quinta-feira, 6 de abril de 2017

Será a estória real...


Deixai-me agora senhores contar
Uma estória de pasmar...



Deixou a máquina a lavar
Roupa com detergente e a girar
E a máquina trabalhando,
Umas vezes depressa, outras devagar
Toda ela tremia nas suas voltas
Com a água que expulsava
E com a água que entrava.
Vendo-a em ritmo de kizomba
Deixou-a e foi passear.
A máquina a solo tudo fez,
Lavou roupa partiu o chão,
Partiu a mármore do balcão,
Foi pelo ar e na rua caiu
E em mil peças se partiu.
A roupa por todo o lado se espalhou
Cuecas, camisas, camisolas, calções,
Calças, calcinhas e toalhões
Nem uma peça, por perto restou
Ainda estou para saber
Afinal o que se passou.
Será a estória real,
Ou meu cérebro a inventou?


dc


quarta-feira, 5 de abril de 2017

As palavras pesam




Beijei os lábios molhados das lágrimas, que em seu rosto corriam. Eu sei, é pena termos de partir quando queremos ficar. No entanto, não dá para acreditar que tudo se emenda com diálogo, sabendo nós, que foram as palavras que nos afastaram. Não as palavras propriamente, mas aquilo que elas significaram. Palavras ditas pela mesma boca que nos beija, escondendo a verdade, magoam-nos tão fundo que não há lágrimas que as apaguem. As palavras só revelaram aquilo que se encontrava submerso à largo tempo, a ilusão de que tudo estava certo, misturado com a necessidade de passar ao outro a responsabilidade das atitudes menos correctas que assumiu, e assim justificar o seu próprio comportamento. Numa espiral de enganos e de mentiras fica difícil saber em que lugar no meio de tudo, algum dia a palavra amor teve algum sentido. É inevitável partir, não faz sentido ficar, o beijo não tem o salgado das lágrimas da alegria, da felicidade, é molhado pela tristeza da perda de saber que será uma partida sem retorno.



dc

domingo, 2 de abril de 2017

Passo de dança




Sinuoso
o corpo se move,
ao som que o agita,
à música que toca
à alma que grita

É do amor que fala,
do amor que não cala
que dentro de si cresce
e a face enrubesce,

Nos seus passos
segue num louco rodar
presa aos seus braços
se deixa levar

Dança o corpo
e a alma com seu amor
dança de encantamento
no desabrochar da flor

Voam no raso chão
como quem levita
na força da emoção
que em seu peito habita

Uma perna se cruza
outra que se avança
ela não se recusa
e vai mais uma dança

Três passos dados
termina a dança e seu rodar
restam os olhares trocados
para a mente guardar

A respiração é ofegante
no pulsar dos corações
vivendo o instante
e as suas emoções.

Se o relógio parasse
congelando o momento
era como se fixasse
uma imagem no tempo.



dc


sexta-feira, 31 de março de 2017

Toda a rosa...




Sei que o deixaste percorrer o caminho das sombras para que não tivesses de te comprometer. Fazias sempre um longo silêncio, para que a tua voz não se instala-se como hábito. Não falavas de ti para que não se descobrisse, qual a realidade por baixo das palavras e das estórias efabuladas.
A vida é mais que o retrato espelhado da realidade, vai mais fundo, fura-nos as entranhas e deixa-nos agoniados, na injustiça e mentira que se faz presente, na voz dos que nos dizem amar.


dc

segunda-feira, 27 de março de 2017

Quebrar as rotinas




O cumprir as rotinas em muitos momentos da nossa vida, é muito importante, mas em muitas outros fazem-nos correr perigos. A rotina adormece os sentidos, faz-se o que tem de ser feito, porque sempre se fez e é necessário que alguém faça, e esse alguém temos de ser nós, pelo menos é a nossa convicção. As rotinas são alimentadas por rituais, que as tornam ainda mais rotinas, e menos capacitam as pessoas para estarem atentas ao que se passa à sua volta e para a mudança. Na rotina nos escondemos, evitando pensar e arriscar, na rotina nos mantemos, sempre esperando que algo mude por si próprio. Há casos em que dentro de si as pessoas escondem um guerreiro e vontade de aventura, mas esperam pela motivação que demora a chegar, ou então um dia pelo cansaço de tanta rotina, salta-lhes a “tampa”, mandando tudo à fava. Nesse dia darão uns quantos saltos, duas piruetas, quatro mortais, e pularão a cerca, depois, esborrachar-se-ão no chão porque fizeram o salto à toa e fora de tempo. Tanto se adia o fim de algumas rotinas, que quando vão executar as mudanças, já perderem o sabor e já estão a quilómetros de distância das expectativas criadas. O que vai acontecer? Voltarão à rotina, porque saíram dela e pensam que não resultou, ou só uma parte se aproveitou, esquecendo-se que sair da rotina, por si só, já é um êxito.
Quebrar as rotinas, trás a surpresa do inesperado, refresca, provoca alterações na estrutura mental e física, permite-nos a avaliação do que nelas é importante e o que devemos manter ou não, e que novas soluções a preconizar.
Sabemos que há uns quantos que nos querem mostrar como retrógrados, dizendo que não têm rotinas, o que na maioria dos casos não é verdade, a ausência de rotinas é uma rotina em si, provavelmente bem pior que a dos outros que as têm. Por isso, é importante que saibamos ter as nossas rotinas e estar atento à necessidade de as quebrar de quando em vez, não deixar que o “mofo” lhes pegue pois corremos o risco do desperdício de tempo sem qualquer ganho e sem evolução.


dc