sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Pensamento fora da caixa(?)

 


Eu jogo com os silêncios de cada um, que sob as gargalhadas se escondem, os silêncios fazem parte do meu universo. Hoje são as festividades de um dia, que vibra como único na imensidão dos que dominam o ano.

Eu próprio, sento-me a um canto da sala, vendo toda aquela agitação, como se fosse um filme desenrolando aos meus olhos. Enquanto isso, observo numa das mesas da sala, aquela criança nas palhas, deitada, no meio do presépio, e penso nos milhões de crianças que em todo o mundo, estão longe de ter uma vida feliz e sem os seus mais elementares direitos satisfeitos*. Nós os outros, os adultos, brincamos às prendas, comemos e bebemos por um ano e dizemos, como verdade absoluta, que o Natal é sempre que o homem quiser, mesmo com a consciência de termos a liberdade presa por um fio, chamado teste e um passaporte digital sanitário. Vivemos o mito de que a "ordem social" nos beneficia e nos cuida, tememos pensar e aceitamos que outros tomem decisões como se fossem nossas.

Estamos naquele marasmo em que todos evitamos conhecer a verdade que está à frente do nariz. Temos vindo a ser educados, há largos anos para a obediência, ao governo, aos patrões, às instituições corporativas, aos desígnios do marketing e a pensar que ser livre é ter coisas, e que a tecnologia é panaceia para as ausências várias que nos vão tomando. Moldam-nos nas escolas e universidades, com avaliações tecnocratas, para no fim, sermos bons no trabalho a defendermos o individualismo egoísta, seja num trabalho precário, ou atingir uma categoria profissional. Levam-nos a sustentar lutas entre nós, para chegar a um objectivo, como se tudo fosse permitido. Morder se necessário a canela do que está à frente, mentir, forjar situações para conseguirmos um lugar, em qualquer das actividades que tenhamos que desempenhar. Este é o mundo que nos querem aplicar como normal. No meio de tudo isto, sempre aparecerão uns bacocos, sejam eles governantes, ou fazedores de opinião, que repetirão o estribilho, de que os tempos são outros, que temos de nos habituar; do mesmo modo que nos dizem sobre a nossa forma de educarmos os nossos filhos, como se pais que somos, vivêssemos em sociedades diferentes. Esta sugestão de nova normalidade, é a tentativa de formar escravos modernos, obedientes, onde não existam laivos de resistência e revolta. Natal não é sempre que um homem quiser, sê-lo-á. quando tomarmos as rédeas da nossa vida colectiva e mandarmos à merda, alguns poucos, que definem o que devemos ser.

 

dc


* A verdade é crua, mostra-nos pelos números a hipocris
ia.

5 crianças morrem no mundo a cada minuto por desnutrição
16 outubro 2018, 17:46

Save the Children lança uma campanha de conscientização. Todos os dias no mundo, 7.000 crianças menores de cinco anos morrem de causas relacionadas à desnutrição, cinco a cada minuto. Save the Children lança a campanha global "Até o último"

Vaticano News

portallucykerr@gmail.com

 

"O Direito à Alimentação" Cerca de 16 mil crianças morrem de fome a cada dia no mundo

O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de outubro de cada ano para comemorar a criação em 1945 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

O objetivo deste dia é conscientizar o conjunto da humanidade sobre a difícil situação que enfrentam as pessoas que passam fome e estão desnutridas, e promover em todo o mundo a participação da população na luta contra a fome. Todos os anos mais de 150 países celebram este evento.

Durante o Dia Mundial da Alimentação, celebrado pela primeira vez em 1981, ressalta-se cada ano um tema em que se focalizam todas as atividades. Este ano o temo escolhido é “ O Direito à Alimentação”.

Cerca de 14% da população mundial sofre de fome ou insegurança alimentar, o termo usado pela FAO (Agência para a Alimentação e Agricultura) para caracterizar a falta de acesso a alimentos suficientes para a vida, a subsistência e a saúde.

Em cada dia que passa, cerca de 16 mil crianças com menos de cinco anos morrem por fome ou problemas a esta associados. Isto apesar da agricultura estar produzir 17% mais de calorias por pessoa, por comparação ao que produzia há três décadas, e mesmo tendo em conta que a população mundial aumentou 70% nesse período.

A FAO reúne-se, esta terça-feira, em Roma, em assembleia plenária, para, mais uma vez, discutir o problema da fome.

https://www.vaticannews.va/pt/mundo/news/2018-10/cinco-criancas-morte-por-minuto-mundo-desnutricao.html

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Bate leve


Esperava o bater na porta, e ao abrir esquecer todo o tempo passado sem ti. Olhar-te e reconhecer-te de ontem, não dos dias perdidos sem nos vermos, como se a memória se fundisse nos tempos. A virtude estava neste amar imorredouro, que permanecia como se fosse a minha pele. Bate de leve, é suficiente, o teu perfume vem com o vento antecipando a tua chegada.

 

dc

 


segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Reflexo na água

 

Mergulhava no reflexo que a água lhe devolvia. Ficava absorto, avaliando o mistério das duas existências. Uma real, crua, humana quanto baste e uma outra liquefeita, nas nervuras da água, procurando ser. Uma dependendo da outra, e tão longe daquilo que ambas significavam. Uma mera representação com as falhas de perfeição, mas mais verdadeira do que a outra, pretendida limpa e sem defeitos, na verdade, até mais hipócrita, pois ninguém seria tão perfeito assim. O mistério se mantinha, perante a dificuldade de entender, quais as leis físicas que produziam aquela imagem no espelho de água. Não era uma ambição narcisista de ser belo, mas sim, ver o melhor de si, numa visão total sem ângulos cegos. Tinha de aprender a aceitar-se nas imperfeições, essas que não trazem a cobrança sobre o seu modo de ser, nem o olhar adjacente de censura, nem o ónus do medo tão humano de errar. Perseguir o objectivo de ser perfeito, seria sujeitar-se ao escrutínio e vontade dos outros, correndo atrás do que não é seu, só para ser amado, seria excessivo, tirava-lhe a liberdade e autonomia de tomar as suas próprias decisões.

 

dc


terça-feira, 30 de novembro de 2021

No calor do muro


Encolhido, como uma pequena bola de penugem, os seus olhos diminutos pareciam interrogar a minha presença com a máquina em riste. Desconhecia ele, a sedução que exercera sobre mim, desde que sobre o muro pousara aquietado, indiferente, aos que como eu, sentados na esplanada, aproveitavam o sol de inverno para superar o frio. Possivelmente, ele procurava o mesmo calor com que o sol presenteava o muro, talvez fosse cansaço, ou a penugem fosse insuficiente para o proteger. Apetecia-me agarrá-lo com as mãos, trazendo-o para perto do peito, no interior do meu sobretudo, como se de uma criança se tratasse e quisesse proteger. Pensamento, somente isso, nunca me permitiria tirar-lhe a liberdade de voar e escolher onde se acolher. A natureza emociona-nos e faz-nos apreciar, como estes pequenos nadas, obtêm uma dimensão maior, afagando-nos o coração.

dc


segunda-feira, 29 de novembro de 2021

No abraço do amanhecer

 

Os dois deitados, nus, fazendo conchinha. Ele sentia o cheiro dos cabelos dela, misturado com outros cheiros adocicados, trazidos pelo bafo morno dos corpos entre os lençóis. Ela dormia e a sua respiração era calma e profunda, como uma criança livre, desregulada das normas da sociedade. Com a sua mão livre, ele percorria o corpo dela, contornando os seios, o abdómen, as coxas delineadas, como se procurasse mapear cada detalhe para ser memória em caso de ausência. O corpo já restava saciado, era o prazer do toque e a ternura, que faziam a necessidade do gesto, numa forma de amor silencioso. Ela no subconsciente sentia-o e enconchava-se mais, como o sonho dentro do sono. Aquele abraço, era como um casulo confortável e protector de onde sairia renascida. A relação que viviam, não tinha um contrato em papel assinado, estavam unidos pelo querer e liberdade de permanecer. Conheceram-se sem pontos e virgulas, se havia interrogações não se colocaram, tudo sem imagens culturais, ou evidências físicas pré-estabelecidas, foi tudo de origem, sem imitações, uma troca de olhares, conversa versátil e prolongada, uns dedos que se tocam, um cabelo que se agita, uma gargalhada que se solta. Tudo o resto, tem sido um filme sem realizador, sem enquadramentos ou sequências planeadas, tudo feito na câmara imaginária, à mão livre, tentando de ser felizes, seduzindo-se mutuamente, produzindo o conteúdo dos dias, voando sem metas no horizonte.


dc


 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Vontade de viver o dia

 

As palavras eram insuficientes, para descreverem aquela iluminação solar que verrumava o céu de tons alaranjados, ou o contraste, das sombras que dominavam o chão de folhas caídas e os carros estacionados na orla dos passeios. Completando o cenário a gaivota estática se desenhava em contraluz, pousada num dos candeeiros, sensoriando no horizonte, o mar bravio donde fugira, por ausência de peixe gordo que a fizesse mergulhar. Ali, no topo do seu mundo, ela esperançava o lixo, que o contentor pudesse transbordar, buscando apaziguar a fome, concorrendo com os sem-abrigo, que brevemente sairiam dos colchões cartonados, instalados na soleira duma porta qualquer. Entretanto, ouve-se algures, o badalar das sete horas da manhã. O sono que ainda trazia no corpo, se esvaecia agora nas tonalidades, que lhe traziam espanto e arrimo, quebrando a rotina. Era o começo de um dia de outono sem temores de vento agreste, da chuva e gelo. Os olhos perdiam o horizonte, agarravam-se ao colorido que observavam e transportavam para dentro de si calor, alegria e vontade de viver o dia. Assim pensou: vale a pena aqui estar, neste soalho alcatroado, porque a dureza das coisas da vida, não retira a vivência das belezas do mundo.

dc


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Labirint'ando

 

 

Foi à procura do papel da sorte, na míngua de respostas para os azares, que na porta batem, mesmo sabendo de partida, que a sorte dá trabalho. Não pensava em infelicidades, antes nos muito falados algoritmos, como se diz agora, que não acertam com prontidão. Cansava de esgravatar escolhas, com preciosismos assoberbados, sem atender ao presente, amarrado aos sonhos e desejos do passado e imaginando diferentes, futuros possíveis. O quotidiano de silêncios no prolongar do tempo, para não exibir fraquezas, nem faltar discernimento para suportar ausências, resultou-lhe em rouquidão. Na busca da diferença, chamada sorte ou trabalho, caminhava ele com os olhos assentados no chão, debulhando cismas e razões de sustento, de uns tantos infinitos problemas, concluiu que precisava caminhar sossegos e descaminhar incertezas. Azar e sorte são elementos de estatística, mais servem de escusa, para a falta de decisões.

 

dc