quinta-feira, 14 de setembro de 2017

A Ponte




A vida é o rio que atravesso
Numa ponte sem fim
E nela me confesso
Se vale a pena ser assim

Tem o desgaste do tempo
E fragilidade na estrutura
Com este corpo que sustento
Atravessá-la é minha loucura

Sem temor vou sozinho
Com a neblina no horizonte
Sem me afastar do caminho
Tento entender a razão da ponte.

dc





quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Tem dias..




Talvez devesse confessar que me fazes falta, de que as tuas mãos ainda são a chama de que se lembra o meu corpo, que a suavidade dos teus lábios, a humidade da tua língua na minha pele ainda permanece latente.
Sinto a tua falta todos os dias, desde de o acordar ao anoitecer, Sem apelar à memória, és presença que interrompe os minutos que decorrem. Uso todos os álibis possíveis para me esconder das memórias, banho-me, desgasto-me física e mentalmente em disparates, entretenimentos supérfluos, leio,  tresleio, prendo as imagens que passam perante os olhos, no entanto tudo se entrelaça em fundidos da tua imagem sobrepondo-se à realidade. Na impossibilidade de te ter, de nos termos, de te ouvir, nos escutando, do possuir, nos possuindo, de te olhar olhando-nos, vou-me definhando da vida deixando que ela se assegure da transformação, me torne um espaço vazio, sem emoções, um corpo como tara perdida.
Escrevo, sabendo que não chego perto de ti, nem lerás o que escrevo, mas ficará no registo da memória futura e te fará perceber um dia, que o amor entre nós era muito mais do que descrevemos na superfície das coisas, nem pode ser explicado em linguagem técnica de psicólogo.

dc




segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Murais na cidade



Olho as frases “escritas” nos muros, perdem-se da alma que as escreveu e se entregam a quem passa. Não são inocentes, alguém quis dividir, dizer em “voz alta”, fazer-se ouvir. Nem sempre são grotescas, na maioria falam de quem as escreveu, o que o preocupa, o que quer que seja ouvido. Talvez um alerta, a alguém, ou "alguéns" que circulam indiferentes, ao que vivem, ao que os rodeia, ou simplesmente o gozo da performance. Tem frases moralistas, tem frases com conceitos e muitas outras cheias de humor, Por vezes são as palavras, por vezes os desenhos, a linguagem para dizer.  Na sua ânsia de comunicação, não raro, usam paredes e incomodam seus donos, mas um grafiteiro não pensa nisso, só pensa no seu trabalho e no melhor “spot” para grafitar e no modo como chegar aos outros. Impressiona a facilidade(?) com de desenham e como comunicam com toda a riqueza da sua linguagem.
Há os que merecem critica, pela sua intenção de destruir, de imitar e mal, ou somente, de forma anárquica sujarem um espaço, Esses não merecem paredes nuas nem lugar para se expressarem. Aos outros, de alma limpa e criativa, tiro o meu chapéu, admiro seu trabalho, gostaria de os ver criando as suas maravilhas nessas paredes bizarras, nuas, desperdiçadas, que pelas cidades escurecem a alegria e tornam pesado o nosso habitar.

dc



O vocabulário do Graffit
Publicado em 21 de maio de 2009 por Alice Souza

O Graffiti possui uma terminologia própria e por ter nascido nas ruas da Filadélfia e de Nova Iorque, o vocabulário dos grafiteiros é recheado de termos em inglês.
Para se aprofundar e entender um pouco mais obra e criador (graffiti e grafiteiro) se faz necessário conhecer alguns dos termos usados por eles.
E que fique claro que é perfeitamente possível que esta lista não esteja completa, visto que – ainda – não somos profundos conhecedores do assunto.
Fiquem a vontade pra completá-la…

WRITER – Grafiteiro, praticante da arte de graffiti, escritor urbano.
BITER – Aquele que copia o desenho ou até mesmo o estilo dos outros writers.
PIECE – Graffiti feito por um writer, onde se usa mais de 3 cores.
MURAL, PRODUÇÃO, SPOT – Feita por um writer ou uma crew. Envolve no mínimo 2 pieces e alguns bonecos.
CREW – Grupo de grafiteiros.
TOY – Expressão utilizada para indicar um principiante ou alguém que grafita apenas por moda.
SPOT – Lugar onde é praticada a arte do grafitismo
FAME – Aquele que já tem o trabalho reconhecido pelos outros grafiteiros.
ALL CITY – é considerado aquele que escreve por toda cidade, ou pelo país. Pode se referir a um writer individualmente ou uma crew.
ROLL CALL – Assinar o nome de todo mundo do crew depois de ter feita um produção.
WILDSTYLE – Um estilo complicado, com letras entrelaçadas entre si. É considerado um dos estilos mais difíceis de fazer.
BACKGROUND – Fundo de um piece ou de uma produção.
FILL – Preencher, pintar o piece.
TAG – Assinatura do nome ou apelido do grafiteiro.
TAGGING UP – Tagear algum lugar difícil.
BOMB – Graffiti rápido ou ilegal, geralmente feito na noite.
BOMBER – quem faz o bomb.
BOMBING – Sair pra fazer graffiti ilegal.
FREE STYLE – trabalho livre, improvisado.
STICKERS – Adesivos que foram produzidos e taggiados antes.
THROW-UP – Vomito, estilo simples de letra, usado nos bombs. Geralmente feito em duas cores.
GOING OVER – Largar fora, fugir, correr da policia.
BUBBLE LETTERS – Tipo, estilo de letras em forma de bolha.
BACK TO BACK – Muro preenchido de ponta a ponta.
WHOLE CAR – Um lado do trem ou carro pintado completamente.
INSIDES – Tagear, bombardear os trens, ônibus etc. por dentro.
WINDOW DOWN – Piece feito pela janela de um trem ou ônibus.
BUFF – Termo usado quando se remove o piece ou bomb.
BONECO – desenho que representa figura humana.
PIECEBOOK – O livro com sketchs do writer.
OUTLINE – Desenho feito em piecebook, sketch.
CAP – Bico do spray do qual depende o traço… Pode ser fino (SKINNY) ou grosso (FAT).
FAT – Linha grossa, feita com Fat Cap.
MARKER – Marcador, pincel atômico.
HOMEMADE – Caseiro, é relacionado aos marcadores ou vídeos.
HOMEMADE INK – Tinta pra marcador feita em casa.
GRIFFIN – Feltro, usado na construção de marcadores caseiros.
FANZINE – Uma mini revista de graffiti, sem fins lucrativos, apenas pra divulgar e divertir.
FLICKS – Fotos. Também “flick” (singular) e “flix” (plural).
RACK – Roubar tinta ou marcadores.




domingo, 3 de setembro de 2017

Na praia a sós.




Embora procure as praias menos frequentadas, os sítios mais ermos e límpidos do areal, não há como fugir, há pessoas que se colam, parecem temer estar sós. Chegam e logo se instalam com a sua toalha, e todas as outras tralhas, junto ao espaço onde nos encontramosm, mesmo que à sua volta abunde areal. Muitas vezes, deixo a toalha a tomar conta de um espaço, onde procuro (não) estar, e vou caminhar pelo areal, fugindo da aglomeração. Ao fazê-lo, deixo-me seduzir visualmente com o mar, ouvindo toda aquela orquestra de sons que o agita. Só nós, eu e ele nos entendendo. Ele mostrando seu poder, a sua alegria, a sua frescura, a sua cor, eu, somente sentindo a chuva do rebentar das ondas, que esparramam pelo areal, e “ouvendo”as gaivotas sobrevoando na agitação, como coro um de orquestra. As pernas se movem, os pés se enterram na areia macia, num caminhar lento sem destino, num vazio de reflexão, uma ausência que o meu cérebro encontra sem esforço,
Por opção, escolho as chamadas horas mortas para estar na praia. Na parte da manhã, bem cedo, sentindo ainda a humidade da noite no areal e não permanecendo muitas horas, depois, ao fim da tarde, para aproveitar o regresso de todos os outros as suas casas e ficar a sós no areal extenso, com a companhia do sol que se vai deitando no mar. Nessa altura deixo-me envolver com o mar, o areal vazio e os sons do ambiente libertando o pensamento para divagar, ausentando-me, perdendo a noção de tempo e espaço.
O mar tem a força que me amedronta, a imensidão que me cativa, a sedução do seu ondular, a riqueza cromática feita de fiadas de espuma branca desenhando limites à sua tonalidade azulada demarcando-se do areal.
O mar é um bem maior, que me absorve totalmente, me deixa mais despido do que nunca, Um nudismo revelado do corpo, dos preconceitos, desejos ou vontades, É um flutuar do eu, num regressar às origens do ventre materno e seus ruídos filtrados no liquido amniótico.
Adoro aqueles momentos deitado ou sentado, fico no areal lendo, lendo, absorvido pelas palavras e pelo ambiente que me acompanha. Tem momentos, em alguns fins de tarde, que me sinto fora deste mundo, numa outra dimensão, que não esta onde habito, como se estivesse a renascer de um mundo destruído, E tem outros, em que entro numa espécie de abstração, um estado de “Alzheimer”, que me faz superar, todas as agruras que riscam a pele da vida que vivemos.
Nunca arrisquei viver muito longe do mar, acho que sentiria uma espécie de claustrofobia, sentir-me-ia sufocar, não de falta de ar ou afogamento, mas de tristeza.


dc