sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A CASA SUB-NUTRIDA



Numa das muitas caminhadas, em direcção ao Barigui com a máquina fotográfica na mão ia captando imagens que me apareciam e que de algum modo me permitiam fixar, um pouco daquela parte de Curitiba.

Ela estava lá, e já por mais de uma vez tinha reparado nela, causando-me estranheza.

A sua estrutura não correspondia ao comum das outras que por ali existiam. Toda em madeira contrastando com o betão da modernidade e os condomínios fechados. Aquela era uma casa, dizia eu para comigo, estava sub-nutrida, sem vitaminas. Falta-lha a vitamina da cor, a da estrutura que agarra os diferentes materiais e a do calor humano. Certamente abandonada há muito, mas com uma personalidade invulgar. A arquitectura era simples, comum, mas tinha uma traça que a tornava familiar, como sempre fizesse parte do meu imaginário. Prendeu-me e captei.

Durante alguns dias, em que por ali passei, na minha memória fui fixando a imagem da casa como um se na minha mente estivesse um fantasma falando.

Com o terreno envolvente a pedir que o cuidassem, talvez, se reconstruída, a sua exuberância voltasse, tornando-a mais atraente, motivando a que voltasse a ser habitada por gente que continuasse fazendo história.

DC

O Parque Barigui (ü) está situado na cidade de Curitiba, capital do estado brasileiro do Paraná.
O parque recebe o nome do Rio Barigui que foi represado para formar um grande lago em seu interior. Está entre os maiores da cidade, sendo, também, um dos mais antigos. Diversas espécies de animais vivem livres no parque, como aves, capivaras e pequenos roedores. Um rebanho de carneiros também pode ser visto diariamente nos gramados, sob os cuidados de funcionários.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

COISAS DA NATUREZA



Vagueei sobre a suavidade da sua superfície embriagando-me no seu perfume, debicando pequenos nadas da sua natureza, sustentando-me da sua seiva procurando na sua doçura, o que precisava para a vida. Suguei o teu saboroso néctar, sem destruir a tua beleza, sem te deixar exangue e ajudando-te a polinizar, para que possas continuar a enriquecer as cores da natureza com a tua presença, e acalmar as mentes humanas a quem irradias de alegria.

Eu continuarei pela minha parte, entre portas, no lar que construi, produzindo o alimento e remédio para muitas das maleitas que a vossa natureza por vezes fragilizada necessita, mesmo sabendo que em muitos casos me temem.


Eu, Maria Abelha – Produtora de mel e Geleia Real



quarta-feira, 31 de julho de 2013

OS IMPREVISTOS...



.... acontecem, neste caso foi o meu computador que teve de parar para recuperar os “músculos”e fazer uma pequena reciclagem. Espero que não volte a apanhar-me na curva e me deixe desprevenido sem poder fazer aquilo a que me propus, quando criei este blog, escrifalar.

Nestes dias de paragem senti a falta de escrever aqui neste meu cantinho, de ver os mails, de ir ao Facebook, de ler as notícias e muitas outras coisas, No entanto neste interregno, lentamente fui-me apercebendo do muito que tinha perdido ao afastar-me de outras formas de ocupação, não tão virtuais, mais terrenas e humanas.

Dei mais tempo às ruas, caminhando e observando o que me rodeava espantado, por só agora, parecer existir aos meu olhos, Fotografei muito, captando e procurando fixar o que via, desde grafites, pedaços de rua, flores que num ou noutro lugar iam surgindo e muitos outros pormenores, Algumas vezes fiquei sentado olhando sem ver e pensando sem dimensionar o correr das horas, Dediquei-me mais às leituras, sentindo o tacto e cheiro do papel. Apercebi-me que os programas televisivos são uma chachada e a luz que o aparelho emana nos atrai como aos mosquitos, Dominando pela imagem, “o que se vê é realidade”, é um elemento de comunicação rápida, mas também manipulador, o que para um povo com grande dose de iliteracia é sobejamente perigoso, Tomei mais atenção à leitura dos media escritos, com as suas contradições e falsidades, tentando o povão, para que os compre, vendendo-lhes notícias e informações, pouco sérias e viradas para a defesa dos exploradores desse mesmo povão. Enfim, na realidade foi benéfica esta paragem sem computador e internet, para me aperceber e atentar melhor, no modo como as notícias e as informações, nos chegam no mundo virtual e no mundo real, e acima de tudo, fugindo da “central de comunicação” formatada, que visa instalar os poderes instituídos, sejam eles governo, ou as grandes forças detentoras da economia financeira.

O computador é uma ferramenta de trabalho, que nos ajuda a ir mais longe e mais depressa, mas não podemos perder o horizonte, “o fazer com o prazer”, a experiência do contacto com as coisas materiais da vida e as emoções que se nos deparam nas suas diferentes dimensões, E, acima de tudo percepcionarmos o quanto nos afastamos da espécie humana quando nos deixamos dominar pelas novas tecnologias.

DC


segunda-feira, 22 de julho de 2013

AS BOTAS

 

Olhei-as atentamente, enquanto pensava nos milhares de quilómetros percorridos com elas, Não somente calçadas para enfeitarem os pés, ou para dizer que não estava descalço, mas calcorreando estradas, caminhos de terra, vielas, subindo e descendo montes e escadas, ou frequentando lugares diversos, de gentes diferentes, sem que alguma vez sentisse desconforto, ou as achasse menos adequadas ao momento.

Feitas de calfe, a famosa pele de vitela, Suaves ao tacto, quando calçadas funcionam como uma luva para os pés, e são perfeitamente adequadas às exigências de quem com elas caminha as sete partidas do mundo.

Estas minhas amigas teriam muitas estórias para contar, caso falassem, por cada vinco ou esmurradela que têm, por cada vez que foram engraxadas, por cada vez que atravessaram ribeiros, poças de água, ou lameiros, por cada vez que a lama se incrustou nos interstícios dos pontos que cosem a sola à sua pele, Todas elas múltiplas razões da sua existência na minha vida, onde o seu papel foi preponderante para não desistir das missões de que muitas vezes fora incumbido.

Sempre as adorei, Tinha um prazer enorme quando me sentava na beira da cama e as tirava, sem que sentisse o tal cheiro incomodativo, que por norma os pés exalam, depois de muitas horas ali enfiados em espaço tão exíguo e apertado, O acto de as descalçar e as colocar aos pés da cama funcionava como um ritual, no qual os meus pensamentos iam percorrendo, como se escrevessem um diário, todos os espaços percorridos e a forma agradável como que elas me protegiam e quão grato lhes estava.


Nunca pensei ter tanto a dizer sobre as minhas queridas botas, mas isto é somente a forma de glorificar a sua existência, a sua qualidade e o meu agradecimento aos homens que ainda as vão produzindo com o mesmo amor com que as a calço.

DC

PS.Não eram propriamente estas botas que a imagem revela, mas umas outras compradas no meio de uma longa viagem, onde atravessei vários países, e que só as deixei quando estavam de tal forma intratáveis que já não se podiam usar


segunda-feira, 15 de julho de 2013

os LÁBIOS e as CEREJAS



Um dia beijei teus lábios
vermelhos e doces como cerejas
E senti o prazer da polpa carnuda
que os desenhava
como as cerejas
e senti a humidade da tua boca
como suco das cerejas
deixando-me de faces vermelhas
como as cerejas
pela timidez do amor que em ti vivia
e fazia de nós um par, um brinco
como as cerejas
que decorava o nosso amor
e os nosso rostos como a frescura
das cerejas acabadas de colher.
Fomos nós e as cerejas
naquele fim de tarde
elas as cerejas
numa taça de água com gelo
enquanto nós, nos saboreávamos
com desvelo com o mesmo prazer
com que devorávamos as cerejas.

DC


domingo, 14 de julho de 2013

É O FIM DA MACACADA





É possível que sorriam se disser que andei a procurar macaquinhos no sótão, mas têm de acreditar que seria pior, dizer que andei a procurar crocodilos, estes precisam de água e no sótão não sobreviveriam, É verdade, procurei os bichinhos durante horas para ver se encontrava a razão de eles me encherem o sótão com as suas macacadas. Tenho certeza que são eles que fazem os filmes que me aparecem no sótão, Suspeito quem seja o realizador de tal aventura, quais os figurantes, e as várias estrelas principais. Algumas delas com muita sabedoria, outras com figuras a condizer, com o melhor que há as estrelas de cinema, Cinema de Macacos. Como por exemplo o Macaco Selva e O Macaco Poelho.

Os primatas são os antepassados desta nova geração, por sinal, bem menos peluda, e muito mais actualizada. Os “novos macacos” governam os macacos da raça humanóide que se afiguram seres pensantes, com sensibilidade e inteligência evoluída, quando ouço isto, ou leio, até costumo dizer “é o fim da macacada”. Sim “é o fim da macacada”, porque afinal tem-se verificado não terem sensibilidade nenhuma, são egoístas, e a inteligência deles é permanentemente usada para se lixarem uns aos outros, o que de facto não abona a seu favor como seres superiores.

Procurava encontrar no sótão, as razões das macacadas, que nos dias de hoje se desenrolam nas diferentes sociedades, e como os diferentes macacos vivem no meio desta macacada toda. Algumas razões encontrei, Hoje em dia é difícil falar e conversar, ou sequer espetar o dedo e dizer o nome dos macacos responsáveis sobre a macacada que gere a sociedade da Macacada Humana pois corre-se o risco de ir preso, ou ir para o Jardim Zoológico pentear macacos, com a agravante de os macacos residentes, que já lá estão há uns bons anos, se sintam incomodados pela presença de macacos humanos que foram à depilação e aparecem com cheiros estranhos. Alguns até, chamados de metrosexuais, que são um tipo de macacos, ainda menos peludos que os outros, a cheirar a água de rosas.

Os macacos que gerem a sociedade dos macacos humanos, não permitem que nós os acusemos de serem uns Macacos, quando abusam do paradigma, para nos fazerem repetir as mesmas asneiras que se fazem ao longo de centenas de anos, obedecendo a um qualquer macaco.

Havia toda razão em procurar macacos no sótão, pois custa acreditar que alguns macacos considerados fiéis à maioria da macacada, quando se encontram senhores da árvore ou da plantação das bananas, fazem de um país à beira mar plantado a República das Bananas, o que para mim, que procurei horas a fio macacos no sótão volte repetir que “Isto é o fim da macacada” e pensar que temos de inverter as coisas mandando os chefes da macacada, para o Tarrafal, isto é se os Tarrafelenses os aceitarem, pois lembrando-se das suas macacadas colonizadoras talvez não gostem muito.

O sótão continua com algumas macacadas a incomodar, mas começa a aparecer um ruído de fundo que talvez ponha em sentido os Macacos que mandam, Até lá, para me não distrair com o que aí vem, fechei o sotão para obras. Ainda pensei em alugá-lo, mas não quero prejudicar ninguém.


DC