sábado, 17 de outubro de 2015

Rasos ao chão




Acontecia assim...talvez porque as ausências eram largas, a oportunidade e o tempo eram escassos.... ficávamos rasos ao chão do cansaço do amor, com o cheiro dos corpos misturados como um lastro de nós em cada um, como que garantia de que não nos perderíamos um do outro. Depois, de modo inconsciente, as nossas mãos se procuravam para nos deixarmos esvair na lentidão do tempo.
dc 


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

DesESCUTEI



Desde que desescutei tua voz, ela vive no meu silêncio, agarra-me a este lugar, parado, com o olhar nesse lugar infinito que limita a terra, deixando que os sonhos borboleteiem nos pensamentos presos por uma realidade que se evaporou. 
Estranho o modo, como repentinamente, nos desligamos desse fio condutor que nos mantém, largo tempo, julgando sermos. Faz-se um click estranho no cérebro, que depois percorre toda a nossa estrutura corporal, como uma campainha de alarme, acabando nesse músculo que nos simula a vida, dando ordem para manter um corpo tecnicamente vivo, não emocionalmente vivo, É como estar nu porque despido e não nu por estar limpo de preconceitos, de alma aberta, mostrando-se de “cara lavada”. 
Ensurdeci, para os de fora e escuto-te dentro de mim, visto-me para os de fora e estou nu para ti. Minha vida está fechada nesse emocional, que não técnico, onde as aparências não tem lugar, preso nesse infinito onde só a imaginação vive. 

dc

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Hoje..




Hoje  
Se me tivesses chamado
Ter-me-ias de dia
No retrato mais acabado
Que algum dia eu te daria

Hoje
Seria licito até, pensar
Num beijo com sabor de morango
Saltar como se quisesse voar
E ir contigo dançar o tango

Hoje
O retrato teria a qualidade de Man Ray,
Na estética do preto e branco
Na ausência de cor o encanto
E da tua boca : amei!!!

dc

domingo, 11 de outubro de 2015

CARTAS SONHADAS




Tenho escrito muitas cartas sonhadas para ti, Cartas nunca acabadas, ou enviadas, Cartas que escrevo quase todas noites, Por vezes a tinta escasseia da imaginação e tenho de as repetir desde o começo, quase sei de cor grande parte delas. O começo, sempre igual, bom dia, Minha Flor..não era o teu nome, mas nas cartas sonhadas era sempre assim que eu te identificava. Muitas vezes recusava-me, de propósito, a acordar agarrando-me ao prazer que delas tirava e o que projectavam de momentos e vivências.
Esta noite, a carta que escrevi levava um sobreaviso, quanto ao definitivo... protelei o mais possível esperando que alguém me acordasse antes de enviar, não queria que partisse... a minha mente não encontrava endereço. Era como se estivesse em coma induzido para encontrar tempo para debelar a doença e atenuar a dor. Ela falava de tudo o que existira de nós, o que éramos de loucura e paixão, de projectos, e que agora só nos sonhos acontecia, pois há muito partiras. Temia de mim, se ela partisse, perderia o sonho e tua companhia, que em alguns casos quase real.
Quando me acordaram repentinamente, eu que ansiava por isso, naquele momento me senti infeliz pois não queria ter sido interrompido, Acordara contigo tão real em mim, que sentia ainda o calor e sabor dos teus lábios sobre os meus e o cheiro do teu corpo espalhado pelo quarto. Era este momento que me dava algum sentido e às cartas sonhadas, continuavas alimento das minhas fantasias, afinal o que temia perder. 
dc

sábado, 10 de outubro de 2015

SAUDADE...





hoje
desconsolei
por não ser poeta
desencontrei
a palavra certa
para o tamanho
da saudade

nos dicionários
consultados
os pensamentos
estavam alinhados
todos perdulários
quanto à saudade

sem tradução
em outras línguas
fiquei sem saber
como pode o coração
estrangeirar
de saudade.

dc




quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Sou folha caída




Sou folha caída
Duma árvore com vida.

Sou a queda necessária
Histórica e revolucionária
Dialética e sua espiral
Cumprindo um ritual

Na terra enriquecida
À árvore dou vida

dc

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O Ser, da gente






Pousam
No teu contorno
As folhas caídas
De Outono

Escolheram
Teu corpo
Tua frescura
Tua forma
Tua candura

No acaso
Do seu cair
Acentuaram
Tua beleza
Com a cor
Da natureza

Folhas caídas
Na terra
Em seu tempo
Numa troca
De’vidas
Como húmus
Do renascer

Assim
Como na pele
Assim
Como no corpo
E seu ventre
Cai a semente
Nasce humano
O Ser da gente

dc