segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Te Sonho



         
          Te sonho
Sentindo teu rosto nas minhas mãos
          Te sonho
Nos meus braços aconchegada
          Te sonho
Num acordar sem o teu lugar vazio
          Te sonho
Perfumando o ar da madrugada
          Te sonho
Dias e noites a fio
          Te sonho
E me perco das realidades
          Te sonho
E acordo com saudades
          Te sonho
Sem saber se foste a insana paixão
          ou se te sonho
Sem noção da realidade ou ilusão.

dc



sábado, 2 de janeiro de 2016

Uma vida por outra





Ela morre
Ele nasce
Ele sofre
Quando
Ela morre

Quando
Ele nasce
A Vida
Acontece
Ela perece

Um coração
Novo bate
Um pára
Outro dispara
Perde a razão

O espanto
A tristeza
O desencanto
O pranto
A incerteza

A morte
E a sua frieza
O nascimento
É a vida
E sua beleza.

dc






Nas veias de alguém





Na voz que se aguarda
Na distância sentida
Na vivência parda
Na vida inconseguida

O sonho se mantém
O querer não é partir
O viver é estar além
Nas veias de alguém

Não termina dizendo
Circula por dentro
Mantém-se no centro
Resistindo ao tempo

dc


quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Mais um que finda..



Coloquei as rabanadas em cima da mesa perfumando o ambiente com o seu cheiro doce, era única coisa que eu queria que existisse para me lembrar a época natalícia e para fazer a diferença. Nada mais a registar para além da necessidade de silêncio e pausa para repensar quais as etapas positivas no espaço dos trezentos e sessenta e cinco dias decorridos. A meta é o objectivo, mas as etapas é que enriquecem a caminhada. Celebrar a passagem de fronteira entre um ano que acaba e o que começa não faz muito sentido, se constatamos que vamos para mais velhos e que não chega um dia de sorrisos, abraços e frases de circunstâncias, para apagar todo aquele tempo em que lhes fomos indiferentes. A única coisa que vale a pena, é a aprendizagem e o conhecimento que adquirimos sobre o mundo e os comportamentos das pessoas que nos rodeiam, entre eles os muitos familiares e amigos e conhecidos de circunstância. Temos os que nos amam, alguns nem por isso, outros que nos desiludem, e ainda outros que nos esquecem em favor de interesses vários e nem sempre por razões aceitáveis. Todos os anos haverá coisas boas e más para recordar e a isso chamaremos crescimento, realidade e outros palavrões, ou tiradas, filosóficas. Será sempre assim todos os finais de ano. Comam, bebam, abracem quem puderem e divirtam-se é para isto que estas coisas servem. Bom Ano Novo.

dc

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Além do Beijo




Um beijo além do desejo
Um desejo além dum beijo
Um desejo por alguém
Um alguém além do beijo
Um amor por alguém
Num beijo além do desejo.

dc



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

NATAL


Natal sempre que o Homem quer
de acordo com a mulher.

Natal toda a gente se esquece dos problemas dos dias
e acalenta esperança de maiores alegrias.


Feliz Natal e Bom Ano a todos

Um Natal Sem abrigo


Com a tigela da sopa na mão sentado na beira do sofá mastiga o seu silêncio, olhando indiferente a televisão e seus conteúdos. Nada motiva o seu interesse, será sempre a repetição das notícias e programas que mofam nas consciências. Por isso se concentra na sopa que come, no seu paladar e na justeza dos seus condimentos, para enriquecimento do seu sabor. Conta o número de colheradas que mete na boca, e mentalmente vai enumerando: batata, salpicão, cebola, grão, e agrião. “Esta sopa de agrião está boa!” e saboreia. Adora comer sopa e esta é suave e ao mesmo tempo marcante pelo seu gosto requintado, além de que se confirma, ao mastigar, que os diversos componentes mantém uma boa ligação uns com os outros. Perdeu-se, que estava ele a pensar, de que silêncio, de que vazio, que importava a sopa, que sempre comia sozinho como as muitas outras refeições? Na maioria dos casos cozinhava já sem prazer e comia na mesa da cozinha, olhando o açafate onde a fruta repousava, que por hábito comia antes das refeições. Nem sempre o silêncio era idêntico muitas vezes dentro da sua cabeça os pensamentos e as emoções se cruzavam com as lembranças e a refeição ficava pesada. Tantas vezes se repetiu o fado, que um dia ficou olhando os tachos os pratos, os condimentos, deu um passeio pela casa, como estivesse matando saudades, foi ao armário da roupa escolheu roupas simples fez um embrulho e colocou num saco de plástico preto. A sentou-se e durante uma hora escreveu cartas para as pessoas que entendeu mereciam saber. Pegou no bilhete de identidade meteu-o no bolso, fechou a porta e de seguida foi aos correios enviar as cartas.
 
Dormir nas ruas, comer o pão que o diabo amassou(?), na realidade assim assumiu a verdadeira liberdade, que durante anos não teve. Se em casa possuía bens materiais, também continha o vazio. Para quê preservar o que já não tinha sentido? Quem estabelecia o que era certo ou errado, que sociedade esta que se dizia evoluída, em que os valores se vão pervertendo, que poderes fornecemos nós a quem nos dirige? 
Na rua, como ele durante anos, muitos eram os iguais que partilhavam pedaços de estória e de vida. Lentamente se foi distanciando dos valores “sociais” de convivência, a cultura passou a ser a linguagem dos outros iguais e a comida obtida através dum esmolar constante, ou nos contentores do lixo. Os farrapos que vestia, só para o proteger do ambiente, eram-lhe dados, ou encontrava-os, por vezes, dobrados, juntos dos contentores do lixo, pouco lhe importava o que vestia, eram adereços de um teatro maior de qual fugira. Cada dia que passava mais se distanciava do que já fora um dia, esse tempo  de obediência às regras opressivas de uma sociedade que não o respeitava, o desamor que sempre sentira, já não fazia mossa, tudo se relativizava. 
Hoje, deitado na soleira da porta de uma loja, encolhido enrolado sobre si próprio, como estivesse convulsões, envolvido na própria dor, toda a indiferença emanava de si. A roupa andrajosa colada ao corpo, um saco negro dos que se usam para o lixo, uma lata vazia e uns cartões, restos de embalagens, faziam-lhe companhia. O que era hoje, saía-lhe na respiração dos olhos, alguém que desistira à muito de fazer parte desta sociedade. Toda a liberdade tem um preço este era o seu.
dc