Seus olhos cor de mar, levaram-na para
longe da origem de nascimento.
Queria pôr seus pés no areal imenso, com o mar se chegando de vez em quando
para que sentisse o seu afago.
De quando em quando, olhos perdidos no
horizonte, sem pensar na razão de estar ali, ia caminhando, sentindo o prazer dos
pés penetrando a areia no seu pousar, e aquele cocegar das suas mil partículas,
que lhe transmitiam segredos daquele mar imenso.Soltou o cabelo e deixou-o esvoaçar,
queria que ele voasse ao sabor da brisa roçando o seu rosto de maneira
desordenada, como uma caricia de um amor descontrolado usufruindo a liberdade
de gozar e amar. Tinha a boca humedecida pelo beijo molhado do rebentar das
ondas. O vestido comprido de tecido fino e florido, colava-se-lhe nas coxas, revelando-a,
toda ela ondulando a cada movimento do corpo. O cheiro do mar entrava-lhe pelas
narinas e as gaivotas marcavam o compasso nesse seu arfar. Era ela um ser sem tempo,
sem encontro marcado, sem lugar de permanecer, um coração saltimbanco
procurando abrigo em outra terra, melhor, em um outro mar, para se afastar desse
outro mundo sem resposta, que fora seu lugar de habitar durante tanto tempo.
Partir fora importante, deixara tudo para trás, cansara de viver em “Banho
Maria”, precisava de estar viva. Queria mais que segurança e materialidade,
queria emoção, sentimento, prazer de se sentir importante, amada, no cantinho
recatado de alguém, onde fosse pensamento primeiro das sua escolhas.
Chegara àquele lugar que lhe abria uma porta de esperança, mais não fosse, no
reencontro consigo própria, naquele passear quotidiano, pelos limites entre os
pinheiros mansos e as dunas, pelo areal imenso, pelo beijo do mar, pelo ar repleto
cheiros diversos.. todo um sentir dos elementos com que a natureza a bafejava,
deixando-a com todo o tempo do mundo se desenrolando, sem pressa, sem objectivo
pré-determinado, com o acaso como perspectiva.
Viver seria a perspectiva...sentir seria o possível... o agora, razão do seu
estar.
dc