terça-feira, 12 de junho de 2018

Fragmentos




Só lhe conhece o sorriso, nada sabe da tristeza que o fez sumir.

Os olhos brilham como se tivessem mais para dizer. Segundo parece, foi um sorriso emprestado num momento agradável. Agora, só existe um retrato que esconde a desilusão, e um certo vazio para lá do visível, numa espera que não sabe de quê.
As lágrimas foram embora, levadas pela noite que findou um dia atípico. Amanheceu o novo dia. Meio aturdida ainda pelo sono, que lhe anestesiou os sentidos, sente um resíduo de sonho que não sabe definir. A mensagem no telemóvel alerta-a para sorrir. Está certo, fá-lo-á mesmo que se revire por dentro, com a certeza de que a figura meio tonta que fará, a divertirá, e tudo será melhor sem o peso da penumbra que passeia pelo meu pensamento. 


dc


sábado, 9 de junho de 2018

Encontro inesperado




Estava sentado na esplanada da praça, quando a viu do lado oposto ao seu, aconchegada a ele beijando-o. À distância, era impossível que ela o pudesse ver, daí o registar, à vontade, o que via. Muitos meses tinham decorrido desde a última vez que se viram e falaram, e outros tantos necessários de adaptação à sua ausência, no seu quotidiano. Sentiu o ciúme normal nestas situações, manifestado pela saudade de momentos semelhantes de outrora. A imagem tinha os mesmos elementos visuais, igual expressividade, conforme registo em seu arquivo. Tudo corre como tem de correr, não se consegue alterar, enquanto a vontade for de um só. Aquela cena funcionava em gesto mímico levado à mente, uma espécie de registo digital com os “píxeis” necessários para ficar visível com a mesma qualidade do arquivo na memória. Quando ocorrem estes encontros inesperados, pensamos, e repisamos, procurando encontrar as razões para nossa incapacidade de conseguir pensar com o coração e sentir com o cérebro, tornando perenes os sentimentos, que um dia, nos trouxeram o brilho da alegria aos olhos e o prazer de viver.

dc


quarta-feira, 6 de junho de 2018

Tu sabes...



Sabes....
faça o tempo que fizer
chuva ou sol
horas minutos ou segundos
vento ou tempestade
o mais que possa acontecer
eu estarei deste lado
para o que der e vier  

tenho
capacidade  para ouvir
paciência infinda
amizade para durar
um ombro para rir
um outro para chorar
ternura que não finda
e todo eu para te abraçar


dc

terça-feira, 5 de junho de 2018

Da estória à história




Muito tempo passou e a estória, talvez tenha passado à história, ou se calhar não. Muito ficou por dizer, ou esclarecer, sem correr o risco de errar. Como todas as estórias, com princípio, meio e “en”fim, sem ponto final. Na verdade ficou sem saber como contar as razões de tudo o que aconteceu, quando de modo tão inesperado a estória se interrompeu.  Tornou-se um conto inacabado, nas águas turvas da indefinição, esperando novos episódios que nunca se escreveram. Um dia se ao acordares, te lembrares, de como finalizar a estória, escreve-me para saber se, por acaso, o fim da estória é um capítulo só meu.

dc

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Divagando




Quando tudo o que existe ao nosso redor, a cada momento, nos traz à lembrança acontecimentos, lugares, emoções, pessoas e comportamentos, é difícil partir para qualquer lado do esquecimento. As emoções são o que mais atrapalha o discernimento, e mais difíceis de superar. É necessário espírito forte, capaz, para trabalhar e aceitar as memórias, sem que afectem o evoluir da sua estadia por estes lugares de existência.

dc