Na pausa, olho a janela onde
a água da chuva escorre, imagino o frio e a humidade que se deve sentir lá fora.
Sinto um arrepio de prazer e dou uma olhada ao quarto. No chão um montão de
coisas, roupas, sapatos, carteira, chaves, um tabuleiro com chávenas. Penso
para mim, não, não vou começar o dia antecipando a morte da noite. Deixarei que
o resto do dia decorrer sem planos, como quem escreve ao correr da pena, assim
farei com os minutos e as horas que virão. Tudo acontecerá como tiver de
acontecer. Se agora estamos no bem-bom, no meio dos cobertores térmicos,
desnecessários, tal é o calor dos nossos corpos, para que temer onde acabaremos
o dia, como será a noite, ou se não é para durar? O melhor é viver as delícias
do reencontro, fazer o aqui e agora. Não vale a pena sofrer de antecipação, pensando
se surgirão as discussões do costume. Se rirmos livremente, deixarmos o corpo
solto, entre prazer e interlúdios, até que o cansaço nos apele ao sono, talvez
seja mais saudável. O fim da estória, só é escrito depois dos acontecimentos,
caso contrário é um fim de um romance qualquer. Eu acho que as coisas entre
nós, nunca se repetem, são sempre diferentes, mesmo que o fim possa ter
contornos idênticos, existe até a hipótese dele não surgir. Livres daquela
questão, de que temos que fazer o que está certo, ou o que esperam de nós, assim
a nossa estória, segue dentro de momentos e pode durar num eterno reencontro.
dc