domingo, 19 de maio de 2019

Duas gotas



Nem muito bonita nem muito feia, lábios desenhados olhos expressivos, um corpo de desenho feminino comum, nem alta nem baixa, média em tudo quanto designa o aspecto físico. Ele de igual modo semelhante a ela como espécime masculino.
Adoravam conversar de tudo e nada, desde a profissão à política, passando pelas artes e conversa corriqueira de café. As diferenças esvaziavam-se, nesse acalorado conversar, sem que nenhum quisesse ficar com a primazia da opinião. As tarefas divididas, na casa comum, os tempos ocupados sem perda de individualidade, respeitando-se os silêncios quando necessários. No amor se entendiam, sem escolha de lugar especial ou posição, nada se impunha tudo acontecia fruto de entendimento, de olhares sorrisos, palavras. Eram um casal, não tinham estabelecido prazos ou “contratos”, tudo fluía de, per si. Na realidade, eram como duas gotas de água escorrendo na superfície de vidro da janela, que convergiram em determinado ponto da descida e continuavam juntas no seu deslizar, sem estabelecer quando parariam ou se estiolariam pelo tempo. Bem viver assim é bom e às vezes acontece.


dc

sábado, 18 de maio de 2019

Teias do coração




Presos na teia que tece o coração, vivemos abraçados com a solda do amor, a carícia da palavra trazendo o gesto, os aromas referenciando dos corpos, o toque inteligente na superfície, que domina a profundeza das emoções liquefazendo desejos. Crescente o prazer de permanecer no mesmo espaço, vogando nas nuvens, mas solidificados e presos no sentimento de serem livres no desejo de ficar eternamente.

dc

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Feitos pó



Sempre chegaremos ao final, lixo feito pó, voltaremos a ser terra, até lá “reduziremos a pó” tudo o que, mesmo sabendo-nos tão voláteis, não conseguimos manter vivo enquanto o fomos.

dc

domingo, 5 de maio de 2019

O relógio está a contar



Sim, porque não se espanta pela sua espera, tão longa, dura e vazia? Que fazer para que acredite nela, como uma espécie de celibato assumido, como um retiro onde deixa que a vida decorra, em meditação e memória, até que se torne a realidade que a fez esperar. Às vezes, senta-se no sofá e tenta fazer uma espécie de apneia para se sentir sufocar, procura através dessa sensação de limite, que algo de inesperado aconteça que a ajude a descobrir a resposta se vale a pena, ou não, continuar nesta espera. Desta vez, não correu ao encontro da aventura, arduamente ocupou, com o trabalho, o cérebro e o físico, e nos descansos ficou-se pelo silêncio cuidado, pelas leituras várias, pelas caminhadas longas na areia do mar, pelo horizonte e seu pôr do sol desenhado naquele tapete verde, onde encontra a companhia das suas reflexões. Escreve vezes sem conta, com tinta invisível, com medo que leiam o seu segredo, porque não tem a certeza de que se a mensagem se revelar, terá a resposta que espera.


dc

sábado, 4 de maio de 2019

Os dias ..acontecem



Há dias em que a acordamos e a tristeza está instalada em nós
Há dias que vivemos no meio de muitos e não temos voz
Há dias que tudo escorre por cima da pele impermeável
Há dias em penamos sem saber o porquê de acordarmos
Há dias que tudo em nós, é o que perdemos e já não o sonhamos.

dc