terça-feira, 20 de março de 2012

EM NOME DO PAI

Deixei passar dia de propósito. Nunca gostei dos dias da Mãe, do Pai, do Namorado. Foram criados pelo marketing comercial para que se façam vários negócios à volta do assunto. Daí a proposta de serem festejados como se fossem aniversários de factos passados, que marcaram a história de cada e que merecessem ser lembrados.
Parece um contra-senso colocar este texto, mas faço propositadamente. para mostrar mais uma vez porque não gosto destes"dias".

Para mim existem três dias de celebração para os pais, e esses são especiais para cada um conforme o seu modo de ver. Dia em que o nosso pai nasceu, o dia em nós nascemos e os tornam pais todos os dias, e o dia em que ele morreu, são datas de facto memoráveis, pela presença e pela ausência. O resto é conversa fiada.


Assim da partida dum pai.

Partiu definitivamente
Sem retorno
Como tudo o que é finito.
Partiu fisicamente.
Legou-te a vida e o exemplo.
Ajudou-te no caminhar,
No viver
No dar e amar.
Foi presente enquanto pode,
Foi templo
Do teu coração.
Deixa-o partir em paz
Não chores a tristeza
Da sua ida
Só por que te era
Alma tão querida.
Canta de alegria
Por certo ele gostaria
De saber-te viver
Ausência sem nostalgia.
Vive, sê capaz
De renascer e continuar
O caminho que te legou.
Ama como ele amou.
O futuro te há-de dar
Tanto quanto te deu
E um dia te aperceberás
Num leve acordar
Quanto amor tens de seu.

segunda-feira, 19 de março de 2012

É SÓ UM NÚMERO

Este é um número como outro qualquer, mas poderia ser o das centenas de vezes que peguei no telefone para dizer o que tem de ser dito, mesmo que custe, mesmo que o resultado seja pior do que se espera. Das muitas vezes que fui desagradável com alguém, ou até, das muitas que me sai bem, fui simpático e resolvi algo de forma positiva. Poderia ser o número de passos que conto na caminhada para tomar café, na vulgaridade dos dias. Poderia ser um número das mentiras que ouvi, das palavras de conveniência, das flores que ofereci, das vidas que conheci. Na realidade não é mais do que um número que se aplica matemática e estatisticamente, e que na realidade é um elemento condicionante. "Já te disse milhentas vezes que gosto de ti", Já te disse dezenas de vezes, que isso não se faz", " Mandei-te flores pelo menos, uma vez", " A broa de Avintes, custa três euros. Tudo valores e valorizações, de gestos e atitudes, que se não fossem feitas, evitavam que a nossa vida e as emoções que a acompanham fossem perturbadas. Não é por acaso que se diz "quem corre por gosto não cansa". É que nessas alturas, o tempo, a distância e os custos, não são medidos em número, mas em doses de prazer e emoção

Será melhor esquecermos o número de vezes, e pensarmos mais no que de bom podemos obter. Aquilo que nos agrada repetimo-lo vezes sem conta e de boa vontade, então é isso que devemos fazer. Deixemos a história do "pensa três vezes antes de agir", porque se não tiramos o sal da vida. De certeza que são mais as vezes que ficamos a ganhar do que aquelas em que perdemos.

Já agora... fui eu que disse primeiro!..... nã estou a brincar... ufha...

domingo, 18 de março de 2012

UM DIA TE FALAREI AO OUVIDO

A armadilha que inesperadamente nos aprisiona, deixa-nos morrer lentamente pela exaustão do tempo. Sentimos-lhes a textura, a cada passagem, sentimos-lhes a marca inevitável da dor. Os nódulos, falam  marcas da sua história, e a secura da intempérie, as brechas da sua alma. Apetece encostar o rosto e esperar, que o som da vida regresse e que a passagem do tempo faça o resto. Nem a pena faz sobreviver, nem a folha de outono, fala da primavera. Só o sol com a sua intensidade alimenta a possibilidade de mudança, na sombra ténue que se vai movimentando.
Um dia te falarei ao ouvido, do passado sem retorno, e do inicio da primavera

sábado, 17 de março de 2012

TALVEZ PORQUE HOJE É SÁBADO

Mãos suplicantes, pedindo água.
Na carne, sentida a dor e  mágoa
De um tempo que passa sem que a chuva caia
E a vida se vá esgotando, sem encontrar sua praia.
A pele se enruga cada dia que passa
Sem que mais possa fazer
Só lhe resta a esperança de não cair em desgraça
De os pássaros não a quererem ver

sexta-feira, 16 de março de 2012

NÃO TENHO FRASES NEM POEMAS

Quase perdido fiquei / Quando pela primeira vez te vi
Tal a forma como vibrei
/ Ao sentir-me tão perto de ti

Dei-te ternura e abraço / E o calor do meu desejo 
Dei-te o meu coração
/ No sabor do primeiro beijo

No meu regaço / As lágrimas te caíram
Na garganta como um laço
/ A dor dos que te traíram

Foste campo do meu fruto / Foste pele do meu beijo
Foste um amor em bruto
/ A despertar meu desejo

Sonhei coisas impossíveis / Tive esperanças ocas
Em coisas imprevisíveis /
Saindo das nossas bocas

Quase perdido fiquei / Quando primeiro te vi
Tal forma com que vibrei
/ Na imagem que fiquei de ti

Ao encher a minha alma / Sustentava eu o que via 
E tu na tua calma
/ Abafavas a minha alegria

Tanto tempo lutei / Pelo que julgava nosso
Que na verdade gerei
/ A palavra não posso

Enchendo a boca que amava / A pele que cheirava
Aquela alma me amordaçava
  / A minha tristeza aumentava

Hoje na serenidade / Que se tem da partida
Encontrei a minha verdade
/ Na crueza da própria vida

Tudo tem o seu tempo / E a esperança nunca está perdida
De que a qualquer momento 
/ O amor me será guarida

Para ti que foste pele e cheiro / Para ti que pousaste em meu regaço A quem dei por inteiro / No meu coração um espaço.

Não tenho frases nem poemas / Que consigam explicar
Com palavras serenas
/ A razão de tanto amar

quinta-feira, 15 de março de 2012

Sinopse de um Poema Erótico


Apetecia-me escrever um poema
daqueles que falam de orgasmos
de loucura e erecção,
de gemidos e fantasias
de corpos suados e de tesão!

Ai... que eu devo estar louca
senão louca, a delirar.
O que diriam de mim
o que me iriam chamar!

Bolas este mundo é uma farsa.
Haverá alguém que o não saiba
o que não sentiu ou experimentou?
E se o não disse foi vergonha,
mas se não disse pensou!

Tanto pudor nessas cabeças
sempre com zelo de parecer mal.
E escondem que o prazer do prazer
mais não é que um acto natural!

Então que se escreva com arte
com minúcia e perfeição,
e que as letras gemam de prazer
que as palavras se orgasmem ao dizer
que o amor também se faz com tesão!

do livro: Um beijo sem nome -Ana Paula Lavado

quarta-feira, 14 de março de 2012

APROVEITAR O TEMPO


Ter por hábito trazer sempre consigo, três coisas essenciais: um ou dois livros, papel para rascunhar, desenhos ou textos, e esferográficas de várias cores e uma lapiseira, pode ser uma forma útil e inteligente de aproveitar o tempo, nas mais diversas situações.


Se está à espera de algo ou alguém, pode ler, pode escrever, pode desenhar. Trazer dois livros, é bom para poder escolher o mais adequado ao momento. Quando sai com a intenção de ler, ao chegar ao local decide qual deles quer ler, por vezes, até pode ler umas páginas de cada um. Pode sublinhar o que lhe interessa, e tomar notas de frases, ou ideias. Se está no restaurante à espera, pode desenhar, ou escrever. Tem momentos, que até a conversar, vai fazendo grafismos no papel para se concentrar, ou para explicar. Os seus amigos riem-se, no entanto, quando estiver com eles, sabendo deste seu hábito, ser-lhes-á útil, para lhes ceder papel ou esferográfica, para algo que pretendam fazer.


Na maioria dos casos, quando esperamos ficamos impacientes, daí termos fumadores, a fumarem de mais, os que roem as unhas a ficarem com os dedos em carne viva, os que tiram catotas do nariz, e outros que se coçam como se tivessem sarna. Sem esquecer, que, quando esperamos por alguém mais do que devemos, entramos em derrapagem, dizendo todo um chorrilho de disparates, especialmente se sentimos que podíamos ter aproveitado melhor o tempo.

Sentir o barulho do papel a ser riscado, quando escrevemos, ou desenhamos, é um momento único. O prazer de escrever, de ver a forma irregular das letras, a sua beleza, a expressão que elas têm, dizem da nossa pressa, lentidão, do nosso estado de espírito. A forma como escrevemos é como um bilhete de identidade, pelo conteúdo, e pelo o modo como caligrafamos. Do mesmo modo os desenhos com as suas linhas limitando espaços, as formas que vão aparecendo, as texturas sugerindo volumes e cor, são também modo de expressão de quem os executa. É um momento de performance, cuja execução dá tanto ou mais prazer, de que o resultado final. Ambos os processos são modos de criar e desenvolver diferentes sensibilidades e criatividade.

A leitura trás agrafada a si, o conteúdo e a sua criatividade, o prazer de sublinhar, o contacto com papel, o seu cheiro e o da tinta, o volume do livro; as letras escolhidas, com os seus variados tamanhos e diferentes morfologias, os grafismos, as ilustrações, as fotografias, tudo elementos que colocam os sentidos em actividade, e desenvolvem a nossa capacidade de invenção, de imaginação, conexão, sensibilizando-nos para preenchimento do cenário e ideias do autor. Tudo isto sem esquecer o prazer que sentimos, quando passamos os dedos pelas lombadas, ao procurarmos um livro na estante.


A riqueza de conhecimento e consciencialização adquiridos, nestes dois processos mágicos, é seguramente mais interessante e lúdico do que enviar sms com textos, muitas vezes, mal escritos, e recheados de códigos abstractos. Assim como a leitura num computador, em especial de textos longos, é cansativa e pouco prazenteira. A noção de textura num programa de desenho é fácil de conseguir, mas a sua descoberta, através do contacto, e a procura de o expressar no desenho manual, é que nos diz da sensibilidade na sua escolha.


De certo, esta forma de preencher o tempo, será bem mais agradável.

Nada substitui o cheiro, o tacto, o paladar, o ver o ouvir, que a realidade nos transmite. Quanto mais nos prendemos ao virtual, mais transformamos o conhecimento dessa realidade, passando a ser muito mais abstracta e subjectiva, congelando a parte da nossa sensibilidade e pondo em risco a emoção inteligente do ser humano.