Ficou perdido no caminho quando atravessava as montanhas. Ele se arrastara na renúncia de si próprio, para chegar mais alto, adentrando, entre árvores, flores e espinhos, sentindo o apelo da terra.
Subira, subira, procurando dar tempo de espera, aceitando a distância, não percebendo as recusas, perecendo seu sentir pela indiferença, individualismo e desistência. Importante era chegar ao interior, ao centro da montanha, que se propusera conquistar, como se dum Everest se tratasse.
Plantou uma flor em seu peito, regou-a com o desvelo das palavras, das frases que se iam soltando nos seus dizeres, e procurou que seu cheiro não se perdesse, na rudeza da montanha. No entanto a imensa seca do nascer do novo ano, fez com que tudo se amadurecesse rápido de mais, sem que o sumo de outrora, que enriquecia todas as plantas e frutos, fosse vigoroso, abundante e permanente, sustentando os riscos que desenhavam diferentes quereres. Assim, Pedro Vagabundo, caminhador de profissão, se perdeu em mais uma terra, sem ter encontrado a musa dos seus sentires, nem o calor de seus braços, nem o caminho da montanha que se prometera conquistar. Morreu-se de si, abraçando a árvore que não conseguia abarcar com seus braços débeis, deixando-se escorregar lentamente pelo tronco e beijando a terra já com os lábios frios de quem partiu.
terça-feira, 8 de maio de 2012
MORREU-SE DE SI
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Foto: Diamantino Carvalho
segunda-feira, 7 de maio de 2012
DIA DE...
Dia das mães, dos namorados, do pai, das tias, dos avós, de rócócós e inspiradas comercializações, que tentam de um modo ou de outro lembrar o que por si só já deveria ser lembrado todos os dias. No entanto em nome do “santo dinheiro”, invente-se, para que os parolos gastem as suas parcas economias em mais um consumo, que deveria ser substituído por carinho e amor às carradas na partilha da vida de todos os dias.
domingo, 6 de maio de 2012
Desta para melhor, ‘SETRIPERES’
Dizem governantes, patrões e outros que tais, que os portugueses não têm criatividade, que os que têm mais de cinquenta anos não têm trabalho; que as pessoas chegam à reforma e não sabem o que fazer, enfim uma série de disparates. Quem mais sofre com isso são os mais velhos, sejam eles pensionistas, reformados, ou desempregados. De facto, perante tal assunção, andam tristes desconsolados, tanto assim, que até pensei se não seria porreiro criar uma agência chamada Infante D. Henrique, por ser o nome de um português empreendedor (como agora se diz) que se virou para as descobertas, e navegações, talvez até sem sabermos, em águas turvas. Voltemos à agência. Esta devia pensar nesse tal segmento. Neste caso, teria como objectivo preparar festas para idosos, assim como aniversários, 50 anos de casados, e por exemplo, no lugar das despedidas de solteiro, festas de striptease “vai desta para melhor”. Com ‘setriperes’ com mais de cinquenta anos, saindo de um caixão enfeitados com antúrios violeta, e aros em ouro, dançando ao som dos metálica, ou dos ACDC, para que o entusiasmo fosse levá-los “desta para melhor” cheios de pica.
Julgo que o governo deveria apoiar todo este tipo de empreendimentos, pois teria a vantagem de ocupar os idosos, enquanto durassem, poupar custos à segurança social, com medicamentos e tratamentos, na velhada inútil, e evitar que alguns fulanos gastassem dinheiro em lares de terceira idade, mofentos, onde deixam os seus familiares para não saberem como distraí-los.
Espero que esta ideia tenha seguidores, pois dá azo a que se criem mais e melhores empreendimentos, como viagens de luxo ao inferno, uma semana de bem estar aos sem abrigo, com caixas de cartão de qualidade, e um lugar debaixo de um vão de escada de um edifício de condomínio fechado, ou até direito a banho gratuito e sopa de caldo verde, durante uma semana, na porta de uma qualquer superfície comercial em dias de descontos a cinquenta por cento.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
A CHUVA
Chove, enegrece o céu
E a tristeza nos invade
Como na cabeça o chapéu
Cobre os cabelos brancos da idade
Ouço-a nas gárgulas a gotejar
Na vidraça a força do seu bater
Nas ruas e campos ameaça tudo inundar
Sem força humana para a conter
Um bem da natureza, humana necessidade
Deixa-nos desconfortáveis com medo do seu poder
Embora musa de poetas no seu escrever
E dela dependendo as plantas no seu nascer
Alguns de nós ficamos tontos sem rumo
Procurando, ruminando algo com que entreter
Este tempo que se vai como o fumo
Sem sabermos ocupar o tempo que nos resta viver
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Foto: Diamantino Carvalho
quinta-feira, 3 de maio de 2012
FLOR DE UM OUTRO ABRIL
Penso em ti flor de um outro Abril
Que alimentaste meu sonho e vida
Na voz do povo de águas mil
Foste cravo do tempo preferida
No 1º de Maio desfolhaste uma flor
Em tuas entranhas alimentada
A quem dás todo o teu amor
E todos anos recordada em data marcada
Não sendo única em teu jardim
Por ser primeira no seu nascer
Deixou-te para sempre marca em teu viver
Hoje outros amores perdem teu olhar
E não têm o eco da tua alma, nem do seu gostar
E para sempre se perdem nesse caminho sem fim.
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Foto: Diamantino Carvalho
OUVI PALAVRAS AGRESTES
Ouvi
As palavras agrestes,
Desconexas, violentas
Continuando no seu zumbir
Não são frases com letras
São palavras com sentir
Surgem como setas
Doem no seu fluir
Ele tomba, rola, enleia-se
Vomita-se nas palavrasMerda. As frases existem
Fica-te surdo à sua violência.
Espera as palavras amigas
Que exprimem outra essência
E mandem a dor às urtigas
Parte com fúria, mas não gritando
Não deixa que rolem lágrimas
A cólera se irá afastando
Pela primeira vez, fica-te firme
Sem temer as rugas na expressão
Deixa ao corpo que não se redime
A dor de tão grande paixão
Fervilham pensamentos
Desconhece o que os alimenta
Lembrando-lhe tais momentos
E a dor que o atormenta
No rosto sorrindo, a couraça
No silencio a mordaça
À mágoa que dentro de si quer calar
Não há tempestade sem bonança
Para fazer serenar o mar
Na verdade
Se calhar,
Só saudade
por ter de acabar
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Foto: Diamantino Carvalho
terça-feira, 1 de maio de 2012
HOJE 1º DE MAIO
Hoje 1º de Maio Dia Mundial dos Trabalhadores, e segundo as tradições na noite de mudança de trinta para um, se põem Maias nas portas para afastar o “carrapato” ou proteger as casas de malefícios. Actualmente seria bom que, em vez do “carrapato”, nos afastasse da crise e dos “Coelhones” que actualmente entram pela casa dos portugueses, indo-lhes aos bolsos.
Este dia foi assinalado pela abertura das grandes superfícies comerciais, outrora fechadas, e pelas campanhas vergonhosas de algumas, que escolheram o Dia do Trabalhador para oferecerem enormes descontos, dividindo as vontades das pessoas, e assim, ao mesmo tempo, pressionando os seus trabalhadores a apresentarem-se ao serviço.
Pelo sim e pelo não, os trabalhadores deram resposta na rua manifestando-se aos milhares em todo o país, lançando alto e bom som a sua discordância contra as politicas do governo, e do grande capital, na destruição das conquistas e direitos dos trabalhadores conquistados após 25 de Abril. Este é o objectivo número um do governo e do grande capital. A crise existe e foi criada pelo poder económico. O dinheiro não foi queimado, nem se evaporou, mudou foi de mãos, então por que razão querem que o povo pague?
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