sexta-feira, 11 de novembro de 2016

INCÓGNITA





Seus olhos verdes
Pousaram no meu café
E seu amargo se perdeu

O mar trouxe seu frio
E em meus braços
Encontrou o estio

Sua boca se pousou
No vinho dos meus lábios
E o mundo em nós girou

Nossos corpos
Foram no leito
Um amor quase perfeito

No sorriso do amanhecer
Juntos se encontravam
E de novo recomeçavam

No dia borboletando
A estória se repetia
Alegrando o nosso dia

Na hora da partida
Nosso corpo gelava
A saudade magoava

Chegou e partiu
E vezes sem conta
Toda a estória se repetiu

Num momento funesto
(ninguém sabe o resto)
Um em cada lado ficou

Perderam-se dos lábios
do café, do corpo e do mosto
E restou somente o desgosto.

dc



quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Sem título



  
Tomamos a palavra, como se fosse nossa, agarramo-la ao sonho, como se tivessemos mãos de aço e um peito aberto para a guardar. Usamo-la vezes sem conta sempre na ambição de que o seu significado se cole ao que queremos e depois....fica só a palavra, o significado não corresponde à realidade que dela criamos.
Neste aqui e agora, fica-me o medo de a usar mais uma vez e dela me perder.

dc


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O beijo nunca aconteceu






As falas e seu dizer
Eram difíceis de perceber

O sonho e a fantasia
Confundiam a noite com o dia

As horas se perdiam
Sem saber porque o faziam

A conversa começada
Nunca era acabada

O beijo nunca aconteceu
No sonho prevaleceu

O corpo nunca abraçou
Na esperança se ficou


O poema foi a realidade
E sua dolorosa verdade

dc



sábado, 5 de novembro de 2016

Só por dizer




Foi-se o mês de Outubro com rapidez inesperada e com ele o calor acima da média, quase de verão, que nos confundiu um pouco. Foi uma espécie de verão atrasado para compensar os dias menos felizes no período de férias. Até árvores continuaram cheias de folhas que pareciam recusar-se a cair, matizando o chãos, como sempre acontece.
Com este clima híbrido, nem carne, nem peixe, a mudança da hora contribuiu para nos afectar um pouco mais, pondo-nos “como baratas tontas”, tornando este período do calendário meio confuso. Se a tudo isso juntarmos o fim das praxes aparvalhadas e a festa de importação, o “Dia das Bruxas”, tudo fica pior.
Ao abriram-se as portas do mês de Novembro, este se apresentou desde já com alguma frieza, trouxe com ele lembrança de que o inverno está aí a dois passos, e portanto há que começar a andar de guarda-chuva e roupa adequada, para enfrentar a coisa a sério. Cá por mim, estou tentando não me deixar levar pela ideia negativa, expressa já por alguns, de que o tempo já não é o que era...pudera, nunca foi. Dizem só por dizer para tentarem deixar-nos ainda mais confusos


dc

domingo, 30 de outubro de 2016

Ilusão de Outono



A chuva, abençoada cai encharcando o solo, amaciando as terras endurecidas pelo calor do verão. Solo que liberta vapor quando a água fria lhe toca.
A água na terra faz lama grossa, espessa, onde rastos indefinidos nascem e morrem rapidamente, não há moldagem possível, assim se sente ele feito de matéria, não moldável nem adaptável a qualquer fôrma. Tudo vira fantasma, como se nevoeiro tomasse conta da paisagem, fazendo que a vida vire algo volátil.
A natureza o instruiu a resistir às vontades alheias de formatarem os seus desejos e vontades. Partilhar sem se perder de si, sentir sem que seja apego, viver e não ser um morcego só visível na noite que o protege. Antes a tartaruga que sai do ovo, partindo a casca da “segurança”, e batalha para sair da areia em direcção ao mar para se encontrar com a vida, nesse mar intenso, imenso, onde se pode sobreviver e durar.
Quem disse que a vida é fácil? O tempo não se ganha, perde-se como tal há que aproveitar as próximas vinte e quatro horas tentando contabilizar o maior de momentos positivos. Com a mudança da hora, a ilusão de que se ganha mais algum tempo para viver, afinal precisamos de manter a ilusão.

dc