segunda-feira, 28 de março de 2016

Olham-se...





Gostei de ver aquele casal sentado na mesa do café, na esplanada junto ao mar.
É quase indizível a forma como aquele olhar os unia e falava do seu amor.
Quando falam olham-se nos olhos, como se não reparassem nas palavras que se soltam da boca, mas naquelas que os olhos dizem. Um olhar substantivo de coisas belas que todos nós queremos ler, ouvir e sentir. Aquele olhar que faz as mãos se procurarem, como se também essas quisessem falar e os atira para o beijo inesperado, que os arranca da timidez e os faz avançar profundamente, como num mergulho em apneia aproveitando a totalidade do ar até ao limite.
Olham-se como se quisessem dizer... por favor, não retires esse olhar que sempre me fala mais de ti, do que a tua boca quando se solta, que o teu corpo quando se oferece, é mais o meu mar onde me perco, é mais a luz de ti, que faz com que os dias sejam algo que vale a pena viver...
Eu fico-me, por um tempo, fora do tempo meio esvanecido de mim, deixo-me envolver no som do mar que me vai chegando, como música de fundo, compondo a estória.

dc


quarta-feira, 23 de março de 2016

MásCara para que vos quero..




Uso-a como outra pele, defendo e protejo-me do reconhecimento doloso, de tudo o que de verdade me identifica, por dentro e por fora.

Sou proscrito da desavença, dos entendimentos, só na planície me entendo, na sua imensa dimensão, É ali onde posso tirá-la, ser, é ali que me cai o subterfúgio, não preciso de outro perfil que não seja o próprio, Não me comovo, nem me comovem, não sou levado, nem me levam, não existo, nem dou existência. Sou eu e, como dizia o outro, sou um Zé Ninguém, não dos submissos, antes um que se afasta do ventre social, escondendo as rugas que marcam os anos e a piedade forçada.

Não é preciso a existência de uma efeméride para que aconteça, nem festa pagã, ela já faz parte do quotidiano de muitos, dos quais eu fujo, para que não me incomodem, pois embora não a usem, como eu fisicamente, a afivelam no rosto com a sua hipocrisia.


dc




terça-feira, 22 de março de 2016

Os teus dedos...





Os teus dedos lavrando a superfície da pele ainda estão registados na memória do corpo. Teus lábios ainda restam na minha boca a cada momento que respiro... e te respiro, o teu sorriso ainda faz parte da luz que me persegue e as tuas pequenas loucuras ainda fazem parte da lista das coisa boas que recordo.
Tudo isto para te dizer, que fujo do vazio, desse negro túnel de nuvens pesadas que se debruçam sobre mim, querendo me tirar a paz e me fazerem esquecer, que vale a pena o tempo que decorre entre cada reencontro.

dc





sábado, 19 de março de 2016

Que se lixe





Me espanta o que se desconhece, de quem pensamos conhecer, estamos tão habituados a uma bitola do que consideramos conhecer e partilhar, que de repente, ouvimos algo que nos deixa confusos: “será que ouvi bem?” Só nessa altura descobrimos o que desconhecemos, e quantos erros cometemos, nas analises que fazemos uns dos outros, que pensamos: “o melhor é estar calado e não dizer o que penso, pois se o digo fico tudo piora.” É uma parte de nós que fechamos, e nem sempre a fechamos com propriedade, é mais naquela ideia de pensar - não tenho que dizer tudo. Não é o dizer tudo que está em causa, é não saber avaliar, o que desse tudo, é importante para a partilha daqueles com quem contamos e vivemos o nosso percurso com prazer dos dias. É troncar um conhecimento de nós que pode ser clarificador, daquilo que o outro é, do quanto estou disponível para o seu eu. Por isso eu digo não quero que me inibam de dizer e de ser, não me reduzam a liberdade, fazendo-me a saudade do só que não desejo. Não me tragam tempestades, só porque o dia nasceu cinzento, nem me julguem na brevidade. Há quem diga, que é “doença” dos latinos, quando estão felizes logo rápido inventam razões para duvidar e pensar, que começar o dia a rir, ao anoitecer vai acabar por chorar. 
Que se lixe, não quero ver tudo a preto e branco, quero o fogo quebrando o cinzentismo dos dias.

dc

quarta-feira, 16 de março de 2016

só agora o pudera ver




Seu olhar me abraçava,
me tocava a alma
e eu me recusava a ceder.
Seus dedos afloraram minha boca,
percorrendo meus lábios
como um cego a ler,
como se sonhassem o beijo.
Seu amor me adentrava
derretendo as dúvidas,
que ousara ter.
Não havia porque fugir
se a mim se destinava ser
e só agora o pudera ver.

dc