentia-lhe o sorriso irónico, os óculos escuros, não permitiam uma melhor leitura, só via aquele trejeito nos lábios. Custava perceber a razão, se nunca faláramos, pelo menos, que eu tivesse lembrança. Se nunca lhe escutara voz, o que a levava, ao cruzar comigo, nos passeios da rua a expressa-se daquela forma. Um dia cruzámo-nos, bem perto, quase sentindo a respiração, mas não mais do que isso, e permitiu aperceber-me dum rosto, sem óculos e sentir o olhar, brilhante, de um verde-mar. Não posso adivinhar, qual seria a minha expressão naquele momento, embora tenha de reconhecer a dimensão física da sua figura, sobressaindo em relação ao restante dos que ali circulavam, é possível que o pousar dos meus olhos, nos seus olhos, me tenham traído. Talvez o meu olhar despido de preconceitos, tenha evidenciado mais do que devia. Tudo ficou por aí. Não mais a vi pela vizinhança, foi um fogo-fátuo. Lembrei-me, porque a primavera está a chegar e tudo volta a florir. Quem sabe o que poderá acontecer?

dc

 


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

É bem possível

Olha, procura a beleza no que vê, no entanto, sabe que na realidade dos amantes é preciso ir mais longe, mais fundo, não se ficar na capa colorida, harmoniosa, que o fascina. A estrutura que motiva, não é a dos ossos, ou a carne que os protege, suave, delicada, morena ou branca, é antes a força que suporta essa morfologia, o seu carácter, a sua bondade, a disponibilidade de partilhar, o modo de ver o mundo e os humanos que o compõem, sociabilidade e sensibilidade com que vibra nas emoções, é todo um fio condutor que une todas as partes do ser humano, o motivo, a procura do outro olhar. O olhar, adentrando através dos olhos, é o primeiro filtro, depois, é a busca incessante, desse ser, que está na sombra das páginas da sua existência visual. Na verdade, é como um filme, que à nossa frente se desenrola no écran, e no qual nos prendemos pela figura, que não sendo a mais bela, nos fascina como se fosse alguém que representa, como pensamos o amor. O amar funciona assim, como aquela personagem que se desenvolve perante os nossos olhos? Ou será que na falta de comparação próxima, esquecemos a morfologia do corpo e ficamos presos na emoção, no significado, nos valores que expressa, na inteligência, no poder da sua personalidade, que naquele instante fala connosco, como se fôssemos senhores do mesmo espaço e forma de estar? É bem possível, que sem pensar, a personagem com que nos deparamos, seja de tal modo fascinante, que nos leva a criar confusões, entre o que nos emociona e motiva e a realidade que procuramos. É bem possível que assim seja, ou efectivamente, a beleza estética é só mais um argumento, para que o amor aconteça.

dc