sábado, 9 de maio de 2015

Começar de novo ....



A vida marca teu rosto com as sombras inesperadas da espera.
Partiu, sem palavras, como uma anedota, foi comprar o tabaco da liberdade (?). Deixou um vazio, dentro, difícil de preencher, agora terá de se reposicionar com o que à volta vai acontecendo, subir e descer degraus, escolher referências, refazer ou criar novos lugares, novos amigos, apagar as marcas que lhe foram vincando o rosto ao longo dos tempos.
Nada há porque esperar, nem tem razão de ser, paulatinamente, se vai escondendo na aparência de que tudo está igual, com apatia, deixa-se abstrair do que foi, e do que ficou. Olha sem ver, caminha sem pensar, mastiga no ritual da mesa sem pensar nos alimentos. Perda de tempo. Melhor, como tudo na vida, é retemperar forças aproveitando para fazer o que foi posto de lado, avançar projectos e começar de novo. Como disse o poeta:

“O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que não se prova se transfigura noutra doçura muito mais pura e muito mais nova.”   Miguel Torga

dc

segunda-feira, 4 de maio de 2015

composição MÚSICA em CHUVA MAIOR

Ouvir música, enquanto a chuva, lá fora, escorre dos céus e bate nos vidros com o seu matraquear monótono, impede que a inutilidade se aposse de nós, enriquecendo o espírito. Deixo-me ir ao encontro, das notas que desconheço, da melodia que as suporta e de pensamentos desordenados que vão surgindo, num contínuo, sem princípio nem fim, enrolados na brisa das horas que nos vai bafejando o tempo....

- o domingo decorre, sem escutar missa. Só a regueifa amanteigada e o café com leite da manhã, fazem a diferença. Não haverá o cheiro do assado domingueiro, nem, após o almoço, o “passeio dos tristes", num lugar à beira mar, ou dentro das paredes do centro comercial da moda, rota habitual das gentes -

...a música enleia, a voz, lança no ar um texto numa língua que não entendo, bebo-lhe a emoção e limpidez das suas notas. A música, que serve de mote para o momento, repetir-se-á vezes sem conta, como se a intenção fosse gravá-la no pavilhão auricular e se repercutisse no cérebro. Fixa-se como tonalidade de fundo dos pensamentos, lenta, tranquila, inebriante, relaxando e tirando o peso ao corpo fazendo-me navegar imensidão imponderável do universo. Se assim não fosse, talvez a loucura me esperasse à porta de um qualquer minuto da existência, fazendo-me desperdício declinável.


dc





domingo, 3 de maio de 2015

Inventaram um Dia da Mãe...

Inventaram um Dia da Mãe, como se ela não fosse, mais do que um dia. Quase se torna ofensivo atribuir-lhe um dia, como se ela fosse uma pessoa a quem se deve o favor da maternidade, alguém que neste dia se esquece como possível má mãe, ou como o mau filho que não lhe atribui grandeza, e lhe dá a prenda artificiosa da hipocrisia.

Há mães que abandonam, ou maltratam os filhos, há filhos que maltratam, abandonam as mães nos lares, ou lugares parecidos e vão às suas vidinhas, e neste Dia da Mãe, levam um ramo de flores, atiram-nas para uma jarra e de seguida saem marcando quando virão para o jantar. Talvez razão encontrada, muitas vezes, nas maleitas com que crescemos e das circunstâncias em que vivemos.

Não gosto do Dia da Mãe, como outros que assim funcionam como comercialização, na mira do lucro capitalista, explorando os sentimentos. Aproveito, por isso mesmo, este dia - e sempre - para desancar nesse oportunismo e defender que uma vivência tão importante dos seres vivos, não pode ser vulgarizada, desta forma. Perceber ser mãe e ser filho, é parte fundamental da educação, de uma sociedade que privilegia o ser humano acima da materialidade. Somos sim, durante trezentos e sessenta e cinco dias, as mães e os filhos que somos, e cada um deve saber o papel que nos cabe nessa relação e vivência e valorizá-lo.

Lembro-me de dois irmãos que começaram a trabalhar bastante novos, que quando lhes davam uma gorjeta por algum serviço prestado, iam de imediato a uma pastelaria comprar o “pastel chila” que a mãe mais gostava e que praticamente só nessas alturas degustava.
Eram dois prazeres num só acto. O prazer da surpresa e a alegria da mãe com os olhos marejados de lágrimas. Aquele dia não tinha data marcada, mas acontecia com a periodicidade que a vida permitia.

dc

sexta-feira, 1 de maio de 2015

FLOR DE MAIO

 
Quando tudo parece passado e o presente nos desenha negruras, um sorriso chega, da boca perfumada e tudo se realinha de novo em explosões de sentimentos e corpos que se misturam sem saber princípio nem fim.
Assim, pelo menos, agarramo-nos aos pequenos trapos, que sobejam da vestimenta, que nos veste a alma e ficamos com eles colados na pele, com a esperança que tapem definitivamente os silêncios, os vazios, e que na pobreza tanta onde resistimos, se torne mais fácil nos cuidarmos.
Perdidos que estamos, é suficiente ter, mesmo sem saber o dia, a hora e duração dessa posse. Já não cuidamos de saber, mais do que a glorificação do corpo e desejo quase perverso de nos possuirmos. O intelecto, na mistura, estoura a espontaneidade da demanda, por isso inebriamos os sentidos e deixamo-nos percorrer.

dc

domingo, 26 de abril de 2015

Com amor, Abril Sempre


“O dia decorreu chuvoso, como se quisesse impedir que celebrássemos o 25 de Abril, como se o tempo colaborasse com os fantoches.... “

...mas nada impediu que os dedos amotinados percorressem o teu ventre, os beijos tivessem a cor dos cravos de Abril, as palavras fossem sussurradas com a música da “nossa Grândola” e o os nossos corpos explodissem no estralejar dos foguetes na alegria da celebração.


O amor aconteceu, como ligeira pausa, no retemperar das forças para a dura luta que se avizinha cada vez mais feroz, para amar a vida, refazer a esperança e a vontade de recuperar tudo o que de bom foi conquistado com a revolução dos cravos, e de Abril.


O amor não trava a luta ou a revolução, o amor é parte integrante e motor da revolução.


Com amor, Abril Sempre.

dc



terça-feira, 21 de abril de 2015

QUEREM-NOS FORMATADOS


Morreu Eduardo Galeano, e como sempre acontece, “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”,  daí resolvi dar uma passeio pelas livrarias, de maior dimensão no mercado livreiro, para ver se encontrava um dos seus livros mais recentes, “Os Filhos dos dias. Ed. 2012”. Espanto, ou nem por isso, não havia nenhum livro recente nem antigo, pelos vistos o autor trabalhava com pequenas editoras e como tal “não existia”.

Fico-me a pensar, se os editores e os responsáveis das livrarias, se preocupam somente com o lucro, ou se existe algum plano maquiavélico exterior à sua gestão, para que determinados livros - que despertam consciências, que defendem princípios e valores sociais e culturais, exigíveis numa sociedade - pela sua “perigosidade”, sejam excluídos dos escaparates das livrarias? Será, que escrever, como fazia Eduardo Galeano, sobre o
Direito a um trabalho digno; o Direito de respirar; o Direito à vida; o fim da Violência de homens contra mulheres; a Igualdade perante a lei, que até constam na legislação constituinte de inúmeros países ( direitos nem sempre respeitados), é um “pecado mortal” e não convém aos altos interesses do capital financeiro, que as pessoas tomem consciência disso?

É bom que atentemos neste assunto e procuremos ver, como já acontece na internet através das redes sociais - e não só, que todos os dias e em todos os lugares, através de marketing, publicidade, cinema, livros, nos meios de comunicação como jornais, revistas e Tv, somos encaminhados e influenciados, para uma formatação mental de acordo com os interesses dos políticos, que nos governam e mal, e do grande capital financeiro. Existe toda uma estratégia pensada e planeada, para sermos transformados em marionetas - com apoio de alguns fazedores de opinião, que leem as badanas dos livros - de interesses alheios aos nossos, como cidadãos e seres humanos, até alguns fazedores de opinião  cabe a todos nós impedir que a levem a bom porto.

dc

Algumas citações para meditar...

"Em política, nada ocorre por acaso. Cada vez que um acontecimento surge, pode-se estar seguro que foi previsto para levar-se a cabo dessa maneira."
      
Franklin D . Roosevelt - Presidente dos Estados Unidos (1933 a1945)

"O mundo divide-se em três categorias de gentes : Um muito pequeno número que produz acontecimentos, um grupo um pouco maior que assegura a execução e mira como acontecem, e por fim uma ampla maioria de não sabe nunca o que ocorreu em realidade "

      Nicholas Murray Butler
- Présidente da Pilgrim Society, membro da Carnegie, membro do CFR (Conselho para as Relações Externas, Council on Foreign Relations)



segunda-feira, 20 de abril de 2015

FIM DE TARDE acontecendo


A mar calmo, ali ao lado, uma brisa leve correndo, e os dois ali sentados observando como que parados no tempo. É o final do dia chegando, o ruído de fundo da cidade se esbatendo no crescer do silêncio. O calor do dia se atenua, deixa os corpos descansar, a pele respira sem a húmidade permanente e pegajosa das temperaturas elevadas. Acontecem as carícias suaves e as palavras doces que se soltam devagar, com sentido quase filosófico, acompanhando o amornar do ambiente que os envolve. Era o verão com a vida acontecendo.

dc