sexta-feira, 5 de junho de 2015

A cidade onde eu moro




Na cidade onde eu moro os muros são cinzentos, as ruas alcatroadas são cinzentas, o céu morre de chuva cinzenta, No entanto os guarda-chuvas são vermelhos, os corações das suas gentes são vermelhos, os amores são vermelhos, as rosas são vermelhas, Por isso dou como conselho a quem nos visita, o sinal de perigo nas ruas da cidade dão alerta a vermelho, porque se alguém entra de alma cinzenta, sai de certeza com ela toda de vermelho.

dc


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Importante é a liberdade



importante
é
a liberdade
de sentir
dizer e pensar,
sem aos outros
tirar
a palavra
o prazer
o desejo
de expressar,
numa atitude
num abraço
num beijo
ou outra forma
que se queira
manifestar.
por isso
não gosto
de calar
o que se tem
para falar
mesmo
que possa
errar.
importante
importante
é a liberdade
de pensar
sem ao outro
impedir
o seu falar.

dc

terça-feira, 2 de junho de 2015

VIAGEM



Por vezes esticamos o tempo
Por vezes o fazemos minguar
Depende do momento
E do que queremos alcançar.

Sem esquecer nessa viagem

Que em todos os passos dados
Para atingir um objectivo
Tão importante é o feito conseguido
Como os momentos que passamos
No percurso acontecido
.

dc

domingo, 31 de maio de 2015

Um lugar com história



Fiquei olhando os pedaços de tela, que se agitavam, com o vento, contra o céu azul. Pedaços de tela tecidos com o fio dos dias e rasgados pelo cansaço da intempérie. Agora, a outrora, função publicitária e de esconde esconde aos olhares dos passantes, resultavam como esculturas móveis, abstractas, que dançavam perante os meus olhos, mostrando de modo intermitente os espaços em volta. Como que suspensas, interagiam com a velha chaminé, que de vez em quando surgia, entre elas, assim como a torre da igreja próxima.
Os pensamentos ocorriam até aquele espaço, enrolados pelo vento. Pedaços de arqueologia industrial, avivavam memórias do passado distante, onde a vida dos operários, também eles desgastados pelo cansaço dos dias, funcionavam como pequenas peças da engrenagem da exploração empresarial. Tempo de fatos macacos remendados e de cores escuras, de aventais, de cabelos enrolados na cabeça das mulheres.
Bruscamente, o hoje acordava, com a buzina do carro que passava, trazendo-me à realidade da modernidade que aqueles pedaços escondiam.
Reencontrei-me, começando a roubar aqueles pedaços para dentro da minha câmara digital, tentando captar a sua fala.


dc

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sons que Não Chegam




Dos sons que não chegam,
ficam as palavras escritas,
deixam à imaginação todas as coisas
que podiam ser ditas,
         sem carregar o sobrolho
nem trejeito nos lábios
         ou diferente entoação,
não são mais do que coisas escritas
não ouvidas
         sujeitas a interpretação.


Escrevo-te assim muitas vezes
         deixando-te a pensar livremente
na sua sonoridade e conteúdo
         mesmo que na verdade
         não seja a minha realidade
que satisfaz a tua mente
         nem aquilo que lês te diz tudo.

dc

terça-feira, 26 de maio de 2015

No tecido dos dias




Tacteando no tecido dos dias, procuro reencontra-te nessa alvura dos sonhos, em que amantes vivemos. E fico-me, com as mãos bailando no vácuo, roçando esporadicamente meus lábios, no perfume que de ti, ainda sinto.
Levo-te comigo para o correr da noite, com a imagem que me deixaste e, no silêncio da noite, reencontro-te, tão próxima, como se fosses pele do meu corpo...

dc
 

domingo, 24 de maio de 2015

Ardilosamente o Tempo Passa



Ardilosamente o tempo passa
consumindo, dia após dia,
o nosso pavio.

Pouco a pouco se vai a energia,
Ficamos com a paciência
E engolimos a arrelia.

Maduramos, na experiência,
Sentimos o frio da ausência,
E vamo-nos adaptando
À morte lenta do encanto.

Tornamo-nos mais práticos
E enigmáticos,
Fazemos pose de indiferença
Avaliando atentamente.

Os riscos são mais calculados,
Pensamos mais com a mente,
Para não sermos amordaçados
Por um amor indigente.

Mas se há coisa na experiência,
Que nos ajuda a caminhar,
É não fazer dela ciência
E aproveitar o tempo de amar.

dc