domingo, 11 de setembro de 2011

11 de Setembro

HOMENAGEM AO POVO DO CHILE

Foram não sei quantos mil

operários trabalhadores

mulheres ardinas pedreiros

jovens poetas cantores

camponeses e mineiros

foram não sei quantos mil

que tombaram pelo Chile

morrendo de corpo inteiro


Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança

e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança 

 
Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no Povo jamais vencido
– o Povo nunca se rende
mesmo quando morre unido

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um ricto de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
Uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.

José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A NET É PerigoSA


Olá, boas tardes, espero eu.
As notícias não são as melhores.
Deparei-me com um artigo publicado há algum no Correio da Manhã, que dizia um professor ter sido assassinado pelo ex-marido da mulher, com quem ele andava. Tinham-se conhecido há dois anos pela internet, e ele estava em gozo de férias no Brasil para estarem juntos.
Estou aterrorizado, afinal a internet mata, não me admira que um dia qualquer, estejamos aqui a escrever e um pixel fure o ecran do monitor e nos apanhe distraídos tirando-nos a vida...ufa, isto está perigoso de mais, partir de agora, sempre que falamos com alguém, temos de pôr colete à prova de pixel, nunca sabemos, se uma desenfreada/o, se lembra e levamos com não sei quantos pixéis na tola e pumba lá vamos desta para melhor.
Deveríamos fazer um abaixo-assinado, obrigando as pessoas a provarem, que já não têm namorados, nem maridos, ou esposas, ciumentos, e também estão em perfeitas condições de sanidade, para bem dos computadores e dos monitores. Um computador custa uma data de massa, e esses doidos ainda nos podem atingir, com o tal pixel e vamos desta para pior.
Muito cuidado nunca se sabe se ao dobrar a esquina firewall temos um pixel assassino.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Ida ao “Restaurante”

Alterando a rotina, resolvi almoçar fora. O restaurante escolhido, sofrera remodelação havia pouco tempo, tinha agora uma fachada mais fresca. Azar, fachada fresca, interior comum, comensais, os habitués. As mesas e as cadeiras em tubo redondo de ferro, pintadas de preto e com tampos de fórmica, eram iguais aos milhares que por aí existem, nos tascos e confeitarias, que foram “renovadas”(?). Os empregados com camisas personalizadas, de trejeitos personalizados pelos hábitos repetitivos, ou seja, barrigona saliente com o botão junto ao umbigo a querer rebentar e uma ponta da fralda a querer saltar.
O ambiente que o enchia era o retrato de um filme feliniano. A gente que sempre o frequentou. Rostos pesados, desarticulados do corpo. Homens jovens e de meia idade que trabalham em dia feriado, com roupas manchadas pelas marcas da profissão. Homens idosos, reformados, com sorrisos apatetados e roupas domingueiras, casais jovens com filhos, que aproveitam o feriado indo comer fora, sem estragar o orçamento, deixando as crianças felizes. Emigrantes que “fazem flores”, comendo no tasco, como se fosse o famoso “Tavares”. A ementa era reduzida aos pratos comuns lombo assado, febras e bifes com batatas fritas, cozido à portuguesa, etc.
Pedi pá de porco, que veio servida numa travessa que dava para encher, de uma só vez, o prato, tinha o sabor dos velhos tempos, do mal o menos. O vinho fazia lembrar aquele dito, “às vezes até de uvas se faz vinho”, tinha álcool, mas sabia a nada. De nada valera refrescar o edifício, tudo cheirava a anos setenta no seu pior. Não dei por mal empregue, este bocado. Enganei o estômago, e pude ver um filme sem pagar entrada.
Fiquei a pensar “ porque razão fazer obras só para “lavar a cara” sem perspectiva do que se quer alterar e mostrar? Que raio de arquitectos, ou decoradores, esboçam um projecto destes sem ter em conta que a mudança de paradigma é importante, e que não é trocando cadeiras e mesas de madeira por metal

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

História de um quadro III - através da janela

Limpo a janela embaciada e olho o exterior, o mau tempo se avizinha. Ele trás a cara feia da minha alma. O céu escuro desenha os imóveis, a estrada, o carro isolado na descida do viaduto. A aproximação das nuvens carregadas de chuva, afastam as pessoas da rua atirando-as para os espaços fechados das casas. O fim de semana está à porta e as expectativas de o gozar ao ar livre parecem goradas. Do mesmo modo que a expressão do desenho, das tintas e da composição no espaço do quadro parecem temerosas de surgir. Após vários dias em suspenso de uma decisão que levasse à sua conclusão, não conseguia relatar o que sentira e vira. Ele distanciava-se constantemente, daquilo que eu sentia dever expressar. Nascera dividido, entre a abstracção e a figuração e nenhuma delas se impunha, nem o qualificava esteticamente. O parar, a não obrigação de concluir, ou encontrar um objectivo, fez com que lentamente surgisse, como por acaso, a sua resolução final. Chegado a esse ponto, nada mais há para acrescentar. Fecha-se com uma assinatura e deixa-se que os outros o critiquem, efabulem a respeito do que vêm, mesmo que nada do que digam tenha sentido, ou lugar, naquilo que levou o autor a produzi-lo. As dúvidas de quem pinta, o optimismo no desenrolar do trabalho e as dificuldades, são de tal forma subjectivas, que reduzem o quadro a uma futura interpretação obtida da biografia do autor: Fulano, originário de família pobre, trabalhara em várias profissões para sobreviver, antes de se dedicar à pintura. É um construtivista, modernista, cubista, impressionista, expressionista e toda uma série de correntes que ele próprio autor, nunca quis saber, e tem raiva a quém sabe. E assim ele foi catalogado e já pode ser posto “à venda”. No meio de tantos artistas e tantos pseudo artistas, vendedores de arte e críticos, o melhor é não nos deixarmos influenciar, estarmos calados e deliciarmo-nos com o que produzirmos.

domingo, 4 de setembro de 2011

A privatização da água


É colocar uma fonte de vida de todo o ser humano, na mão do capital, para que este faça dela, a sua fonte de rendimentos para o futuro.

 
Privatizar a água e a energia, dois bens essências na sobrevivência dos seres humanos, é dar armas aos ricos para garantir, ter em seu poder uma ferramenta de lucro seguro e uma arma de chantagem sobre os povos. À boa maneira dos filmes de cowboys americanos em que os proprietários das terras é que decidiam a quem fornecer a água e a que custo.
A privatização das coisas públicas só têm servido para que o poder económico seja mais forte. As empresas que foram privatizadas, na sua maioria tem uma fonte de receita garantida. Os novos donos ficam senhores de um bem, que todos nós somos obrigados a consumir, com a vantagem poderem fazer os aumentos que entendem, sempre que precisam de capital para renovações, ou novos investimentos. Nenhuma medida económica tomada, até hoje, nesse sentido, serviu para baixar preços, ou para melhorar as condições de serviço fornecidos ao povo, antes pelo contrário. Pioram os serviços, e diluem-se as responsabilidades sempre que procuramos exigi-las.
Não podemos ceder. Temos de exigir dos governantes, que os bens que a natureza nos concede, para a sobrevivência, não podem estar na mão de exploradores. Não podemos aceitar que governo algum, coloque nas mãos de exploradores a ferramenta necessária de chantagem e poder, sobre todos nós. É antidemocrático, desumano e pouco sério.
Temos de copiar os holandeses e os uruguaios que impuseram:
ÁGUA PARA TODOS

HOLANDA PROIBE PRIVATIZAÇÃO DA ÁGUA
A Holanda aprovou uma lei que delimita ao sector público a prestação de serviços de abastecimento de água.
A lei define o tipo de entidades que podem prestar estes serviços – captação, tratamento e distribuição – excluindo empresas privadas e de capitais mistos. Impõe ainda limitações ao tipo de empresas de capitais exclusivamente públicos que poderão ser concessionárias desses sistemas, e determina a cessação da concessão caso se altere a natureza da empresa pública.
Não existia nenhuma concessão a privados de abastecimento de água na Holanda. A água superficial e subterrânea e os terrenos envolventes são domínio público sob administração directa do estado.
O Parlamento Holandês obteve um parecer sobre se esta medida legislativa – a ilegalização da prestação privada de serviços de abastecimento de água – entraria em conflito com a legislação da UE.
O parecer estabelece que nesta matéria os estados membros são livres de deliberar como entenderem.
O Tratado que institui a Comunidade Europeia assegura a neutralidade sobre o regime de propriedade.
Não existe nenhuma directiva que proíba um estado membro de tornar ilegal a privatização da água – nem pode existir, porque seria contrária ao tratado que estabelece a Comunidade Europeia.

Não há qualquer fundamento para uma directiva de liberalização da água
 
Não há nenhuma directiva que requeira qualquer liberalização do sector da água, nem qualquer fundamento para admitir que tal medida seja eminente ou mesmo plausível. A Comissão Europeia considerou essa hipótese em 2003, mas foi extremamente conflituosa e explicitamente rejeitada pela resolução do Parlamento de Março de 2004.

A posição formal da Holanda, considerada um dos estados do mundo mais avançados no domínio da água, e as recentes posições do Parlamento Europeu acima citadas são sintomáticas de uma fragilização da aceitação das doutrinas de mercado da água nos países da UE.
Os governos dos países mais ricos evitam conflitos abertos com os seus eleitores, que lhes possam enfraquecer o poder. A crescente sensibilidade dos cidadãos para a privatização da água e para a espoliação de direitos inerentes, os movimentos públicos de defesa da água para todos e a divulgação de fracassos e consequências das privatizações, começam a criar obstáculos à privatização da água na UE, assim como nos EUA e no Canadá. Será essa força dos cidadãos que terá criado na Holanda a necessidade de lavrar em lei a garantia da gestão pública dos serviços de água.
Mas os mesmos estados que mantém os serviços públicos de água, ou que começam agora a retroceder internamente nos processos de privatização, têm posições inversas nas pressões para a privatização noutros países. É o caso da Holanda, cuja política externa para a “água dos outros” tem sido diversa, participando, por exemplo, na preparação de contratos de privatização na América Latina. Casos semelhantes se passam com outros países que mantém a gestão pública da água, como a Suécia e a Noruega, e, muito mais acentuadamente, na política dos EUA e da UE para com países terceiros.
A privatização da água começa a evidenciar-se como uma frente de neo-colonialismo, ou antes, de imperialismo.

Em Portugal a UE tem vindo a ser invocada como pretexto para a privatização da água e para a imposição do “mercado da água”. Verifica-se que sem qualquer fundamento.
E é o próprio governo que pretende impôr aos Portugueses a espoliação que outros impõem aos “colonizados” ...
Se a Holanda proíbe a privatização da água e, em condições bem mais difíceis, os Uruguaios souberam impôr a água para todos, por que esperam os Portugueses?



sábado, 3 de setembro de 2011

A partida à flor da pele

Partir: Quebrar-se. Dividir-se. Retirar-se...


Não há palavras para a dor que nos atormenta quando partimos. E há muitas formas de partir, em especial três bem dolorosas: quando viajamos, quando morremos e quando  magoamos, ou somos magoados nos nossos sentimentos, morrendo por dentro.
Para que a dor se atenue, só há um remédio e nem sempre eficaz, o tempo, esse malandro que nos vai envelhecendo e matando aos poucos por dentro, deixando-nos muitas vezes, sem capacidade de reagir.
O tempo vai-nos ajudando a acomodarmos nos interstícios da pele essa dor, disfarçando-a na forma como assumimos a origem da sua existência, transformando-nos em pacientes com dor crónica, mesmo sem sabermos.
Quando alguém que nos é próximo vai de viagem, sabemos que regressa, dói enquanto dura a espera, mas a consciência diz-nos do seu regresso, por isso ficamos como se tivéssemos urticária. Se
morre alguém que nos é querido, ficamos com a consciência da irreversibilidade do que aconteceu e vamo-nos habituando, com se tivéssemos ficado com uma espécie de pequena mancha de pele, resultante de uma queimadura, que com o decorrer do tempo a integramos no nossa morfologia. No entanto quando magoamos, ou somos magoados, mesmo quando na procura de fazer bem, ficamos irreversivelmente marcados e dificilmente conseguimos que os sentimentos que nos invadem desapareçam definitivamente. De tal forma assim é, que decorrem os anos e sempre lembramos tudo, com todos os pormenores, como se tivesse acontecido na véspera. Como aqueles sinais que aparecem na pele que se tiram a raio lazer, mas que fica sempre a sensação de que ainda estão lá. Esta forma de partir, é a mais dolorosa. Em vez de se atenuar com tempo, torna-se cada vez mais presente como se fosse alimentando da nossa mente cansada.
Já se descobriram muitas das razões para a dor crónica do corpo. Agora, tentam os cientistas encontrar o tratamento certo, não para atenuar o seu efeito, mas para resolver definitivamente. No entanto, para as dores enraizadas na mente, mas como diz o povo, no coração, só se for uma lobotomia definitiva, ou um coma induzido para as fazer desaparecer. O coração não dói, dizem, mas é nele que se sente a angústia que faz a mente reagir. Só seres desfavorecidos pela riqueza dos sentimentos, podem ficar indiferentes a tal partir.
Na verdade, temos mesmo que deixar partir, mesmo que restem marcas na memória, e marcas na pele, se não o fizermos, corremos o risco de loucura e não encontrar de novo quem nos nossos sentimentos tenha lugar.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
partir -(latim partio, -ire, dividir em partes, distribuir, repartir)

v. tr.

1. Dividir em partes, separar.2.Quebrar. 3. Repartir; distribuir. 4. Ter origem ou começo; proceder; provir.

5. Confinar. 6. Seguir, prosseguir; prolongar-se, estender-se.

v. intr.

7. Pôr-se a caminho, seguir viagem. 8. Ir-se embora. = RETIRAR-SE 9. Sair com ímpeto. = ARREMESSAR-SE

v. pron.

10. Quebrar-se. 11. Dividir-se. 12. Retirar-se, sair. 13. Fugir, afastar-se.
14. [Figurado] Afligir-se, doer-se.


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

“Pregais a pobreza e viveis como deuses”

quem diga "De Espanha nem bom vento, nem bom casamento". Este dito alimentado com o intuito de dividir os povos não corresponde à realidade. Todos os povos contribuem para que se aprenda com as sua experiências, sejam elas boas ou más. A atitude duma parte da população de Madrid rejeitando a visita papal em tempo de crise, deve ser um exemplo para aqueles, que governando, ou na sombra dirigem quem manda.  Pátria, religião e futebol, não pode ser agenda desses senhores, para nos distraírem da verdade dos factos e dos verdadeiros culpados da situação em que maioria dos países se encontram

Eis uma das pichagens feitas em Madrid para receberem condignamente o Papa:

“No Paparán!”, “Papa, go home”
“Pregais a pobreza e viveis como deuses”;

“Se forem vocês a pagar, vão para o corno….de África”;

“Alerta, milhares de padres à solta!”

“Mais vale rafeiro que pastor alemão!”

“Nem, deus, nem deus, nem deus nos representa!”;

“Despesas clericais para escolas e hospitais!”

“Menos padres e mais cultura!”
Extracto de um texto que escreveu Ángeles Maestro sobre o assunto

"A raiva, a alegria, a animação e a rebeldia do povo anti-clerical inundaram as ruas do centro de Madrid. Já dizia Quevedo que a pobreza, “sendo embora tão cristã, tem cara de herege”. E este povo com meio milhão de desempregados, que suporta jornadas de trabalho intermináveis por salários de miséria, que tem assistido a cortes nos orçamentos da Educação que representam metade do que vai ser gasto na visita de Bento, que vê desmoronar-se a saúde e os poucos serviços sociais públicos, de mulheres e homens de todas as opções sexuais, irrompeu ontem.
Os dinheiros públicos, os que saem e os que não vão entrar em resultado do desagravamento de impostos, os boatos, a cidade ocupada por peregrinos “convidados”, as mochilas que cada um de nós pagou, tudo isso foi pouco a pouco surgindo como um insuportável insulto à dignidade dos trabalhadores que neste sufocante mês de Agosto ficaram em Madrid. Com a convicção, mais uma vez, de que o não-confessionalismo da Constituição de 1978 é papel de embrulho, e de que o nacional-catolicismo de Franco não o teria feito melhor."

http://www.odiario.info/?p=2183
http://www.redroja.net/