sábado, 9 de março de 2019

Estória de Amor




Cada um, no seu sítio, agitando-se, indecisos no começar. Um vendo de cima outro observando debaixo para cima, percorrem com passinhos curtos rolando na sua linguagem. Ao fim de alguns momentos, com a confiança com que a natureza os serviu o de cima desloca-se lançando a asa agitando tudo em volta. Sem perder tempo se abeira, e provoca e sem mais aquelas lhe prega um beijo, encostam as cabeças e se vão passarinhando, até ficarem bem juntos olhando e observando o espaço envolvente até retomarem os beijos e o saltitar alegre dos apaixonados. Não era o Dia dos Namorados, mas que pareciam um par de namorados, ai isso pareciam.

dc

domingo, 3 de março de 2019

Esboço dum sonho




Esboçou vezes sem conta, procurando encontrar o espaço, a proporção ideal e as soluções, faltava encontrar o lugar onde construir e o dinheiro para realizar. Teria de ser um qualquer lugar com árvores e junto da água, de preferência a do mar, mas poderia ser um rio, um lago uma barragem, um qualquer espelho de água que lhe permitisse pousar os olhos, sempre que se sentisse cansado dos dias. Ele tinha em mente um sítio especial que visitava frequentemente e que correspondia à maioria das suas premissas. O sonho ele tinha e a ideia base para construir a casa, o lugar poderia ser, mesmo aquele que tanto visitava. O único obstáculo era a falta de condições financeiras para realizar o seu objectivo.
Muita gente diz, para “pensar positivo”, que “tem de fazer isto e aquilo”, para “se obter é preciso trabalhar, esforçar-se”, “nada é de graça” e um sem fim de chavões, mas ele na realidade só apostava no euromilhões, essa sorte tardia, que nunca chega, porque não via “lura onde saísse coelho”, toda a sua vida fora de trabalho e estudo. Como essa gente que tantos conselhos dão, também ele pensava, que estava a um bocadinho assim, pequenino, assim muito pequeno de conseguir, e pondo os dedos, polegar e indicador, a meio centímetro de distância, expressando a dimensão. Afinal era só dinheiro e o dinheiro não dá felicidade, não é? Pois é, esse vil metal que não dá felicidade, que era o necessário para dar o empurrão que precisava para resolver o sonho.
Reflectindo, sobre o assunto, especulando e alargando o leque dos pensamentos, dizia de si para si: por que razão o mundo, tendo evoluído, desta forma actual, com uma natureza rica de diversidade, com seres humanos de diferentes cores e raças, com uma inteligência que se julga diferente e superior, a todos os outros seres que habitam à superfície da terra, nos deixa a léguas de realizar o qualquer ser humano deveria ter por direito? Alguém que cria as cidades, inventa e projecta, desenvolve e aplica os seus conhecimentos científicos, e que se encontra limitado a uma mentalidade economicista que lhe impede de ser livre e poder ver e visitar diferentes lugares do mundo, de ter uma casa, e de poder, se quisesse realizar os sonhos, que não colidem com os interesses de outros? Uma sociedade com diferenças entre seres “humanos” tão acentuadas. Afinal o que pretendem esses que têm milhões em contas de bancos, que exploram seres humanos, para terem dinheiro e luxos, que alguns deles nem apreciam? Não são eles que proclamam que o dinheiro não traz felicidade? Pois pimenta no … dos outros é refresco, como tal todos temos o garrote que nos limita a ser escravos em qualquer momento da história da humanidade. Somos a democracia de direito zero, a favor do direito em numerário de uns poucos.

dc

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Um outro tecer




Sorris, e com essa luz que irradias dos teus olhos, fazes mover o meu coração como um tear, que tece com fios de amor o tecido da minha existência.

dc

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Porta Fechada




Não aprecio a noite em si, como momento de viver, mas como um espaço em que só a mente faz ruído, nesse agitar das correntes que atravessam o cérebro, na procura das perguntas, quase sempre sem resposta, ao que queremos saber.
De repente não somos ninguém ficamos esquecidos, tudo é mais importante do que nós. Perdemos a boleia do coração e ficamos estacionados no mar morto da ignorância. Ficamos como figuras desenhadas a lápis sensaborão que se apagam facilmente com a borracha do tempo. Em gíria de futebol, passamos de bestiais a bestas, no tempo ínfimo dum sopro cavernoso da mente perversa que tudo vê errado. A dedicação se transforma, pondo o eu em primeiro lugar, abrindo as portas ao julgamento, do que se desconhece.
E penso, talvez tenhas razão, em ficar nesse mundinho apertado
, onde se perde a voz e não é necessário arriscar, preferes a estabilidade da segurança material. Os anos correrão na sua normalidade do mesmo modo que as rugas mapearão o teu rosto; enquanto isso os cabelos ficarão cinzentos, os olhos pálidos e as formas do corpo terão tendência para se indefinir entre a magreza, ou a gordura, extrema. Será um congelamento precoce numa vida esmorecida, sem o gozo emocional de viver. Entretanto, quando uma porta se fecha outra se abre, procurarei encontrar um outro alguém que arrisque, valorize e aprecie viver o presente carregado de emoções. Não estarei cá tempo suficiente, nem me perderei para saber se a tua opção foi a melhor.

dc

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

De regresso ao mar



O corpo leva-me ao encontro da brisa, do cheiro da maresia, que inspiro como um animal selvagem, enchendo os pulmões de oxigénio, inebriando-me. Eu corro ao longo dos pensamentos que as ondas do mar renovam. Não acelero a passada, deixo os pés entrarem na areia sentindo a humidade da orla da água, o chapinhar soa aos meus ouvidos como uma canção, dando ritmo e pausando as batidas do coração. Ali amenizo todas as tensões, afasto problemas, encontro-me frente a frente comigo próprio, minimizando cansaços e todas as dores.
Na minha mente repete-se, como um estribilho: vieste do mar até mim, é no mar que procuro esquecer-me de ti. É possível que tenha de ser assim, este procurar na raiz, a solução.
Foi junto ao mar que pela primeira vez me extasiei com o teu corpo e te vi quase nua, seduzido por cada curva e contracurva que o delineavam. Foi uma loucura o prazer de beijar os teus lábios quentes pelo sol e pelo desejo. No mar lavámos o corpo depois do amor e respirámos o ar cheio de odores diferentes, carregando as energias, descansando no areal, sentindo aquele arrepio gostoso do contraste do corpo enregelado pela água e o calor do sol esquentando a pele. Não ficávamos ao sol para ficarmos morenos, mas para gozar aquele quente e frio. Por vezes repetíamos tudo desde o início, até sermos tomados pelo cansaço, que nos tornava lentos, dengosos, aliciando a ficar inertes e esparramados na areia. O caminhar no regresso, ao fim de tarde, era penoso, pelo cansaço e, porque o sol se pousava no horizonte fazendo-nos sonhar com a sua beleza, mexendo com as nossas emoções.
Agora, aqui estou eu regressado junto do mar, fazendo a catarse, tirando dentro de mim, todos os resíduos negativos deixando-me purificar, como se o mar fosse um soro que repara todas as anomalias.
“Aproveito e corro ao longo dos pensamentos que as ondas do mar renovam” deixando-me livre para renascer.

dc