quinta-feira, 21 de maio de 2015

Nas MARGENS DO TEU CORPO




navego nas margens redondas
da superfície do teu corpo
com minhas naus de cinco velas
e minha boca no caminho delas.


sinto a brisa dos teus suspiros
trazida pelo marulhar das ondas
nesse teu mar salgado
deliciosamente agitado.


e assim


sem principio nem fim
vou cada vez mais fundo
por entre a bruma do teu desejo
até que sinta teu corpo saciado
no calor do teu beijo.

dc



sexta-feira, 15 de maio de 2015

Tantas vezes a paixão...


....... se arrasta pela sola dos pés.
Tantas vezes se perde o chão, nessa confusão, que se chama paixão.
Pinta-se tudo de vermelho, desenham-se corações com nomes atravessados e frases cheias de promessas. Uma ausência de minutos transforma-se em angústia, em espera agitada, Um olhar atravessado, com outro cruzado, trazem a insegurança e com ela os ciúmes. Ouvem-se músicas com vozes que arrepiam a pele, deixam o coração apertado, lembram o beijo nos lábios pousado, o corpo abraçado e também as dores da alma, os amores perdidos, as traições...
Quando da paixão se diz, ser razão de vida para realizar um projecto, corre-se o risco de transformar a vida num lugar sem saída, ou no deserto, com morte garantida....

dc



quarta-feira, 13 de maio de 2015

Estava tão enamorado....



...... que para ela escreveu:

"Tu és a agulha, que encontrei no palheiro das minhas escolhas, Todos os dias coses os tecidos da minha alma, alinhavas a minha esperança e me picas as pontas do dedos para me lembrares que estou vivo e sou parte de ti."


dc



sábado, 9 de maio de 2015

Começar de novo ....



A vida marca teu rosto com as sombras inesperadas da espera.
Partiu, sem palavras, como uma anedota, foi comprar o tabaco da liberdade (?). Deixou um vazio, dentro, difícil de preencher, agora terá de se reposicionar com o que à volta vai acontecendo, subir e descer degraus, escolher referências, refazer ou criar novos lugares, novos amigos, apagar as marcas que lhe foram vincando o rosto ao longo dos tempos.
Nada há porque esperar, nem tem razão de ser, paulatinamente, se vai escondendo na aparência de que tudo está igual, com apatia, deixa-se abstrair do que foi, e do que ficou. Olha sem ver, caminha sem pensar, mastiga no ritual da mesa sem pensar nos alimentos. Perda de tempo. Melhor, como tudo na vida, é retemperar forças aproveitando para fazer o que foi posto de lado, avançar projectos e começar de novo. Como disse o poeta:

“O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho fica a cepa a sonhar outra aventura. E que a doçura que não se prova se transfigura noutra doçura muito mais pura e muito mais nova.”   Miguel Torga

dc

segunda-feira, 4 de maio de 2015

composição MÚSICA em CHUVA MAIOR

Ouvir música, enquanto a chuva, lá fora, escorre dos céus e bate nos vidros com o seu matraquear monótono, impede que a inutilidade se aposse de nós, enriquecendo o espírito. Deixo-me ir ao encontro, das notas que desconheço, da melodia que as suporta e de pensamentos desordenados que vão surgindo, num contínuo, sem princípio nem fim, enrolados na brisa das horas que nos vai bafejando o tempo....

- o domingo decorre, sem escutar missa. Só a regueifa amanteigada e o café com leite da manhã, fazem a diferença. Não haverá o cheiro do assado domingueiro, nem, após o almoço, o “passeio dos tristes", num lugar à beira mar, ou dentro das paredes do centro comercial da moda, rota habitual das gentes -

...a música enleia, a voz, lança no ar um texto numa língua que não entendo, bebo-lhe a emoção e limpidez das suas notas. A música, que serve de mote para o momento, repetir-se-á vezes sem conta, como se a intenção fosse gravá-la no pavilhão auricular e se repercutisse no cérebro. Fixa-se como tonalidade de fundo dos pensamentos, lenta, tranquila, inebriante, relaxando e tirando o peso ao corpo fazendo-me navegar imensidão imponderável do universo. Se assim não fosse, talvez a loucura me esperasse à porta de um qualquer minuto da existência, fazendo-me desperdício declinável.


dc





domingo, 3 de maio de 2015

Inventaram um Dia da Mãe...

Inventaram um Dia da Mãe, como se ela não fosse, mais do que um dia. Quase se torna ofensivo atribuir-lhe um dia, como se ela fosse uma pessoa a quem se deve o favor da maternidade, alguém que neste dia se esquece como possível má mãe, ou como o mau filho que não lhe atribui grandeza, e lhe dá a prenda artificiosa da hipocrisia.

Há mães que abandonam, ou maltratam os filhos, há filhos que maltratam, abandonam as mães nos lares, ou lugares parecidos e vão às suas vidinhas, e neste Dia da Mãe, levam um ramo de flores, atiram-nas para uma jarra e de seguida saem marcando quando virão para o jantar. Talvez razão encontrada, muitas vezes, nas maleitas com que crescemos e das circunstâncias em que vivemos.

Não gosto do Dia da Mãe, como outros que assim funcionam como comercialização, na mira do lucro capitalista, explorando os sentimentos. Aproveito, por isso mesmo, este dia - e sempre - para desancar nesse oportunismo e defender que uma vivência tão importante dos seres vivos, não pode ser vulgarizada, desta forma. Perceber ser mãe e ser filho, é parte fundamental da educação, de uma sociedade que privilegia o ser humano acima da materialidade. Somos sim, durante trezentos e sessenta e cinco dias, as mães e os filhos que somos, e cada um deve saber o papel que nos cabe nessa relação e vivência e valorizá-lo.

Lembro-me de dois irmãos que começaram a trabalhar bastante novos, que quando lhes davam uma gorjeta por algum serviço prestado, iam de imediato a uma pastelaria comprar o “pastel chila” que a mãe mais gostava e que praticamente só nessas alturas degustava.
Eram dois prazeres num só acto. O prazer da surpresa e a alegria da mãe com os olhos marejados de lágrimas. Aquele dia não tinha data marcada, mas acontecia com a periodicidade que a vida permitia.

dc

sexta-feira, 1 de maio de 2015

FLOR DE MAIO

 
Quando tudo parece passado e o presente nos desenha negruras, um sorriso chega, da boca perfumada e tudo se realinha de novo em explosões de sentimentos e corpos que se misturam sem saber princípio nem fim.
Assim, pelo menos, agarramo-nos aos pequenos trapos, que sobejam da vestimenta, que nos veste a alma e ficamos com eles colados na pele, com a esperança que tapem definitivamente os silêncios, os vazios, e que na pobreza tanta onde resistimos, se torne mais fácil nos cuidarmos.
Perdidos que estamos, é suficiente ter, mesmo sem saber o dia, a hora e duração dessa posse. Já não cuidamos de saber, mais do que a glorificação do corpo e desejo quase perverso de nos possuirmos. O intelecto, na mistura, estoura a espontaneidade da demanda, por isso inebriamos os sentidos e deixamo-nos percorrer.

dc