quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Acasos




Os acasos escorrem por dentro de nós, como bebida fresca no verão, ou chocolate quente de inverno, fazem-no de forma atrevida, inesperada, assenhorando-se do momento, alegrando-nos. Nem todos os acasos são agradáveis, há alguns dolorosos, que surgem como uma topada, de pé descalço, na pedra que surge inesperada, no caminho. Acasos que parecem surgir, como que respondendo a solicitações do corpo, às vontades e desejos guardadas no subconsciente. Explodem sempre no momento certo, como uma espécie de despertador, quando a esperança não é muita, ou o atrevimento é excessivo. Nada acontece por acaso, diz o povo, possivelmente não, ele surge como o reflexo de uma elaboração refinada, dentro nós próprios. Tão refinada elaboração, que até parece ser por acaso. Quando ela, por acaso surgiu, foi a bebida fresca de verão, quando partiu, não por acaso, foi a topada na pedra do caminho, que por acaso, faz lembrar outro dito do povo: Quando uma porta se fecha, logo outra se abre. Será que isto também é por acaso?

dc



segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Entre o sol e a chuva





Entraste pela tarde dentro trazendo o sol por companhia. Foste rainha das falas e encheste o espaço, outrora vazio e indisponível, com o som da tua voz.  A chuva que do outro lado caia, não foi suficiente para apagar a luz que iluminava os teus pensamentos e o calor com definias e defendias tuas razões e as tuas emoções. Foi um navegar à vista, onde a intuição e a sensibilidade foram cumprindo todo o trajecto. Preso ao que dizias, fui lendo nas entrelinhas do teu discurso, teus feitos e vontades e conhecendo um pouco mais da personalidade com exerces o conhecimento. Uma tarde em que a verdade acontecia, o tempo, temporariamente não existiu, nem contou nos ponteiros dos relógios, nem mundo ao nosso redor se sentia. A tua imagem e as tuas falas foram de encontro ao meu espírito abrindo uma porta, ao teu conhecimento.
Há tardes que se tornam inesquecíveis e imperdíveis. Como dizia o Vinicius em outro contexto: “
que seja infinito enquanto dure”.


dc

domingo, 21 de outubro de 2018

De trás da cortina



Existe um sonho, dentro de um o sonho  que alimentamos. Ele cresce e domina a nossa realidade, mesmo quando esta não o realiza de todo. O sonho, desalinhado, incoerente, funciona como “brainstorm”, perspectivando o que a realidade tem dificuldade em desenvolver, ou descobrir. Há sonhos que dominam a noite do sono e morrem no clarear do dia, deixando a semente. Há outros sonhos que sustentam o enfrentar dos dias. Naquele dizer popular, de que temos de assentar os pés no chão e enfrentar a realidade, querem amordaçar-nos o sonho, na verdade se ele morresse dentro de nós, alteraríamos um elemento precioso do adn da vida.


dc




sábado, 20 de outubro de 2018

Pensanoites




Quando as palavras, me acompanhavam pela noite dentro, deixava-as tomar o seu próprio rumo, elas se iam colando umas às outras construindo as frases, sem que tolhessem os sentimentos, debaixo delas vivendo. O eco existia não ao desejo de cada um, mas no reflexo de cada um. Assim eram as noites de dois diferentes quase iguais, até se perderem no próprio sentido das frases, das palavras e só restarem letras soletradas de onde em onde, até que a morte as levasse.

dc

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Escrita nos ombros



Nesses teus ombros frágeis
Onde o mundo por vezes se pousa
Aguardam outros desejos e viagens
Que teu pensamento ousa

Sei pelo que contam meus dedos
Neles tocando ao de leve
Qual o peso dos teus segredos
Mesmo que em carícia breve

E se beijo os teus ombros

Em meus lábios a tua pausa
Com o seu calor te conto nova história
Beijos afastando dores e sua causa
Apagando a tristeza da memória.

dc