“Fui atrás do que
procurava recuperar e que julgava certo. Encontrei um labirinto de portas que
se fechavam e abriam sem encontrar a saída. Sempre evasiva temendo as amarras,
fugindo quando me sentia presa ou envolvida. Perante isto, dei-me tempo,
isolando-me num lugar onde me podia curar, pensar e perceber a própria
ausência; aí encontrei solidariedade, conforto, amizade. e, quando por fim me
pensava curada, livre para me reencontrar com tudo o que pudesse acontecer,
enganei-me, ao conhecer aquelas duas “figuras”: uma, se assumia livre,
segura de si, em aparente autodomínio e que, de repente questionada, se perdeu
ensimesmada de incertezas, quanto ao seu desejo e forma de viver a vida; a outra, deprimida, tomada por doença misteriosa, talvez mal da alma, meiga, carente
e pretendendo aconchego. De uma senti a sua presença no meu regaço, da outra o
calor intenso dos seus lábios na ponta dos meus dedos, que me fizeram derreter
de ternura. Optei de forma errada, quando temendo tanta doçura de uma, me deixei
levar para ser regaço, julgando não poder ter o melhor de dois mundos. A
percepção do erro foi imediata, não estava preparada para decidir. Melhor seria
nada ter, e partir de novo ao encontro daquilo que efectivamente me encheria de
alegria e felicidade, A paz de espírito que as fugas sucessivas não me davam.
Teria de deixar passar mais tempo, dar a mim própria o conhecimento necessário
para me redescobrir e decidir como escolher quando serei o regaço de alguém que
me faz sentir o calor de seus lábios, mesmo que na ponta dos dedos.“
dc