quinta-feira, 25 de outubro de 2012

QUANDO PASSA PELA RUA


Delicioso movimento de seu corpo
construído com martelo e escopro
Rodando as ancas a cada momento
Da espiral que parte do centro

Abana a cabeça ondeando seu cabelo
O sorriso sonho de água no deserto
No corpo se move como ave em céu aberto

O seu perfume se arrasta pelo ar
Marcando o espaço onde caminha
Todo mundo fica a suspirar
O amor que nela se adivinha

Assim ela vai como voando
Desfazendo sonhos partindo corações
Sem saber que alguém a amando
Por ela se perde em ilusões.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

UMA FOTO



Impressionou-me a estrutura de ferro a suportar a alvenaria deste antigo casarão de lavrador rico. Alguém se preocupara em evitar que o tempo e a intempérie o fossem destruindo. Só me fez confusão, que depois de tantos anos, continuasse esperando que alguém o salvasse efectivamente. Problemas de herdeiros, abandono por dificuldades económicas? Nunca saberei, não estava a fazer trabalho de repórter, ou qualquer levantamento arquitectónico, para me dar ao trabalho de investigar. Esteticamente a imagem continuava a impressionar-me e a atrair o meu olhar. Naquele momento só isso me bastava, a razão porque se mantinha naquele estado, talvez fosse mais complicado descobrir, como tal fiquei-me por aqui, registei o momento.

domingo, 21 de outubro de 2012

DEDILHANDO LETRAS


Dedilhando nas letras procurando as palavras certas, foi percorrendo o tempo construindo as frases, como se na marginal do rio procurasse a foz.

Os pensamentos surgiam como cardumes em águas revoltas das quais o pescador, de onde em onde, encontrava o peixe incauto iludido pelo isco.

A caneta vibrava e a linha ficava tensa evitando deixar fugir o precioso texto pescado de tão fundas e agitadas águas.

É uma luta dura entre a musa que inspira e aquilo que se realiza.

sábado, 20 de outubro de 2012

SEI que HOJE É SÁBADO

Sei que hoje é Sábado, não o dia de todas as coisas, mas o dia de fazer muitas coisas. No entanto agarro-me as coisas comuns, porque hoje é Sábado e pouco ou nada difere dos outros dias, neste tempo de vacas magras, onde só o ar que se respira ainda não custa dinheiro.

Como dizia a senhora do reclamo, “no meu tempo”, o sábado de manhã era preenchido com as compras e com o ajustar das coisas deixadas por fazer durante a semana. De tarde, a meio da tarde, saía-se para lanchar e dar um pequeno passeio. A noite era para estar com familiares, ou amigos, ou na indisponibilidade destes, gozar um momento mais intimo

Aqueles tempos, em que o fim de semana servia para carregar as pilhas, já lá vão, agora os fins de semana perdemo-los olhando a televisão, ou dando um passeiozinho pelas ruas do bairro, onde vamos observando a deserção em massa, que os letreiros vende-se, ou aluga-se, dão sinal nas janelas. Há sempre a alternativa de ir ao shopping mais perto, passar umas horas a olhar nas montras o que se não compra, e enganar o prazer de um lanche, com um simples café, que se toma demoradamente para “render o peixe”.

A vida de quem trabalha nunca foi fácil, mas hoje está um inferno, e inferno por inferno, mais vale fazermos asneiras, que compensem tão fraca estadia nesta coisa que se chama terra.
Por isso digo vamos lá a pecar. As rezas estão pela hora da morte e não nos levam a lado nenhum, por isso, pecar não tem custos. Façamos o que nos der na real gana, pelo menos dentro portas. Andemos nus pela casa, coloquemos a música do Abrunhosa, “e agora o que vamos fazer? Talvez foder, talvez foder”, no máximo volume, bebamos um copo de vinho, assemos um chouriço, demos quatro arrotadelas, bem alto, e gritemos contra o governo a plenos pulmões. Há noite na cama dêmos o litro, gritando do nosso prazer e aproveitemos para usar a letra da canção para expressar nossas emoções. E tudo isto porque hoje é Sábado.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EM SILÊNCIO ESPERA

Em silêncio espera que a sua voz surja, que o acalente o seu falar, e possa enfim descansar.

É nesse momento do fim do dia, já entrado na noite, que fazem o agradável resumo da jornada e mais ou menos acaloradamente vão conversando de diferentes preocupações que a preencheram, dos sonhos e perspectivas quando ao dia, ou dias seguintes.

São momentos únicos que fazem com as peças do puzzle se encaixem e se crie uma perspectiva comum.

Às vezes também dói, porque longe, só as memórias dão referências de espaços cheiros, pele, calor, corpo, o que os torna mais ansiosos esperando pelo reencontro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

POR AGORA rESTA em PaZ


Vi a fotografia e me inspirei. Não queria fazer uma cópia, queria que fosse uma outra coisa assumidamente pintada e não um outro retrato da realidade. experimentei diferentes formas de abordagem, com pouca tinta, muita tinta, menos explicito mais explicito, até que cansei. desenhei larguei tinta, fui "sujando" a meu belo prazer. quando já não conseguia ir mais além do que via, desisti deixei que ele ficasse a marinar. Talvez um dia, eu consiga ir mais longe e lhe volte a mexer. talvez sem medo de estragar, mas com vontade de encontrar outro caminho para dizer do mesmo objecto coisas diferentes e mais ricas. Por agora resta em paz.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os aPÊNdIceS


A passagem do tempo parece não o afectar. Amanhece sempre cheio de gás e disponível, como diz o Dr. As preocupações ficam abafadas pelo sono e a cabeça normalmente fica limpa.

Quando o vejo desejo-o como nunca. Só me apetece beijar, acariciar e percorre-lo com as mãos. Gosto de e sentir aturdida pelo seu vigor, assim como gosto de ser eu a razão desse vigor. Ele estimula-me, do mesmo modo que eu faço com ele. Sinto-me sua companheira e espaço querido de aconchego. É bom quando tudo acontece com o prazer de nos sentirmos plenos, no mais intimo de nós.

É interessante como nós seres humanos nos deliciamos com um tão pouco, mas que por vezes, embora com altos e baixo, vai crescendo com, e, em sabedoria, pela prática constante, o seu entusiasmo até ao êxtase, cujas consequências para o bem estar obtidas são enormes.

Por vezes existem pequenos espaços mortos, alguns que se prolongam, porque o ser humano tem limitações de vária ordem que influenciam o desempenho do casal, no entanto na maior parte das vezes a sabedoria adquirida com a prática e com o tempo tudo acaba por se realizar e obter efeitos bem interessantes.

Nada como viver com entusiasmo, pela pessoa que se gosta, para que uma pequena coisa se transforme em algo grandioso, rico de sensações e emoções.

Importante é saber aproveitar a oportunidade e o entusiasmo, mesmo que por vezes momentâneo.

A vida são dois dias e o de hoje já foi.