domingo, 3 de abril de 2016

Talvez quem sabe...




Como dizia Pessoa: “o poeta é um fingidor”, assim penso, nem tudo o que é dito é real, nem tudo é sonho, é mais o querer, que seja o dizer das palavras, a chegar a algum lugar. É pensar alto, murmurando baixinho, esperando que elas encontrem onde pousar. Talvez quem sabe, um silêncio sem solidão.


dc



sexta-feira, 1 de abril de 2016

CASEI-ME


 

Sim casei 
Endoidei
Com a que sempre amei.

E porque não haveria de ser,
Embora renegue o acto
Algum dia teria de acontecer.

Ela é linda como o sol
Tem curva e contra-curva
Rosto belo bem desenhado
Assenta como uma luva
Neste homem apaixonado.

Ela pôs meu coração em desacato
E avancei sem temer
Já foi lavrado o acto
Agora nada mais há a fazer.

Está tudo escrito no papel
Com a minha assinatura
Só daqui a uns meses vou saber
Se foi um momento precipitado
Ou um momento de loucura.
>
..
..
....
......
Acreditam os incautos
Nesta minha poesia
Se não fosse dia de enganos
O que mais aconteceria...

dc





quinta-feira, 31 de março de 2016

31'MARÇO'16




Sempre que sentia a distância procurava fazer-se mais perto, procurava atenuar a voz seca que magoa. Temia que todos os momentos de alegria se perdessem na confusão das afirmativas, de cada um, na necessidade de se imporem. Tinha momentos que sentia objecto de uma solidão que não a sua. Talvez por ausência dum projecto, de um estar onde a pele se cola na pele dos sentimentos e necessidades, sem a primazia para qualquer um, onde a palavra sacrifício não faz parte do rol do seu sentir, antes uma palavra vinda de fora que obriga a criar resistência e sobreviver. Na sua forma de gostar o sacrifício não tinha lugar, Pelo contrário, muito mais, mas mesmo muito mais, seria o prazer duns braços que fossem mais comprimidos e o abraçassem para além do corpo penetrassem em espiral dentro de si, e chegassem ao seu coração alimentando seu bater, com calor do seu amor.


dc


quarta-feira, 30 de março de 2016

Tenho saudades de ti..




Nunca me lembrava do teu dia de nascimento, como agora nunca me lembro do dia, ou há quantos anos, partiste definitivamente.
Hoje o prazer de fotografar ausentou-se de mim, quando olhava o mar e caminhava na marginal, no mesmo lugar onde habitualmente fazíamos nas nossas idas a Viana. Ali cumpríamos o nosso ritual, Tomávamos o café no bar da praia, e depois caminhávamos, fotografando, e conversando da nossa ideologia e militância por um mundo melhor. Também falávamos da família dos amigos, e enquanto isso acontecia, íamos fixando os momentos que mais nos impressionavam no cartão digital da máquina. Tu, como eu, embevecidos pelo mar e seu fascínio e vivendo as coisas vulgares.
Nunca foste o irmão mais próximo, quando novos, preferias os teus amigos aos irmãos, embora as nossas diferenças de idades fossem mínimas. Não sei ao certo quando começou a mudança e o nosso melhor entendimento, mas sei que foi muito tarde. Talvez tenha sido quando o nosso irmão do meio ficou gravemente doente e acompanhamos de perto a sua dor até morrer, nessa altura possivelmente sentiste a sua falta e a importância de nos mantermos próximos. Ou talvez tivesse surgido depois daquele AVC, de que resultou a perda temporária da fala, Era bastante doloroso estar contigo, a dificuldade em nos perceberes, vinha no teu olhar angustiado, magoado, receoso, comunicando o teu vazio sem a fala. Com o correr dos tempos, com a tua força de vontade foste evoluindo e falando, trocavas os nome das coisas, mas já comunicavas. A fotografia foi o elo que nos foi aproximando com as nossas discussões entre o analógico e o digital e a duvidosa qualidade estética das fotos de casamento, As diferentes técnicas da fotografia, a cor, as capacidades de arquivo e produção no digital e a tua teimosia pelo método antigo das máquinas analógicas. As discussões politicas, também passaram a fazer parte do nosso aprofundamento e convívio de irmãos, nos almoços a dois que de quando em vez fazíamos. Desde essa altura, sempre que me deslocava a Viana para visitar os nossos outros irmãos, te tinha quase certo como companheiro de viagem, assim como o cheiro da tua água de colónia, que todos reconheciam, que impregnava o carro e era a tua marca de registo e tantas vezes motivo de galhofa entre nós. Ontem vim sem a tua companhia..
Sei uma coisa irmão ausente, hoje, o longe tornou-te perto, inesperadamente. Neste caminhar pela marginal, agora só, recordava esses momentos de partilha, e a saudade bateu, mais dolorosa do que nunca, deixando-me a navegar na tristeza, como se aquele mar me projectasse para o horizonte infinito e desconhecido... tenho saudades de ti.

Viana 27MAR16



segunda-feira, 28 de março de 2016

Olham-se...





Gostei de ver aquele casal sentado na mesa do café, na esplanada junto ao mar.
É quase indizível a forma como aquele olhar os unia e falava do seu amor.
Quando falam olham-se nos olhos, como se não reparassem nas palavras que se soltam da boca, mas naquelas que os olhos dizem. Um olhar substantivo de coisas belas que todos nós queremos ler, ouvir e sentir. Aquele olhar que faz as mãos se procurarem, como se também essas quisessem falar e os atira para o beijo inesperado, que os arranca da timidez e os faz avançar profundamente, como num mergulho em apneia aproveitando a totalidade do ar até ao limite.
Olham-se como se quisessem dizer... por favor, não retires esse olhar que sempre me fala mais de ti, do que a tua boca quando se solta, que o teu corpo quando se oferece, é mais o meu mar onde me perco, é mais a luz de ti, que faz com que os dias sejam algo que vale a pena viver...
Eu fico-me, por um tempo, fora do tempo meio esvanecido de mim, deixo-me envolver no som do mar que me vai chegando, como música de fundo, compondo a estória.

dc