quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A QUE DISTÂNCIA ESTÁS DO MEU MAR...

 
A que distância estás do meu mar, para que eu tema que te percas na ilha deserta onde te refugias.
O teu falar é mais pesado que o silêncio. Saem as frases divididas por paragens prolongadas. Escutas o vazio. Divagas, sem ênfase.
Em que lugar, geográfico de ti, sou presente e qual a dimensão?
Tornas-te um sonho difícil de alcançar, semeias distância, maior que o espaço entre as cidades, vais gelando o amor com o silêncio. Não há regras, sendo a regra não as haver. Oscilas, entre o nada e o coisa nenhuma, como se tivesses receio de evidenciar a tua verdadeira pele.
Não ter medo de perder, talvez, seja reflexo de nunca teres tido... tempo... vontade... amor...
Somos surpresa, para quem nos quer, por espanto de existir, pela diferença entre os comuns. No entanto a diferença pode ser fracasso, pode ser um presente, sem futuro, talvez.... sim talvez... necessária a serenidade...

Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humidade das bocas.

Vem, serenidade!
faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os ombros subam à altura dos lábios,
faz com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Raul de Carvalho
 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

História de uma morte anunciada



Texto escrito a 31/12/11 - Matosinhos
Rui Huet Viana Jorge

                                    A MORTE DO EURO
Numa sexta-feira qualquer do ano de 2012, o Sr. Primeiro Ministro virá á hora do telejornal, anunciar a saída do euro.

A partir desse momento, estarão encerrados todos os bancos, e ATM(s). O Nosso 1º Ministro anunciará para os próximos dias o valor de conversão do euro em escudos; Ninguém julgue que vai receber 200$ por cada euro; o cambio será o que o governo e o Banco de Portugal entenderem mais favorável para pagar a dívida soberana.
Um número que me assalta, é 1€ = 100$. Vai ser mais fácil para os portugueses fazerem as contas, e 50% da dívida ficará logo saldada.
Passará a ser proibido atravessar a fronteira com euros. Possivelmente as fronteiras serão fechadas alguns dias para melhor controlo, muito embora os amiguinhos do costume (banqueiros governantes e seus próximos) sejam avisados com a devida antecedência.
O sistema financeiro será todo nacionalizado, para melhor controlo. A taxa de cambio entre euros e escudos, terá a responsabilidade política do governo, e a responsabilidade monetarista do Banco de Portugal. Como de costume a responsabilidade partilhada vai servir para acusações mútuas, e fuga ás responsabilidades.
Voltarão as quotas/tarifas ás importações.
O banco de Portugal passa a ter o poder de emitir moeda, jogando com a inflação e a desvalorização da moeda conforme as conveniências.
Depois do Banco de Portugal carimbar(marcar) todas as notas de euros, para poderem circular novamente, o que no mínimo demorará uns dias largos, embora possa ir libertando dinheiro marcado ao fim de 2 a 3 dias, todos os portugueses sentirão verdadeiramente o que se está a passar;
Façam as contas: ou ganham metade ou todos os produtos custam o dobro;
Em termos e economia caseira é igual.
Um pequeno exemplo: pegar no automóvel e atravessar a fronteira para ir a um simples almoço, passa a ser uma operação delicada a pedir orçamento prévio.
Quanto tempo iremos demorar a recuperar????
Se imaginarmos o país tal como ele é, se continuar a ser, teremos uma economia atrasada, débil, e seremos eternamente assim.....
Uma das saídas mais provável para a sobrevivência de muitos de nós, será a agricultura, que por falta de meios financeiros irá ser na maioria dos casos, uma agricultura de sobrevivência.
Possivelmente por isso é que o fado passou a ser património imaterial da humanidade.




 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

POR ESTE MUNDO ACIMA

“Por este mundo acima”, atirou-me do meu mundo abaixo. Tal e qual o Eduardo, também eu choro por tudo e por nada, e ao ler o livro, não raras vezes aconteceu.
Choro pelas muitas Sofias deste pais; por faltarem mais Eduardos no mundo presente; por haver poucas Patrícias e Sebastiões, mas muitos canastrões da literatura a vender “uma espécie de livros” e porque afinal, é preciso estarmos na eminência de desaparecer, ou de desaparecer este nosso mundo, para nos apercebermos quanto é importante dizer, eu amo-te, gosto de ti, adoro-te.

Li o livro e senti o vazio de uma cidade, de um mundo, sem que precisasse de uma descrição exaustiva, as palavras e os protagonistas colocaram-me lá.

Vivi intensamente um Eduardo, uma Sofia com um passado pesado e um Pedro, que nem sabe porque razão por vezes é mau, mas que se não encontrasse um “Eduardo”, talvez fosse vitima das circunstâncias.

É um livro de fé e confiança no ser humano, de que é possível de entre os escombros de uma sociedade, encontrar formas de vida, até por vezes mais solidária.

É assim que eu vejo o livro, certamente diferente de muitos outros e ainda bem, mas paciência eu sou como Eduardo, também as lágrimas por vezes me correm no rosto sem saber o por quê?

PRIVATIZE-SE A PUTA QUE OS PARIU


JOSÉ SARAMAGO, sempre atento produziu este texto que está mesmo, mas mesmo adequado, aos tempos que correm ...em especial em Portugal.

Privatize-se Manchu Picchu,
Privatize-se Chan Chan,
Privatize-se a Capela Sistina,
Privatize-se o Partenon,
Privatize-se o Nuno Gonçalves,
Privatize-se a Catedral de Chartres,
Privatize-se o "Descimento da Cruz" de António da Crestalcore,
Privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela,
Privatize-se a Cordilheira dos Andes, z
Privatize-se tudo,
Privatize-se o mar e o céu,
Privatize-se a água e o ar,
Privatize-se a justiça e a lei,
Privatize-se a nuvem que passa,
Privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos.
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
Privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvaçãodo mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.

[José Saramago - Cadernos de Lanzarote, Diário III, p. 148]

SURGINDO DA NOITE ESCURA

Surgira da noite escura, partilhando um espaço de vida, outrora morto, afagando seu ego, elevando a espiral do seu sorriso e deixando no ar um mar de sonhos e esperanças.
Todos os dias, são salpicados por histórias várias de apelo à resistência e à confiança, de que o caminho, embora difícil, não impedirá que cheguem ao objectivo. Não ficara claro se foram talhados um para outro, mas uma coisa é certa, se se encontram nesta etapa da vida, no cruzamento inóspito, das estradas percorridas ao longos dos anos, é porque teriam de fazer um percurso juntos, não sabiam quanto nem em que direcção, mas teria que acontecer.


Vivenciaram-se. Agora restam, trocando lágrimas de alegria, porque se sentem gratos, no chegar ao fim do dia.

sábado, 7 de janeiro de 2012

FUNERÁRIAS AO PODER

Quando estamos doentes as defesas físicas e mentais estão abaixo de zero. Sentimos que não somos ninguém, o nosso corpo não nos obedece. Tomamos os remédios recomendados, mas o mal demora a desaparecer e em alguns casos, não há solução. Por muito que os médicos, familiares e amigos dêem conselhos, ou nos animem, nada é suficiente.

Um simples gripe acompanhada de febre, deixa-nos como se fossemos moribundos, suados, mal cheirosos e a delirar. Ficamos sem apetite e dormimos como se não o fizéssemos, como se existisse uma cortina de ferro sobre os olhos, os ouvidos com sons de um exército a marchar e acompanhado do martelar das batidas do coração. São vinte quatro a quarenta oito horas de loucura, que mal sentimos melhoras quase nos apetece dançar de alegria.

Pior, pior é quando não é gripe, porque aí tudo se torna mais estranho e ficamos ensimesmados, no que poderá ser, ou não ser, e embora não tenhamos febre, as preocupações aumentam.

Em tudo isto, se formos mal acompanhados pelos médicos, ainda mais descaímos e a doença parece tomar conta de nós.

Muitas vezes a doença é acompanhada de solidão, ausência de amigos e família, aí então, sentimo-nos a maior merda do mundo. Somos derrotados pela doença e pelas condições psicológicas que acentuam todos os contornos que a envolvem.

Este retrato mal amanhado, do modo como muitos vivemos quando doentes, for vivido e sentido, dentro das novas medidas assumidas pelo governo, considerar-nos-emos, abaixo de zero ao quadrado e desesperados. Com medicamentos não comparticipados, taxas moderadoras mais elevadas, centros saúde fechados nos feriado, ou fim de semana, consultas externas com meses de atraso, cirurgias para o dia de “São Nunca”, que mais irá acontecer? Só podemos ficar mais doentes.

Aconselho o governo a promover as agências funerárias, dando-lhes condições de implementação rápida, se possível à porta dos hospitais, e com apoios financeiros, para que os utentes comecem cedo a pensar na partida para o outro lado, porque neste já os senhores do governo nos fizeram a folha.


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

FALAR da NOITE..


Dizem que a noite é boa companheira, ou melhor o dormir em cima das coisas. Nem sempre isto é verdade, por vezes a noite é povoada de fantasmas, de dúvidas, de angústias, que a escuridão adensa. Por vezes o nascer do dia, torna tudo mais leve e fácil de concretizar. Daqui, se me gera a dúvida. Será, que por causa das tais negritudes, que ensombram o nosso pensamento, depois o dia seguinte nos parece melhor, ou de facto, a noite é péssima companheira tornando tudo mais difícil e como consequência respiramos de alivio quando de manhã acordamos? Será essa a razão para que se diga que é boa companheira?
Uma coisa é certa, dizem os aturados especialistas que nos devemos “deitar com as galinhas” e acordar com o cantar do galo - que chatice se o galo está mal disposto, ou a galinha está com o TPM, porque de uma forma ou de outra somos prejudicados - , ou outra expressão bem popular “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”. Na verdade, existe algo de verdade nestas observações. A noite, normalmente, mesmo no centro da cidade, é mais silenciosa, como tal, permite um maior descanso e maior facilidade no adormecer e os ruídos de ambiente não continuam a martelar o nosso subconsciente enquanto dormimos.
No entanto, tenho para mim, que a noite, ou o dia, são espaços temporais, que têm características próprias, tornando-se escuros, claros, bons ou maus, dependendo da nossa personalidade, educação, cultura, daquilo que vivemos, como vivemos e do que gostamos.
Há momentos da noite que são lugar de veludo, deliciosamente sentido.
Há noites de amor, onde a seda da pele, o tacto, os cheiros, os sons, as palavras ciciadas prendem a nossa atenção e dão lugar ao sonho. Outras, não menos numerosas, em que o prazer das palavras, que se nos deparam aos olhos nos deixam extasiados na descoberta de outros mundos. E muitas outras, que tornam a música mais sublime, ou fazem, com que a viva voz, pela noite fora se diga da alma. 
Tem noites, em que nos revelamos, seres excepcionais, amigos incomparáveis, almas de aconchego. 
Viva a noite, que nos torna sublime o dia, para que este faça da noite um momento sublime.