Sonhar com um grande amor, por
vezes é perigoso. É sabermos que fizemos do irreal a realidade que julgávamos
certa, que acreditávamos no que queríamos ver, e não aquilo que nos era
mostrado.
O ser humano tem uma capacidade e enorme de fazer cenários de acordo com as expectativas que cria para si próprio, e depois surpreende-se com os fracassos.
O ser humano tem uma capacidade e enorme de fazer cenários de acordo com as expectativas que cria para si próprio, e depois surpreende-se com os fracassos.
Talvez por isso, homens e
mulheres, dos mais variados quadrantes sociais, culturais, políticos, vêm, leem,
e falam de amor e tudo que ele envolve. Correm atrás do amor, para o receberem
ou para o prodigalizar. Procuram-no como uma quimera, ávidos de sentir o tal
sentimento, que na maioria dos casos desconhecem, mas tentam adivinhá-lo, nas
diferentes manifestações. Às vezes descrevem-no de tal modo e dão-lhe tanto ênfase,
que o tornam abstracto. Na verdade, tentam descobrir se de facto ele cria
borboletas no estômago, se ele faz tremer, se o coração pula, ao ver a figura,
ou imagem do objecto do seu amor.
Compram-se discos, livros,
flores, oferecem-se prendas variadas, em dias procurados, ou em dias de êxito,
compensando as ausências, ou as permanências menos certas.
Escrevemos, pintamos,
trabalhamos, somos criativos e empolgámo-nos mostrando as nossas fraquezas, as
nossas capacidades, debaixo da inspiração de um grande amor. Por vezes, ele só
existe na imaginação, é musa de inspiração para toda essa criatividade, mas na
realidade o objecto do seu amor, só existe na sua mente, ou estamos apaixonados
e sós.
A realidade com a sua crueza
mostra-nos o engano, a simulação, a inépcia, a incultura, a superficialidade, o
mofo da mente, mesmo quando esta parece activa e moderna. Essa realidade
encarrega-se de mostrar o apego, a dependência, a incoerência, como emoção que
esconde o tal sentimento que ainda, na sua essência, não encontraram.
Quantas vezes o decorrer do
tempo mostra, que aquilo que os unia era menor que aquilo que os aproximava.
Quantas vezes perante o infortúnio se desmorona toda a expectativa criada em
redor desse envolvimento emocional que se confunde com o amor.
O que parecia ideal, quando
se distancia assusta-nos. Leva-nos a pensar que estávamos absorvidos por uma
espécie de droga, que nos tirava o discernimento e cada vez mais nos impedia de
raciocinar sobre o momento.
Será aconselhável a quem
procura um grande amor, fazer como dizia um antigo professor que só casara
acima dos quarentas anos: “Oh! Pázinho -tratamento carinhoso que ele usava com
os alunos a quem respeitava - antes de casar escrevi uma carta à mulher, que
era objecto do meu amor, dizendo-lhe que casaria com ela, se tudo o que
pretendia e abaixo descrevia, fosse aceite por ela. Então enumerei, os vários
itens, do que eu achava importantes para mim, para que fosse a minha mulher, e
o que eu estaria disposto a fazer caso ela aceitasse. Ela aceitou e casamos”.
O seu casamento durou até à sua morte, já com quase oitenta anos. Era um casal amoroso, e de um entendimento ímpar.
O seu casamento durou até à sua morte, já com quase oitenta anos. Era um casal amoroso, e de um entendimento ímpar.
Talvez para haver um grande
amor, ou vir a ter um grande amor, fosse necessário, criar um caderno onde
colocássemos as nossas vontades e desejos, uma espécie de deve e haver, onde os
envolvidos deveriam expressar todas as seus valores, perspectivas, ambições,
desejos, etc. do que querem para evitarem sofrer as decepções e não perderem
tempo em “romances” de desgaste, como dizia a escritora, de roda-bota-fora.
De facto deve ser difícil
adormecer e acordar, frequentar o mesmo espaço, com quem não se quer como
companhia. O contrário também existe, e certamente, neste tempo de quarentena,
talvez fosse o ideal para dizer, “ Agora, mais do que nunca, posso dizer valeu a pena
termo-nos conhecido”.
dc 2012/2020
dc 2012/2020