domingo, 31 de janeiro de 2016

De dentada em dentada




Quem poderá dizer quem comeu o quê? Se a vermelha maçã, a verde, ou se a verde maçã, a vermelha... As conotações de cor podem querer dizer que a verde está a precisar de amadurecer, e que a vermelha já madura tem a experiência do saber, o calor do seu comer, ou é imagem do pecado que dizem do Paraíso tem seu nascer. Poderá também pensar-se a cor verde, tem conotação de frescura, de esperança e um regalo para os olhos, ou que está pronta para amadurecer. Na verdade foram esculpidas com dentes de sabedoria, uma e outra foram comidas de expressa vontade, desenhando na forma a realização do seu desejo... de dentada em dentada, na boca como um beijo.

dc 



quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Por trás de um sorriso...


  
O sorriso dominava-lhe o rosto, sempre atenta ao que a rodeava, nas situações mais difíceis brincava com as palavras, alargava o seu sorriso e o carinho com que se expressava, Todos tinham, perante ela, lugar no seu tempo disponível para serem compreendidos e ânimo para desenvolver as suas confissões. Nem todos percebiam essa sua forma de estar, a extravagância no vestir, o seu comportamento aberto e sem constrangimentos, o que não raro, transmitia sinais errados em especial aos homens, Estes perante ela descreviam o seu mundo de raivas, incompreensões e desesperos, e procuravam em seu ombro pouso de lamentos, alguns, erradamente, pensavam que isso criava suficiente intimidade para terem direito a usufruir o seu corpo e a sua bondade. Ela só dava um pouco de si para contribuir para alegria e felicidade dos outros e de si própria, não permitindo que lhe tirassem o sorriso de que não pretendia desligar-se, mesmo quando o lado negro da vida a convidava a retirá-lo da moldura do seu rosto. 
Verdade, verdade, ela se perdia nos seus sonhos e muitas vezes era possível encontrá-la sentava nas escadas do castelo olhando o reino dos outros e ficava em silêncio, embevecida, os seus olhos e o seu sorriso possuíam um brilho especial como se procurassem um lugar para pousar e encontrar a resposta aquele sentimento que dentro de si ia habitando. Ela atirava para o ar toda a sua alegria, e sabia, que entre o sol e a chuva, o seu príncipe chegaria.
dc 



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Gato que é Gato




Sentado no parapeito
O gato apanha seu sol
E fica observando de seu jeito
A borboleta borboletando
Sobre o girassol

Felino é o gato
E como qualquer gato gateia
Acolhe sempre seu dono
Quando este se sente no abandono
E com ele ronrona ou pranteia

O gato tem seu dono por companhia
Muito independente se sarcoteia
E a toda a hora se asseia
Mas quando a fome aperta mia mia
E nas pernas de seu dono se enleia

Com a fome saciada
Anima o dono com seu brincar
E no seu colo se vai aconchegar
Ambos se vão afinando
O humano com a mente sossegada 
E o gato que é gato gateando

dc


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Um dia acontece

 



Chega silenciosamente
Umas vezes devagar
E quase não se sente
Outras apressadamente

Chega sem lhe sentirmos o pé
Assenhora-se do pensamento
Abala o corpo por dentro
Na primeira impressão recebida
Na fala ainda contida
No sorriso que entontece
No brilho dos olhos que acontece
Nas mãos que se agitam
Nos sentimentos que gritam

E assim da noite para o dia
Abala o nosso coração
Faz-nos chorar de alegria
Voar nas asas da emoção

É voz dos poetas e escritores
De artistas e doutores
Todos eles vibram, sentem
E contam estórias que não mentem
Ao dizerem de seus amores.

dc

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

o mar tem essa força.



Assustador, pelo vento que o arrastava em ondas cadenciadas, o mar ia inundando tudo trazendo o medo à nossa pobre existência, as vagas enormes atemorizavam ao mesmo tempo que nos seduziam a avançar em sua direcção, atraíam-nos como se fossemos surfistas querendo apanhar a melhor onda. Apetecia desafiar a sua violência, como se fosse uma luta, que sentimos perdida, mas justa, contra o seu poder...o mar tem essa força.
As ondas iam explodindo contra o farol, ele ali parado continuava...apreciando a sua força. Um casal, que passeava pela marginal debaixo da chuva torrencial, parou para observar, como se aquele espectáculo fizesse parte de uma paisagem idílica do seu romance. Coisas estranhas que se fazem perante a força da natureza e os seu fascínio. 
dc





domingo, 10 de janeiro de 2016

Tempo de ESPERA



Não sabes, mas eu fui lá, Esperei no tempo, não na esperança, pois desta teria, ou deveria estar mais convicto...não sei se foi a chuva, ou o vento que tudo fez parar... fiquei sozinho em silêncio, como se deve ficar...sem nada me apoquentar, Nada se pode fazer quando a vontade não chega e na carruagem dos dias a carga é intensa e as respostas são lentas... Olhei o brilho que vinha das barras de aço, a ferrugem depositada nos madeiros, a  negrura do óleo no cascalho onde sobressaiam os parafusos poderosos de fixação... Olhei os fios eléctricos pendurados do céu, que faziam a malha que decorava o espaço cinzento das nuvens, neles as gotas da chuva, minúsculas esferas brilhantes, depositadas como peças de roupa. A voz de fundo anunciava o vai e vem dos chegados e dos que partiam como banda sonora do vazio que me rodeava.
    Virei as costas ao momento, dirigindo-me para o carro estacionado... Deixei que a chuva entrasse pelo meu corpo, como se me quisesse lavar, ia escorrendo pelo cabelo, entrando finamente pelo pescoço até dentro gelando o peito...
    Amanhã tudo será diferente, talvez mudando a espera pela esperança... Na verdade o tempo não se recupera, acontece!
dc




sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Vem....



Vem...
que eu te espero como sempre esperei
e como sempre esperando estarei.

Vem...
dá-me só um sinal
para que o relógio tenha horário igual

Vem...
que eu vou-te buscar
onde sempre fui para não te perderes do chegar

Vem...
estou aqui no mesmo lugar
que sempre estive para te abraçar.

Vem...
como sempre soubeste,
como sempre fizeste, para gente se amar

Vem...
não percas esse luxo que é o tempo
de ter tempo para viver o momento

Vem...
e no meu olhar vais encontrar
o brilho que apaga toda a saudade de esperar

Vem...
a sexta feira não é o treze da superstição
em qualquer dia o comboio chega à estação

Vem...
somente vem... despojada de medo
liberta-te... já não amamos em segredo

dc