segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Mãos se tocam



Quando as mãos se tocam, os dedos se enlaçam, o arrepio entra na pele para dentro de nós, tudo se desmorona, tudo se esquece, as faces tornam-se róseas, os olhos se dizem em seu brilho, os corpos comunicam sem palavras e se elanguescem. O tempo não existe, é uma acontecer sem idade, sem lugar. O espaço se torna vazio, o ruído de fundo esmorece...só mãos, como se estas nascessem com o saber das emoções.
Tantas vezes, mãos, prelúdio de uma música maior, seguindo a pauta de um amor que se descobre. Tantas vezes, mãos sustento de um amor maior, no caminho sereno dos dias...
Quando voltares, para caminhar ao meu lado, não te esqueças que as tuas mãos me desenharam arabescos na pele, antes de sentir o calor dos teus lábios, antes mesmo de te amar por inteiro...


dc

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O TEXTO QUE NÃO ESCREVI


Hoje bem cedo, quando me preparava para iniciar a minha caminhada rotineira, tocou o telefone, como era muito cedo assustei-me, pensei o pior. Quando olho no visor, e vi o seu nome ainda fiquei mais preocupado. Atendi, e a noticia deixou-me um pouco em estado de choque, afinal a montanha não pariu um rato, mas um autêntico dinossauro, não havia nada a temer e recebia uma das mais belas notícias de toda a minha vida. Minha irmã tinha concluído a licenciatura!
Escusado será dizer que hoje caminhei de sorriso de orelha a orelha, sempre a pensar como encontrar as palavras adequadas, para no meu blog, dizer tudo o que havia para dizer, sobre toda a sua aventura. Não me saía da ideia o chavão “ querer é poder” e a canção Exílo, cantada por Adriano Correia de Oliveira e que tantas vezes ouvíramos:
 
     Venho dizer-vos que não tenho medo
     A verdade é mais forte que as algemas.
     Venho dizer-vos que não há degredo
     Quando se traz a alma cheia de poemas.

Aqui substituia inconscientemente a “verdade”, por “vontade”. De facto, só uma vontade indómita de levar a bom porto o seu objectivo, é que a fez superar todas as difculdades, profissionais, familiares, e emocionais, que ao longo do curso lhe foram surgindo.
O texto ficou por fazer, escondido dentro de mim, há espera de coragem. Quando hoje, pela tarde, abro o Facebook e leio o texto do meu sobrinho Miguel, pensei para comigo, nada podia ser dito tão bem, ainda bem que não me atrevi.
Por isso, hoje no meu blog, o texto que eu não escrevi tem um significado superlativo. O orgulho pelo feito conseguido pela minha irmã Branca e pelo belo texto escrito por um sobrinho, que a honra, e ele próprio orgulho de todos nós.

dc


BRANCA, A MINHA TIA BRANCA
O dia amanheceu assim, com lágrimas. Explico: esta senhora é minha tia. Chama-se Branca Carvalho, tem 63 anos, e acaba de se licenciar na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo.
Quando estava quase a fazer 20 anos, entrou para a clandestinidade para lutar por um País novo. Na manhã de um domingo de Maio de 1973, atravessou de barco as águas onde rio e o mar se abraçam até à margem da Afurada, deixando para trás família, emprego e identidade. Passou a chamar-se Mariana, nome de código. E só apareceu em casa a 29 de Abril de 1974, quando a liberdade já não voltaria atrás. Quando chegou, havia flores novas na velha casa do Vale Formoso. E cheirava a bolinhos de bacalhau, quentinhos, acabados de fritar.
Hoje dirige um ATL em Viana do Castelo, o Descansa a Sacola, que é um modelo de ensino e onde não faltam poemas pelas portas e paredes. E onde parte da minha família ainda luta, até ao último cêntimo, até ao último verso, para que as crianças possam sonhar e viver num amanhã mais decente.
Devo-lhe uma pequenina parte do País que hoje temos. Aquele que não está falho de memória e sabe que as lutas só terminam quando sabemos que o nosso semelhante adormece com a mesma dignidade com que desperta. Por isso, pelo País que ela sonhou (e, em parte, ainda somos), a minha tia escolheu sempre os outros. Quanto ao “eu”, logo se via...
Devo-lhe, e a todos os meus tios, a melhor infância e adolescência que se pode ter, onde nunca faltaram os pedaços de sonho que devem comandar a vida. Houve festas, abraços e afetos a rodos. Livros, filmes, canções e momentos vividos estrada fora, vida dentro, costurados como devem ser sempre os laços e as memórias: eternos.
Nesta família, já passámos por muito, já passámos por tudo.
Caímos, mas levantamo-nos. Ela mais vezes. Nunca baixou os braços.
Para ela, uma dificuldade nunca é uma dificuldade. É apenas um caminho mais apertado, mais demorado, para que as mãos possam, de novo, tocar o céu. Ou tentar, pelo menos. Sou suspeito, mas acreditem: a vida dela é um exemplo de sacrifício e abnegação, onde nunca faltaram os sorrisos sempre prontos para os dias mais aziagos.
Hoje pela manhã, quando as lágrimas me escorreram de felicidade, lembrei-me de tudo isto. E de como a vida pode ser, afinal, justa e devolver-nos sonhos, novinhos em folha, se soubermos que os apeadeiros e as curvas apertadas fazem parte do percurso. Para isso, precisamos, por vezes, de alguém que nos inspire. No meu caso, chama-se Branca. Branca Carvalho. A «Mariana» que, no País sombrio de 1973, já lutava sem a certeza de dias claros, sem saber quando a liberdade viria. Ou se viria. Mas nunca desistiu.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Ao meu neto




Nada melhor que o teu aniversário para me motivar e estrear o mês de Fevereiro escrevendo.

Os anos passam e as mudanças se acentuam. Da sua boca as palavras já saem com sentido na conversa estruturada, na resposta, na observação adequada, no vocabulário que se enriquece. Tudo isso misturado com o quero e não quero, gosto e não gosto. O rosto mais fechado quando algo não lhe agrada, ou o sorriso presenteiro sempre que satisfazem o que pretende. Já enfreniza os avós, parecendo contradizê-los, e quando estes refilam logo se sai com resposta pronta e um sorriso: “estava a brincar”. Ao pai dá “mais cinco” quando nas “marotices” estão de acordo, à mãe faz mimos de outro jeito, com mais abraços de peito. Gosta de toda a família ao seu jeito, mas tem uns tios e uma irmã emprestados, que ama de forma especial, que o apaparicam e são uma espécie de complemento familiar dos afectos, que o ajudam no seu crescer e alimentar projectos. Seleciona os amigos, como se adulto fosse e não permite demasiados abusos quando na brincadeira as regras têm de se cumprir.
A dança é agora a sua paixão maior, a todo o momento rodopia e faz trejeitos como um baiarino precoce, mostrando seus dotes.
Neste seu evoluir e crescimento estamos orgulhosos do que vamos conseguindo e do muito que ele nos enriquece. Tudo se vai combinando nos dias que vão passando, ele crescendo e nós minguando.
Hoje é o teu aniversário e dividimos a alegria contigo.  Foi bom teres nascido, é bom estares nas nossas vidas.

É agora a minha vez de ficar sem palavras para te explicar o quanto importante és.

Beijinhos e um abraço apertado.

dc

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

as flores existem




As flores existem, morrem e renascem, premeiam-nos com os seus cheiros e cores, estejam presentes ou ausentes. Sempre me agradou receber flores, não importa muito quem as envia, ou se pronunciam amizade ou amores. No entanto no meu jardim, a minha flor é única, no cheiro, na beleza da sua forma, na riqueza da sua cor. Sei que desperta sentimentos vários a quem a observa e não me preocupo, até me orgulho, para mim ela será sempre única, pelo que me conforta, pelo prazer que me proporciona, pelo aconchego nas minhas emoções. Se ela própria não tem a noção, de tão humana razão, nem percepciona as emoções que eu tenho ao observá-la, paciência, porque quem ama tem sempre o prazer de sentir, e ela, o vazio do que se ignora.

dc

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

E disse




E disse:

Vem traz contigo a esperança, a vontade de ficar, a certeza do teu querer.
Quando chegares, não tragas a pressa, nem a vontade de partir.
Não corras contra o tempo, deixa o tempo correr sem dimensionar urgência ou demora.
O teu tempo é teu e será sempre teu, sempre farás dele o que entendes.
Ninguém é melhor, ou pior, é somente diferente naquilo que sonha e valoriza
Dá-te como és e espera encontrar, no outro, aquilo que desejas que seja.
Se assim for o teu tempo será sempre o tempo dos dois.  


dc

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Armadilha do amor




olhei os seus lábios,
o desenho da sua boca
a m
ão no peito pousada.
de tudo o que eu via,
tudo me prendia e fascinava.
era o beijo suspenso,
o encanto do seu sorriso,
a caricia que no olhar se exprimia
e a ternura, essa, me derretia.

o tempo ali não aconteceu,
as palavras n
ão surgiram,
fiquei preso ao seu jeito.
arfava, saltava o coração do peito,
minha estrutura estremecia,
era a armadilha do amor
que na minha vida acontecia.


dc