Então sempre queres passear comigo na beirada do mar, desenhando pegadas na areia, de mãos dadas e os dedos entrelaçados, com os olhos no nosso horizonte?
Já decidiste, se queres respirar o mesmo ar que eu respiro, refrescar o rosto com a mesma brisa e sentir que flutuamos acima do que nos rodeia?
Será que quererás envelhecer mais próximo de mim, para que veja as tuas rugas surgirem e tê-las só minhas, e o teu corpo desjuvenescer no conforto do meu?
Já pensaste, se não será, agora, a hora de agarrar este momento de azul que nos permite a beleza de estarmos, antes que a terra escura nos torne adubo da dor dos que amamos? Carpe diem
Assim questiono o travesseiro, por que eu tenho planos. Sabes quero oferecer-te flores que se percam na tua beleza, Que o meu “gosto de ti” se solte no teu ouvido e se abrigue na pele dos dias.
Quero-te sonhando comigo, mesmo de mentes separadas na distância, sonhos daqueles de bom sonhar, onde nos enleamos, fazendo caminho nas nossas coxas, enquanto as línguas se vão entrecruzando em jogos de maviosa sedução...e depois... depois dessonhar e sentir-te tão minha que duvido da luz que entra pela janela para apresentar o dia.
É bom ter esse sentimento que nos domina, e nos envolve, usufruindo-o livremente perante os outros... sentir-nos voando largando tudo o que possa impedir vivermos.
Quero-te comigo, sentindo os pés se enterrando na areia deixando caminhos que se apagam...sem querermos que nos sigam, querendo agarrar as conchas que se sepultam naquele lugar e observá-las, registando cada risco, cada curva, cada cor...esperando... o inevitável...o meu corpo se colar no teu projectando-te na maciez da areia, para uma vez mais, saciarmos vontades e desejos, despidos do medo, sentindo o sabor a sal do desejo que o mar nos acalenta.
Seremos loucos se deixarmos aos outros este lugar de nós, que queremos viver. Seremos loucos, se nos deixamos enterrar em dúvidas inúteis, ou precauções, que nos impedem de nos realizarmos neste tempo de agora.
Na luz verde se espera o avanço, mas nós já temos o cores do arco-íris, porquê esperar?
dc
sábado, 31 de outubro de 2015
Pegadas Na Areia
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Foto: Hengki-Koentjoro (via -internet)
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
não me tragas o teu silêncio...
não me tragas o teu silêncio, que o meu já é muito pesado
não digas que falo demais, se o teu silêncio me corta a palavra
não me digas ter de lutar pela vida, quando a minha foi isso mesmo
não digas que sou teimoso, por resistir ao que me é imposto
não me digas que não sei o que é desgosto, se tantas vezes me desgostaste.
não digas que eu parta, quando sabes que quero ficar
não digas para não temer, se todos os dias temo te perder
não digas para ter calma, se todos os dias me pões em alvoroço
não digas que o longe incomoda, se não fico-me pelo nosso esboço
não digas nunca mais, porque eu sei que nada é definitivo.
diz sempre que vale a pena, tanto querer
diz que a vida não é um poema, mas que o amor pode ser
diz que temos caminho para fazer o nosso viver
diz sim, que me queres, mesmo desfolhando malmequeres
diz que somos unha e carne, mesmo que hajam unhas partidas
diz que amar nem sempre dura, mas que vale a pena a aventura.
se o silêncio se esgotar e algo de novo resultar
temos a certeza da aventura
que há muito andamos a sonhar.
dc
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-Noell Oszvald,
Foto.Internet
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
O GRITO
O grito
Sai de dentro
intenso
como um ronco
forte imenso
se estreita na saída
vai e se espalha
como tara perdida
levando a dor
raiva frustração
até o amor
por montanhas
vales e rios
sem desvios.
É um grito
De revolta
contra tortura
pelo fim
da ditadura
pela verdade
e liberdade
pela luta
de quem trabalha
do estudante
e todo o povo
que quer ir avante
por um mundo novo.
É o grito
Dos amantes
nas dores
da partida
nas chegadas
nas ausências
em vividos
instantes
na alegria
do nascer
no prazer
no viver.
É o grito
Sempre
a acontecer
sem hora
marcada
para se revelar
sai de dentro
para exorcizar
toda a dor
toda a cólera
todo o stress
todo um mundo
que esvanece.
E eu grito
desesperadamente
porque a vida
começa
num outro grito
que acontece.
dc
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Foto: via Veronique Fauré
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
ALento
>faço do teu corpo
o areal onde repouso
saído das águas profundas
dos pensamentos insurrectos
que me exige a liberdade.
>és o sopro ventilando
a minha existência
com a frescura esperança
numa luta infinda
ao encontro da temperança.
>contigo o alento
o sonhar possível
aconchegando
sol ao meu sorriso
iluminando meu rosto.
>restam dos teus lábios
as palavras que ouso ouvir
de algo novo a surgir
dos teus beijos alento
para voar contra o vento.
dc
terça-feira, 27 de outubro de 2015
Apeteceu-me
Não gosto do “amor liquido”, essa moderna forma de estar perante o amor. Gosto do trabalho que dá amar e viver com o amor que se tem, que se partilha, que não se perde nos acidentes de percurso, à primeira zanga, porque é fácil mudar para nova versão de uma coisa que ainda nem é. Por isso ainda gosto de beijos molhados, que selam a palavra mais desadequada, numa boca que sabe reconhecer que um beijo é mais do que uma vírgula, é um ponto final de algo que nem sequer teve tempo de acontecer para perturbar. E muitos outros beijos poderão continuar a frase o pensamento e a realização física do enlevo do que os une. No dia em que o beijo não for um ponto e ficar só pela vírgula, será melhor parar para pensar que pedra está atravancando o caminho daquele beijo....
( Que temos nós a ver com isto? Pensarão alguns. Nada apeteceu-me escrever sobre o assunto e depois, não posso?)
dc
....
O amor líquido é a transformação dos homens em mercadorias, é a solidão de uma sociedade individualista que busca relacionar-se, mas sem se envolver, como se as pessoas fossem descartáveis. A insegurança impede que raízes sejam fincadas, que o produto acabado transforme-se em produto construído, que alguém esteja dentro de mim. No máximo o que são permitidos são os "relacionamentos de bolso", os quais você guarda no bolso de modo a poder lançar mãos deles quando for preciso.
......
http://obviousmag.org/genialmente_louco/2015/o-chove-nao-molha-do-amor-liquido.html#ixzz3pQ2oLReB
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Foto: via Veronique Fauré
Uma Outra SOmbra
Eu olho a sombra, que não é minha, como se fosse, para que não sinta a tua ausência.
É a sombra do balanço com que figuramos o nosso estar, próximos, mas não iguais, Distantes e no entanto o suficientemente perto para sabermos que continuamos na pele um do outro, Ausentes não esquecidos, porque a falta nos lembra todos os dias os pormenores do que cada, num desenho rigoroso feito pela memória.
Nem sempre o que parece é, por vezes a nossa sombra não reflecte o que somos e o que fazemos, é somente a sombra do outro com quem partilhamos a capacidade de vivermos em comum aceitando as diferenças. Em cada um de nós há uma sombra que nos ajuda a viver a realidade, apareça ela travestida do que se queira.
Hoje leio na sombra, como a vidente no fundo da chávena de café, que o futuro ainda é possível e podemos abraçar mais tarde ou mais cedo as sombras que nós trocamos.
dc
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Foto: Via,
Verórnique Fauré
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
SOmbra NUA
Gostei da sombra que vestiste
como uma segunda pele
como se tu melhor existisses
te não mostrando.
Em rigor a nudez da sombra
com que te vestiste
é a mesma com que te vestes
quando eu me desenho em ti
no fim das madrugadas
em que te afloro somente
dizendo estou aqui.
dc
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