sábado, 3 de novembro de 2018

Não só ao sábado





Vislumbram na neblina, imagens fantásticas, entre pensamentos e gestos.
Amanhecemos banhados de emoções e desejos incontidos. Procurámo-nos ansiosos, no beijo, nas mãos agitadas, nos corpos insanos que se querem. Vamos na torrente que nos toma. Cada caricia, um sussurro alongado no tempo. Cada beijo uma chama de fogo, cada suspiro um incentivo da carne esvaziando o cérebro. As emoções chegam à superfície, tomam os sentidos, dirigem as mãos na descoberta do corpo, dos desejos e na realização completa do amor. Despertos, fluem até a saciedade, em manobras ágeis que se entrelaçam e findam na explosão dos afagos.
Restam olhando o tecto, como se o céu fosse a cobertura e o leito o prado verde do campo. As mãos se entrelaçam, o ar que respiram tem a fragrância dos que amando se adentram para além da superfície da pele. As cabeças se movem, os lábios procuram docemente o prazer da serenidade. Olhos nos olhos, aguados lagos, onde ainda navegam a ternura e esperança e o desafio sem limites.
Assim começou o dia, de todos os dias, com que sustentam o que os une e alimenta a capacidade de resistir à invasão das coisas menores, que os possam afectar. Não só ao sábado.

dc

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Dia de Finados





Sim.
É o silêncio
Que o peito esmaga.

A neblina no espelho de água
Em horizonte indefinido
Há muito no tempo perdido

Restam, amor, tristeza e mágoa
Da memória de entes queridos
que em nós nunca se apaga.

dc





terça-feira, 30 de outubro de 2018

Se as árvores falassem




Se as árvores nos contassem toda as histórias que perto de si, escutaram, muitos seriam os livros que teríamos para ler. Elas têm muitos segredos guardados. Na seiva que as percorre, tem a vida, na terra que as alimenta o seu registo. Têm a memória das chuvas, do gelo, do calor, dos humanos que as tocaram, regaram e alimentaram. Possuem os registos dos mais românticos relatos dos apaixonados e enamorados que deixaram a sua marca de amor e desejos a realizar.
A floresta é um lugar de privilégio para nos encontrarmos, connosco próprios. Estar junto de uma árvore e abraçá-la é como comungar de um silêncio que fala.
Gostamos de florestas e de árvores, muitos deixaram na sua pele, uma espécie de lembrança, do abraço que não damos, a carícia que não fazemos e a ternura que alimentamos.

dc

domingo, 28 de outubro de 2018

Sempre o tempo


Quando não vem, a tristeza, ensombra o sono e perturba os sonhos. O silêncio é dono, entranha-se fundo, tomando as rédeas do pensamento, adormecendo o gesto. Ficam as palavras suspensas, as ideias perdendo a energia, as emoções exacerbando-se pela intensidade da falta. Na noite o brusco despertar, onde o vazio se faz sentir, ali bem perto do estender do braço, adentra o corpo nessa incerteza que o silêncio instala. Preciso da sua presença, dessa sua alegria maior, da água límpida que bebo dos seus olhos, do beijo adoçado dos seus lábios, que traz o fim dos maus momentos com o entrelaçar dos corpos se unindo. Na nossa espera de todos os dias, não pode haver tempo perdido: a vida é curta de mais para se despender um segundo.


dc


Momento "ZEN"



A tarde veio fria, ao meu encontro, penetrava o corpo. O sol resistia a deixar dominar-se pelas nuvens que o rodeavam, e eu resistia ao gelo que dentro de mim, crescia. Encontrei antídoto rápido, convidei o meu neto para fazermos uma das coisas que gostamos: fotografar.
Fomos para um parque aprazível, onde se caminha e corre, ao mesmo tempo, nos traz conforto visual e ar puro para dentro do peito. Chegamos, entre o tagarelar entre nós, e o tirar fotografias, percorremos os diferentes pontos de referência: o espaço das máquinas de exercícios, o das merendas, o laguinho onde os patos se divertem. Em determinado ponto estavam estas duas lindas pombas (fotos), cada uma em seu galho, como que à espera a nossa chegada. Estava a cerca de metro e meio de nós. Entre dormitando e abrindo os olhos, indiferente ao disparar das máquinas. Ficamos empolgados com o que víamos, quase parecia domesticada, tal a forma como se apresentava destemida aos nossos olhares e atenções. Foi um momento único com que a natureza no premiou.
Ao sair do parque, com uma calma interior enorme, pus-me a pensar; andamos diariamente tomados pelos medos, preocupações, pressas e um imensidade de coisas, que nos fazem alimentar um “stresse” para além do necessário. Porque não, destes espaços ao ar livre, fazermos o nosso momento “zen” e soltar-nos um pouco, recarregando as pilhas para que a vida possa ser vivida? Já sei que alguns dirão, não ter tempo, apresentando mais de uma dezena de justificações para isso. A todos digo, mesmo sabendo à partida, que muitos gastam tempo em outras coisas, e ao fim do dia pensam ter sido inúteis, rompam com as rotinas, e façam algo diferente como visitar um parque arborizado, onde natureza parece estar ali para nos surpreender. Verificarão com toda a certeza que afinal a vida é mais que o trabalho necessário e a prisão dentro de quatro paredes de betão.

dc